São Paulo, sábado, 08 de dezembro de 2007

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JOSÉ GERALDO COUTO

Purgatório alvinegro


A exemplo de Palmeiras e Grêmio, o Corinthians pode voltar fortalecido da Série B, mas precisa se empenhar


O CORINTHIANS CAIU na real.
Não conheço um único corintiano que tenha achado injusto ou acidental o rebaixamento do clube à Série B. Todos reconhecem que o elenco é fraco; a estrutura, precária; o clima, péssimo.
Chovo no molhado ao dizer que o alvinegro terá que se reestruturar e se reforçar para enfrentar a pedreira da Segundona.
Só assim essa temporada no purgatório poderá ter um resultado final positivo, regenerador, para o time e sua torcida.
Caso contrário, o Corinthians corre o risco de ficar por muito tempo preso à Série B, como alguém que tenta em vão sair de um poço de areia movediça. Os exemplos recentes do Palmeiras, do Botafogo e do Grêmio -clubes grandiosos que conseguiram se renovar na Segundona e voltaram fortalecidos à elite do Brasileiro- podem inspirar os corintianos de boa vontade.
A paixão da Fiel será posta à prova, e tenho certeza de que será aprovada com louvor. Mas é necessário que o time (jogadores, treinador, dirigentes) ajude. Uma sucessão de más apresentações poderá jogar água na fervura e transformar o entusiasmo em cobrança e pressão. Sabemos que muita gente, das emissoras de TV aos patrocinadores, dos empresários de atletas aos dirigentes, já está de olho gordo nas possibilidades de tirar proveito dessa situação inédita -o time da segunda maior torcida do país na segunda divisão.
Cabe aos verdadeiros corintianos, ou seja, aos torcedores que dedicam grande parte da sua vida a essa estranha paixão, zelar para que o clube não perca o foco. O importante é formar um time coeso e competitivo, que se empenhe desde o primeiro minuto da primeira partida em fazer uma campanha vitoriosa.
Os primeiros passos da diretoria alvinegra são um tanto vacilantes e contraditórios. Mano Menezes me parece uma ótima escolha como treinador, mas a nomeação do ex-zagueiro Antônio Carlos como diretor técnico de futebol soa no mínimo estranha, sobretudo porque o jogador (que nunca foi um primor de equilíbrio emocional) teve seus melhores momentos no Palmeiras e no São Paulo, ou seja, longe do Parque São Jorge.
O goleiro Felipe, praticamente o único atleta a escapar ileso da campanha vexaminosa de 2007, merece ser tratado como prioridade. Não só porque é um grande jogador, mas também pela força simbólica que adquiriu ao longo do ano. Se triste é o país que precisa de heróis, como dizia o Galileu de Brecht, a nação corintiana é, hoje, um país tristíssimo.
Muitas lágrimas foram derramadas na última semana. A Rede Globo já espremeu esse melodrama o quanto pôde. Agora chega.
É preciso canalizar toda essa energia para remendar o estandarte alvinegro antes de brandi-lo de novo diante dos adversários. Parafraseando Chico Buarque, quem nos vê apanhando da vida duvida que iremos revidar. Tudo bem. Basta que nós mesmos não duvidemos.

jgcouto@uol.com.br


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