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TÊNIS
Nico e Julinho
RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA
Já é fim de tarde, mas o sol
ainda bate forte. A sujeira do
saibro deixa o ambiente ainda
mais desconfortável. Alejandro
Gattiker, o novo treinador, desfere saques de todos os jeitos, forçando a correria do outro lado da
rede. Para pegar as bolas que se
espalham, ninguém.
Garoto bem nascido, acostumado ao conforto, Nicolas Lapentti
não vê diversão no treino dessa
sexta. Mas também não reclama.
Quando o sol baixa e a correria
cessa, aparecem os fãs: duas garotas que não o conhecem, mas sabem que é alguém "famoso", um
garoto colocado pelo pai a seu lado para um retrato e um senhor
que o conhecia, mas que queria a
foto apenas para colocar na academia da qual é dono.
Para o ex-top ten, que já sabe o
gosto do assédio nos grandes torneios mundo afora, esse dia na
distante Aracaju certamente não
é um dos mais glamourosos.
Lesões seguidas e falta de motivação fizeram o equatoriano despencar no ranking. O ex-número
seis agora é, aos 28 anos, só o 133º.
Sua luta é para voltar ao topo.
"No começo, era muito estranho jogar os torneios menores.
Em alguns, eu não encontrava
motivação. E achava que, por eles
[rivais] serem 400, 500 do mundo,
bastaria trocar duas bolas e matar o ponto. Hoje vejo que não é
bem isso", conta, calmo, a esta coluna. "Aprendi a ter humildade."
Um dia depois do papo com Lapentti, o brasileiro Julio Silva, garoto de família simples e que acabou no tênis por pura necessidade, por um emprego de catador de
bolas, recebe a maior ovação de
sua vida na mesma Aracaju.
Aos gritos de "Ju-linho!", o
"oposto de Lapentti" não consegue quase sair de quadra depois
de mais uma vitória. Torcedores
imploram por uma lembrança:
bola, boné, camiseta, copo de
água, meia, qualquer coisa.
"Arrastado" ao setor vip, onde
jamais entraria se não fosse tenista, é apresentado a políticos.
Além dos parabéns, recebe dos
"vips" muitos tapinhas nas costas
e inéditos pedidos de autógrafo.
Em seu melhor ranking e fase
até hoje, Silva, 25, sabiamente
não se deixar deslumbrar. "Esse
pessoal que dá tapinha nas costas
sempre fala a mesma coisa. Só
que, na hora de ajudar, patrocinar, eles somem", confidencia.
"Não quero fama. Ganhar dinheiro não é tudo. Desenvolver-se
como pessoa, manter a humildade, isso é importante."
Pois Nico, garoto bem nascido e
ex-top ten que aprendeu a exercitar a humildade, e Julinho, garoto
de infância difícil que cresceu no
tênis e não caiu no deslumbramento, se cruzaram no domingo,
na final da etapa brasileira da
Copa Petrobras, em Aracaju.
Em quadra, Lapentti foi mais
regular e marcou duplo 6/2 em
duas horas. Em maturidade, os
dois mostraram alto nível toda a
semana. Empataram.
Agora, Nico faz pré-temporada
com seu novo treinador em Buenos Aires. E Julinho volta ao trabalho duro em Jundiaí. Cada
qual à sua maneira. E os dois de
uma maneira bem legal.
Copa Petrobras
O circuito sul-americano de eventos challenger termina nesta semana no México. Ex-Copa Ericsson, ressuscitada como Copa Petrobras,
tem tudo para ganhar mais tradição e crescer nos próximos anos.
Copa Davis
A maioria aplaudiu Carlos Moyá no título da Espanha sobre os EUA.
Muitos deram crédito à vitória de Rafael Nadal sobre Andy Roddick.
Mas alguns só repararam em Nelson Nastás na arquibancada.
Copa Unimed
Rodrigo Morgado, Teliana Pereira (18), Bruno Echer, Aline Berkenbrock (16), Lucas Lopasso, Mariel Maffezzolli (14), Eduardo Bencke e
Gabriela Ce (12) ganharam o Masters, em Florianópolis.
E-mail reandaku@uol.com.br
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