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FUTEBOL
Sem moleza
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Enganou-se redondamente
quem esperava que o Cruzeiro e o Santos, instalados nos tronos de campeão e vice do Brasileirão, fossem facilitar a vida do Fluminense e do Grêmio, ameaçados de rebaixamento.
Vi Santos 2 x 2 Grêmio pela TV,
cercado de amigos gremistas. Foi
ao mesmo tempo dramático e divertido.
Dramático porque, a cada lance
de perigo, meus amigos roíam as
unhas, fechavam os olhos, rogavam pragas.
Divertido pelos comentários
que faziam a cada ataque santista: "Pô, de onde saiu tanta gente
de branco?", ou "Não pode encostar no Diego que ele cai", ou "Esse
demônio está em toda parte".
O demônio era Robinho. Claro
que, quando ele foi expulso, todos
vibraram, até porque a expulsão
de Baloy foi considerada uma
vantagem suplementar para o
Grêmio. "Seria bom se tivessem
saído os dois no primeiro tempo."
O fato é que, adotando o ponto
de vista do adversário, foi mais
fácil aquilatar o poderio e as fraquezas do Santos.
Cada ataque em bloco santista
coloca em polvorosa os oponentes, porque o perigo vem de todos
os lados. Ora Robinho cai pela esquerda e cruza para trás, ora Diego tabela com Renato e surge na
cara do gol, ora é Léo que tabela
com Robinho e cruza para William ou Douglas.
O técnico Adilson Batista pôs
Leanderson para colar em Robinho, mas este passou a jogar pela
direita e pelo meio, desnorteando
a marcação. Só no meio do segundo tempo voltou à ponta esquerda, mas sem a mesma eficiência.
Por outro lado, a retaguarda
santista continua vulnerável. Um
Paulo Almeida lento e faltoso,
uma dupla de zaga por vezes afoita e mal posicionada, laterais que
freqüentemente descem ao mesmo tempo para o ataque -tudo
isso abria brechas para os contragolpes gremistas, como aquele
que resultou no gol de Christian.
E se o centroavante gremista
não tivesse sentido uma lesão,
certamente o Santos correria
mais riscos no segundo tempo.
Do lado gremista, foi comovente ver a fibra com que atletas como Tinga, Roger e Gavião se entregavam à disputa com um rival
francamente superior, em termos
técnicos. Como se diz no Sul, "não
está morto quem peleia". O Grêmio está aí para provar.
Do jogo do Mineirão, só vi os
gols. Aliás, a virada espetacular
do campeão foi providencial para
Gomes. Se o Cruzeiro perdesse em
casa no dia em que recebeu as faixas e a taça, o que ficaria na memória do público seria o tremendo frango que o jovem goleiro tomou no primeiro tempo.
Felizmente, o que ficou marcado na lembrança de todos foi o segundo gol cruzeirense, o primeiro
de Alex, que encobriu lindamente
o goleiro Kléber.
O fato de o golaço de Alex ter
vindo logo depois da saída do
contundido Romário tem algo de
simbólico. São os dois maiores
craques que sobraram no país.
Um do passado, outro do presente
e, oxalá, do futuro.
Devagar com o andor
Na ótima matéria sobre Dagoberto que foi publicada na revista "Placar" deste mês, Altair
Santos faz uma referência simpática a um comentário desta
coluna. Mas devo fazer um reparo: não comparei Dagoberto
a Maradona, e sim um gol específico de Dagoberto a um gol
específico de Maradona. O garoto do Atlético-PR é excelente,
mas ainda está muito longe do
"Pibe de Oro".
Competência
Não foram os gols mais bonitos
da penúltima rodada, mas
mostraram o que é o ofício de
artilheiro: o do gremista Christian contra o Santos e o do são-paulino Diego Tardelli contra o
Internacional. Ambos atacantes mostraram força, técnica,
rapidez e objetividade. Precisa
mais?
E-mail: jgcouto@uol.com.br
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