São Paulo, sábado, 08 de outubro de 2011

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RITA SIZA

Casa cheia


Não conheço muito o Santa Cruz, mas posso especular que seu pessoal se sente bem em casa

Voltando ao ASSUNTO do público nos estádios, que abordei há umas semanas, quero deixar os meus parabéns ao Santa Cruz, o clube do Recife que joga na quarta divisão e que, segundo apontam estatísticas divulgadas esta semana na imprensa, tem a maior média de assistência por jogo em todo o Brasil, de janeiro até setembro.
Aparentemente, de cada vez que joga em casa, o Santa Cruz tem uma média de 33.450 espectadores pagantes -imagino que não sejam todos mulheres e crianças, como na inédita casa lotada dos turcos do Fenerbahce do outro dia. Aliás, suspeito que a maioria sejam homens e adultos, mas o fato não deixa de ser extraordinário.
O extraordinário começa logo por um clube da quarta divisão ter um estádio com capacidade para 60 mil espectadores, como li nas notícias (a Wikipedia informa-me que, no Arruda, cabem 63 mil).
E prossegue depois, pela constatação de que metade das arquibancadas está sempre repleta, mesmo quando o time não concorre com nenhum adversário que arrasta multidões. Antes de decretar a vergonha para Corinthians, Flamengo ou Bahia, todos times de cidades maiores que Recife e uma média menor de espectadores, é preciso ressalvar que a estatística reflete uma situação de relativa "anormalidade", uma vez que a realização de obras no Maracanã, no Palestra Itália ou no Mineirão levaram a uma diminuição dos lugares disponíveis para torcedores.
Mesmo assim, há que declarar o mérito do Santa Cruz. Confesso que nunca tinha ouvido falar do clube. Sei agora que é quase centenário, que foi o primeiro time de Pernambuco a aceitar negros, que foi o primeiro clube brasileiro a cair da primeira para a quarta divisão em só três anos e que a mascote é uma cobra coral. Sei que a subida de escalão está iminente, dependente de um resultado positivo contra o Treze da Paraíba -um jogo que a "nação das três cores" vai disputar em casa.
Mas não sei se o Arrudão é bem acessível ou fica num lugar longínquo, se o estádio oferece boas condições em termos de conforto e segurança para os adeptos ou se está já machucado pelo tempo, se a equipa joga um futebol empolgante ou tem sucesso só por causa da defesa -ou da sorte.
Há várias razões para os estádios estarem cheios ou vazios. As variáveis são inúmeras e podem combinar-se quase infinitamente. O preço dos ingressos pode ser um factor relevante numa conjuntura de crise económica, e a performance do time pode ser mais ou menos importante. Sem elementos que me possam valer, só posso especular que o pessoal do Santa Cruz se sente bem em casa. De todas as razões possíveis, acho que esta é a melhor.



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