São Paulo, domingo, 08 de novembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Maracanã caminha para engolir R$ 1 bi

Arena, que já consumiu R$ 300 milhões em reformas, tem custo previsto de R$ 430 mi para se adaptar para a Copa-14

Se nova remodelação do estádio estourar previsão, algo que ocorreu com o Engenhão, gasto do Estado pode atingir cifra bilionária

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

A secretária estadual de Turismo, Esporte e Lazer do Rio, Márcia Lins, afirmou em maio que, sem empresas privadas conduzindo a nova reforma do Maracanã, a arena não receberia jogos da Copa de 2014. "Assinei um documento [garantindo] que até 31 de dezembro já vou ter que ter obrigatoriamente esse ator privado escolhido."
E se não tiver?, indagou a Folha. "[O Maracanã] não será sede [do Mundial]", disse. Pois o governo abandonou o projeto de PPP (parceria público-privada) e bancará integralmente a obra prevista em R$ 430 milhões, na qual, antes, prometia desembolso público zero.
O que o governador Sérgio Cabral não informou, no anúncio da sexta retrasada, foi que o custo aos cofres públicos das reformas iniciadas em 1999 chegará pelo menos a R$ 730 milhões, contando os R$ 300 milhões consumidos até 2008.
O Engenhão, estádio municipal construído para o Pan de 2007, na origem sairia por R$ 60 milhões. O preço final foi de R$ 380 milhões, salto de 533%.
Se a nova remodelação do Maracanã estourar a previsão em 63%, o Estado terá despendido R$ 1 bilhão -valor nominal, sem inflação- de 1999 a dezembro de 2012, prazo previsto para o fim da obra.
Por R$ 730 milhões, o Estado quase poderia erguer os novos estádios de Frankfurt, Hamburgo e Leipzig, palcos da Copa-2006 na Alemanha -juntos, custaram R$ 780 milhões.
Com R$ 870 milhões, fez-se a Allianz Arena de Munique, o estádio moderníssimo que parece envolto por um pneu.
A reforma do estádio olímpico de Berlim recebeu R$ 620 milhões. Além do futebol, o local abriga competições de atletismo, ao contrário do Maracanã. Na Olimpíada de 2016, o atletismo será disputado no Engenhão, que exigirá mais dinheiro para a ampliação.
O PAC das Favelas, com repasse federal e estadual, prevê recursos de R$ 942 milhões.
Cabral disse que a PPP foi cancelada por falta de fundo garantidor do Estado para socorrer, se necessário, o consórcio privado que assumiria a reforma do Maracanã em troca da exploração por 35 anos. As empresas teriam desistido.
O Estado conta com financiamento do BNDES de até R$ 400 milhões. Portanto verbas públicas do RJ pagarão a obra.
Com juros, a quantia ultrapassará os R$ 400 milhões. Pronto, o novo Maracanã será, ainda assim, entregue à gestão privada, antecipou o governo.
A mudança dos planos desenhados em 2007 contrasta com pareceres expostos em audiência pública preparatória da PPP, no dia 4 de setembro.
Segundo a ata, a secretária Márcia Lins afirmou, comparando com o Maracanã, que há "investimentos muito mais sociais e importantes também do ponto de vista da população".
O subsecretário estadual de Programas Especiais da Secretaria de Planejamento, José Eduardo Castelo Branco, enfatizou a PPP: "Ninguém vai embarcar num processo complexo como esse (...) sem que antes tenha havido um estudo de pré--viabilidade. Senão, vai-se gastar dois anos de estudo e, depois, chegar à conclusão de que o negócio é inviável".
O procurador Rafael Rolim, da Procuradoria-Geral do Estado do Rio, anotou: o Estado "não teria como comportar esses vultosos investimentos".
Carlos Gondim, da Booz & Company, consultoria que modelou a PPP: "O Estado não tem a intenção de considerar aportes de recursos, primeiro porque já fez aportes muito elevados em reformas passadas e segundo porque existe uma série de prioridades onde o governo precisa fazer investimentos".
O governo não identificou a origem das verbas para reembolsar o BNDES. Prometeu licitar, como a lei impõe, a escolha das construtoras que tocarão a obra. No mercado, estima-se que a urgência possa levar a contratos em que, no caso de prazo apertado, a legislação dispensa licitação. O Maracanã deve sediar a final da Copa.





Texto Anterior: Tostão: Competir é perigoso
Próximo Texto: Governo do RJ silencia sobre a mudança
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.