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Maracanã caminha para engolir R$ 1 bi
Arena, que já consumiu R$ 300 milhões em reformas, tem custo previsto de R$ 430 mi para se adaptar para a Copa-14
Se nova remodelação do estádio estourar previsão, algo que ocorreu com o Engenhão, gasto do Estado pode atingir cifra bilionária
MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO
A secretária estadual de Turismo, Esporte e Lazer do Rio,
Márcia Lins, afirmou em maio
que, sem empresas privadas
conduzindo a nova reforma do
Maracanã, a arena não receberia jogos da Copa de 2014. "Assinei um documento [garantindo] que até 31 de dezembro já
vou ter que ter obrigatoriamente esse ator privado escolhido."
E se não tiver?, indagou a Folha. "[O Maracanã] não será sede [do Mundial]", disse. Pois o
governo abandonou o projeto
de PPP (parceria público-privada) e bancará integralmente
a obra prevista em R$ 430 milhões, na qual, antes, prometia
desembolso público zero.
O que o governador Sérgio
Cabral não informou, no anúncio da sexta retrasada, foi que o
custo aos cofres públicos das
reformas iniciadas em 1999
chegará pelo menos a R$ 730
milhões, contando os R$ 300
milhões consumidos até 2008.
O Engenhão, estádio municipal construído para o Pan de
2007, na origem sairia por R$
60 milhões. O preço final foi de
R$ 380 milhões, salto de 533%.
Se a nova remodelação do
Maracanã estourar a previsão
em 63%, o Estado terá despendido R$ 1 bilhão -valor nominal, sem inflação- de 1999 a
dezembro de 2012, prazo previsto para o fim da obra.
Por R$ 730 milhões, o Estado
quase poderia erguer os novos
estádios de Frankfurt, Hamburgo e Leipzig, palcos da Copa-2006 na Alemanha -juntos,
custaram R$ 780 milhões.
Com R$ 870 milhões, fez-se a
Allianz Arena de Munique, o
estádio moderníssimo que parece envolto por um pneu.
A reforma do estádio olímpico de Berlim recebeu R$ 620
milhões. Além do futebol, o local abriga competições de atletismo, ao contrário do Maracanã. Na Olimpíada de 2016, o
atletismo será disputado no
Engenhão, que exigirá mais dinheiro para a ampliação.
O PAC das Favelas, com repasse federal e estadual, prevê
recursos de R$ 942 milhões.
Cabral disse que a PPP foi
cancelada por falta de fundo garantidor do Estado para socorrer, se necessário, o consórcio
privado que assumiria a reforma do Maracanã em troca da
exploração por 35 anos. As empresas teriam desistido.
O Estado conta com financiamento do BNDES de até R$
400 milhões. Portanto verbas
públicas do RJ pagarão a obra.
Com juros, a quantia ultrapassará os R$ 400 milhões.
Pronto, o novo Maracanã será,
ainda assim, entregue à gestão
privada, antecipou o governo.
A mudança dos planos desenhados em 2007 contrasta com
pareceres expostos em audiência pública preparatória da
PPP, no dia 4 de setembro.
Segundo a ata, a secretária
Márcia Lins afirmou, comparando com o Maracanã, que há
"investimentos muito mais sociais e importantes também do
ponto de vista da população".
O subsecretário estadual de
Programas Especiais da Secretaria de Planejamento, José
Eduardo Castelo Branco, enfatizou a PPP: "Ninguém vai embarcar num processo complexo
como esse (...) sem que antes
tenha havido um estudo de pré--viabilidade. Senão, vai-se gastar dois anos de estudo e, depois, chegar à conclusão de que
o negócio é inviável".
O procurador Rafael Rolim,
da Procuradoria-Geral do Estado do Rio, anotou: o Estado
"não teria como comportar esses vultosos investimentos".
Carlos Gondim, da Booz &
Company, consultoria que modelou a PPP: "O Estado não tem
a intenção de considerar aportes de recursos, primeiro porque já fez aportes muito elevados em reformas passadas e segundo porque existe uma série
de prioridades onde o governo
precisa fazer investimentos".
O governo não identificou a
origem das verbas para reembolsar o BNDES. Prometeu licitar, como a lei impõe, a escolha
das construtoras que tocarão a
obra. No mercado, estima-se
que a urgência possa levar a
contratos em que, no caso de
prazo apertado, a legislação
dispensa licitação. O Maracanã
deve sediar a final da Copa.
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