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São Paulo, segunda-feira, 08 de dezembro de 2003

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FUTEBOL

Sem moleza

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Enganou-se redondamente quem esperava que o Cruzeiro e o Santos, instalados nos tronos de campeão e vice do Brasileirão, fossem facilitar a vida do Fluminense e do Grêmio, ameaçados de rebaixamento.
Vi Santos 2 x 2 Grêmio pela TV, cercado de amigos gremistas. Foi ao mesmo tempo dramático e divertido.
Dramático porque, a cada lance de perigo, meus amigos roíam as unhas, fechavam os olhos, rogavam pragas.
Divertido pelos comentários que faziam a cada ataque santista: "Pô, de onde saiu tanta gente de branco?", ou "Não pode encostar no Diego que ele cai", ou "Esse demônio está em toda parte".
O demônio era Robinho. Claro que, quando ele foi expulso, todos vibraram, até porque a expulsão de Baloy foi considerada uma vantagem suplementar para o Grêmio. "Seria bom se tivessem saído os dois no primeiro tempo."
O fato é que, adotando o ponto de vista do adversário, foi mais fácil aquilatar o poderio e as fraquezas do Santos.
Cada ataque em bloco santista coloca em polvorosa os oponentes, porque o perigo vem de todos os lados. Ora Robinho cai pela esquerda e cruza para trás, ora Diego tabela com Renato e surge na cara do gol, ora é Léo que tabela com Robinho e cruza para William ou Douglas.
O técnico Adilson Batista pôs Leanderson para colar em Robinho, mas este passou a jogar pela direita e pelo meio, desnorteando a marcação. Só no meio do segundo tempo voltou à ponta esquerda, mas sem a mesma eficiência.
Por outro lado, a retaguarda santista continua vulnerável. Um Paulo Almeida lento e faltoso, uma dupla de zaga por vezes afoita e mal posicionada, laterais que freqüentemente descem ao mesmo tempo para o ataque -tudo isso abria brechas para os contragolpes gremistas, como aquele que resultou no gol de Christian.
E se o centroavante gremista não tivesse sentido uma lesão, certamente o Santos correria mais riscos no segundo tempo.
Do lado gremista, foi comovente ver a fibra com que atletas como Tinga, Roger e Gavião se entregavam à disputa com um rival francamente superior, em termos técnicos. Como se diz no Sul, "não está morto quem peleia". O Grêmio está aí para provar.

Do jogo do Mineirão, só vi os gols. Aliás, a virada espetacular do campeão foi providencial para Gomes. Se o Cruzeiro perdesse em casa no dia em que recebeu as faixas e a taça, o que ficaria na memória do público seria o tremendo frango que o jovem goleiro tomou no primeiro tempo.
Felizmente, o que ficou marcado na lembrança de todos foi o segundo gol cruzeirense, o primeiro de Alex, que encobriu lindamente o goleiro Kléber.
O fato de o golaço de Alex ter vindo logo depois da saída do contundido Romário tem algo de simbólico. São os dois maiores craques que sobraram no país. Um do passado, outro do presente e, oxalá, do futuro.

Devagar com o andor
Na ótima matéria sobre Dagoberto que foi publicada na revista "Placar" deste mês, Altair Santos faz uma referência simpática a um comentário desta coluna. Mas devo fazer um reparo: não comparei Dagoberto a Maradona, e sim um gol específico de Dagoberto a um gol específico de Maradona. O garoto do Atlético-PR é excelente, mas ainda está muito longe do "Pibe de Oro".

Competência
Não foram os gols mais bonitos da penúltima rodada, mas mostraram o que é o ofício de artilheiro: o do gremista Christian contra o Santos e o do são-paulino Diego Tardelli contra o Internacional. Ambos atacantes mostraram força, técnica, rapidez e objetividade. Precisa mais?

E-mail: jgcouto@uol.com.br


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