São Paulo, domingo, 08 de novembro de 2009

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África cumpre, mas gasta mais

Arenas para a Copa-10 já estão prontas, mas a um custo quase 700% maior ao previsto inicialmente

Organização põe culpa em reivindicações trabalhistas, desvalorização da moeda local e reajuste de preços de material de construção

Paulo Cobos/Folha Imagem
O estádio Green Point, na Cidade do Cabo, que teve seu custo total triplicado ao final das obras

PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL À ÁFRICA DO SUL

A desconfiança de boa parte do mundo sobre a capacidade da África do Sul organizar a Copa de 2010 vai ficar para trás -os dez estádios já estão prontos ou nos arremates finais.
Mas isso vai custar muito mais do que o previsto em 2004, quando o país foi indicado para sediar o Mundial e previa gastar o equivalente a R$ 516 milhões nas arenas.
Em 2006, quando começou a maioria das obras, esse valor saltou para R$ 1,91 bilhão. Agora, deve ficar, no mínimo, em R$ 3,9 bilhões, um crescimento de quase 700% em relação ao previsto inicialmente.
Três estádios (Soccer City, em Johannesburgo, Green Point, na Cidade do Cabo, e Moses Mbombela, em Durban) tiveram custos unitários que superaram o que se planejava investir em todas as obras.
Essas arenas estão entre as que mais contribuíram para o estouro nos gastos. O Green Point, por exemplo, vai custar quase o triplo que o previsto.
Para justificar a explosão nos gastos, os organizadores culpam a variação do rand, a moeda local, o reajuste do preço do material de construção e as várias greves dos operários.
Mas é fato também que o lucro das empreiteiras envolvidas nas construções, muitas delas associadas a empresas europeias, especialmente alemãs, dispararam depois do começo das obras, chegando em alguns casos a mais de 100%.
As reivindicações salariais dos operários ficaram muito abaixo da diferença entre o previsto inicialmente e o custo final de cada obra.
Em três anos, seu reajuste foi menor que 30%, e a maioria dos trabalhadores recebe pouco mais de R$ 500 mensais.
Fora o custo, os sul-africanos se orgulham das obras nos estádios. Primeiro, pelo tempo que elas demoraram. As maiores arenas ficaram prontas em 36 meses, ou apenas dois meses a mais do que o planejado. Lembram, com orgulho, que o novo estádio de Wembley, em Londres, demorou mais de seis anos para ficar pronto.
O país ainda se orgulha do fato de as obras transcorrerem com segurança para seus operários. Na entrada do Soccer City, em Johannesburgo, uma placa celebra o fato de já serem mais de 1,5 milhão de horas trabalhadas sem acidentes graves.
Missão mais difícil, entretanto, parece ser evitar que esses estádios não se transformem em elefantes brancos.
Johannesburgo tem, além do Soccer City, o campo de Ellis Park, que também será usado na Copa, e o moderno estádio do Orlando Pirates, um dos principais clubes da cidade.
Em Durban, o Moses Mbombela foi erguido ao lado do estádio do time de rúgbi local, que já comunicou que não vai se transferir para a nova arena.
"Nosso estádio não vai virar um elefante branco. Após a Copa, ele será reduzido e vamos procurar eventos", afirma Calvyn Gilfellan, responsável pelo marketing da Cidade do Cabo na Copa de 2010.


O jornalista PAULO COBOS viajou a convite do Grupo Águia


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