São Paulo, quarta-feira, 08 de dezembro de 2004

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TÊNIS

Nico e Julinho

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Já é fim de tarde, mas o sol ainda bate forte. A sujeira do saibro deixa o ambiente ainda mais desconfortável. Alejandro Gattiker, o novo treinador, desfere saques de todos os jeitos, forçando a correria do outro lado da rede. Para pegar as bolas que se espalham, ninguém.
Garoto bem nascido, acostumado ao conforto, Nicolas Lapentti não vê diversão no treino dessa sexta. Mas também não reclama.
Quando o sol baixa e a correria cessa, aparecem os fãs: duas garotas que não o conhecem, mas sabem que é alguém "famoso", um garoto colocado pelo pai a seu lado para um retrato e um senhor que o conhecia, mas que queria a foto apenas para colocar na academia da qual é dono.
Para o ex-top ten, que já sabe o gosto do assédio nos grandes torneios mundo afora, esse dia na distante Aracaju certamente não é um dos mais glamourosos.
Lesões seguidas e falta de motivação fizeram o equatoriano despencar no ranking. O ex-número seis agora é, aos 28 anos, só o 133º. Sua luta é para voltar ao topo.
"No começo, era muito estranho jogar os torneios menores. Em alguns, eu não encontrava motivação. E achava que, por eles [rivais] serem 400, 500 do mundo, bastaria trocar duas bolas e matar o ponto. Hoje vejo que não é bem isso", conta, calmo, a esta coluna. "Aprendi a ter humildade."
 
Um dia depois do papo com Lapentti, o brasileiro Julio Silva, garoto de família simples e que acabou no tênis por pura necessidade, por um emprego de catador de bolas, recebe a maior ovação de sua vida na mesma Aracaju.
Aos gritos de "Ju-linho!", o "oposto de Lapentti" não consegue quase sair de quadra depois de mais uma vitória. Torcedores imploram por uma lembrança: bola, boné, camiseta, copo de água, meia, qualquer coisa.
"Arrastado" ao setor vip, onde jamais entraria se não fosse tenista, é apresentado a políticos. Além dos parabéns, recebe dos "vips" muitos tapinhas nas costas e inéditos pedidos de autógrafo.
Em seu melhor ranking e fase até hoje, Silva, 25, sabiamente não se deixar deslumbrar. "Esse pessoal que dá tapinha nas costas sempre fala a mesma coisa. Só que, na hora de ajudar, patrocinar, eles somem", confidencia.
"Não quero fama. Ganhar dinheiro não é tudo. Desenvolver-se como pessoa, manter a humildade, isso é importante."
 
Pois Nico, garoto bem nascido e ex-top ten que aprendeu a exercitar a humildade, e Julinho, garoto de infância difícil que cresceu no tênis e não caiu no deslumbramento, se cruzaram no domingo, na final da etapa brasileira da Copa Petrobras, em Aracaju.
Em quadra, Lapentti foi mais regular e marcou duplo 6/2 em duas horas. Em maturidade, os dois mostraram alto nível toda a semana. Empataram.
Agora, Nico faz pré-temporada com seu novo treinador em Buenos Aires. E Julinho volta ao trabalho duro em Jundiaí. Cada qual à sua maneira. E os dois de uma maneira bem legal.

Copa Petrobras
O circuito sul-americano de eventos challenger termina nesta semana no México. Ex-Copa Ericsson, ressuscitada como Copa Petrobras, tem tudo para ganhar mais tradição e crescer nos próximos anos.

Copa Davis
A maioria aplaudiu Carlos Moyá no título da Espanha sobre os EUA. Muitos deram crédito à vitória de Rafael Nadal sobre Andy Roddick. Mas alguns só repararam em Nelson Nastás na arquibancada.

Copa Unimed
Rodrigo Morgado, Teliana Pereira (18), Bruno Echer, Aline Berkenbrock (16), Lucas Lopasso, Mariel Maffezzolli (14), Eduardo Bencke e Gabriela Ce (12) ganharam o Masters, em Florianópolis.

E-mail reandaku@uol.com.br


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