LUCAS REIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Cinco dias antes de o presidente Lula autorizar a abertura de linha de crédito do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para a construção ou a reforma de estádios da Copa, uma cidade do interior de São Paulo exibia uma arena em condições de receber o Mundial. Com dinheiro público.
Com investimento de cerca de R$ 20 milhões do governo federal, a Prefeitura de Araraquara (273 km de São Paulo) reformou o estádio da Fonte Luminosa e o modernizou, com 23 mil cadeiras cobertas e padrões da Fifa. Mas que passará longe da Copa: a principal beneficiada, a Ferroviária, time local e ex-dona do estádio, jogará em 2010 a modesta Série A-3 do Paulista.
A verba da reforma foi obtida em 2007 pelo então prefeito Edinho Silva (PT), que meses depois assumiria a presidência estadual do partido.
"O Ministério do Esporte também liberou recursos para outros municípios que não têm ligação com o PT. Conseguimos a verba porque apresentamos um projeto convincente", declarou o ex-prefeito.
As pretensões de Araraquara para o estádio são grandes. Com aval da FPF (Federação Paulista de Futebol), quer oferecê-lo a times grandes e até mesmo para uma seleção, na preparação para a Copa-2014. Mais: no dia 21, receberá um show de Roberto Carlos.
A prefeitura deu uma contrapartida de R$ 5 milhões para viabilizar a obra e agora calcula gastos mensais de R$ 11 mil só para manutenção do gramado. Para evitar que a obra se torne um "elefante branco", o atual prefeito, Marcelo Barbieri (PMDB), aposta na modernidade da obra.
"Qual estádio em São Paulo é 100% coberto e 100% com cadeiras individuais e não tem fosso nem alambrado? Todos os níveis de exigência da Fifa e do estatuto do torcedor foram atendidos", disse o prefeito, que planeja taxar em 10% da renda o valor do aluguel.
A Arena da Fonte foi reinaugurada em 22 de outubro, com festa e Ferroviária x Ituano, pela Copa Paulista de Futebol. Na inauguração, o presidente da FPF, Marco Polo Del Nero, afirmou que o estádio é o "mais moderno e confortável" do Estado.
Apesar da pompa, a Ferroviária não se diz seduzida. O estádio foi cedido à prefeitura em 2005 em troca de dívidas. Sem poder administrar o local, a Ferroviária teme depender da prefeitura para utilizá- -lo. "Nós mandaremos lá nossos jogos, mas agora dependemos da prefeitura para isso", disse o presidente do clube, Welson Alves Ferreira Júnior.


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