São Paulo, quinta-feira, 09 de janeiro de 2003

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Zagallo chefiou "time" que fez técnico assumir

DA SUCURSAL DO RIO

Depois de almoçar anteontem na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio), numa conversa na qual aceitou voltar a dirigir a seleção, Carlos Alberto Parreira foi com Zagallo para o apartamento do novo coordenador. No mesmo bairro, onde também ficam a casa de Parreira e a sede da CBF (Confederação Brasileira de Futebol).
Passava pouco das 17h. Ao entrarem, anunciaram o "sim" de Parreira e a volta de Zagallo ao trabalho, depois de celebrar a aposentadoria em novembro, num jogo-despedida.
"Vocês estão malucos?", gritou a mulher do coordenador, Alcina. "O que fizeram? Disseram que não queriam e agora vão voltar!" Olhou para o marido e lembrou-lhe do adeus.
De bate-pronto, Zagallo respondeu: "Eu tinha me despedido só como treinador". Ontem, quando ele e Parreira narraram o episódio, o coordenador acrescentou: "Ela [sua mulher] teve que me engolir! O verde-amarelo está acima de tudo".
Parreira contou que, na segunda, esperava ser convidado por Ricardo Teixeira para ser coordenador. Afirmou que nunca indicou ninguém para técnico, nem Oswaldo Oliveira. Surpreendeu-se com a proposta. Resistiu. "Em 24 horas, tudo mudou", disse. Na segunda à noite, uma operação baseada no quartel-general da CBF foi iniciada para convencer Parreira. Desde antes da Copa de 94 ele decidira não mais treinar a seleção. "Nunca, em nenhum período, um técnico da seleção sofreu como nós de 91 a 94."
Teixeira conversou com ele. Zagallo, idem. O supervisor Américo Faria, também. "Zagallo foi o mais insistente", contou Parreira. Os argumentos de Faria foram decisivos.
Mostrou como a estrutura da seleção se profissionalizou desde 94. Acenou com o projeto de transformar o Brasil numa referência mundial para formação de mão-de-obra e padrão de gestão de times. Poderia mudar as divisões de base.
"O clima é muito mais light hoje que em 94", disse Faria. O técnico aponta a diferença da pressão de mais de duas décadas sem título -o último fora em 70- para a atual situação: três finais consecutivas em Copa, duas vitórias. Ele pensou na velha amizade com Zagallo, a quem conheceu no final dos anos 60. Parreira, então preparador físico, foi mostrar ao técnico do Botafogo slides sobre táticas de seleções européias.
Parreira considerou a opinião da família: sem esquecer a tensão dos anos 90, era contra. Mas, após três anos, voltaria a morar em casa, no Rio.
Na tarde de anteontem, ele, Zagallo, Faria, Teixeira e Marco Antônio Teixeira (secretário-geral da CBF) se levantaram da mesa no restaurante e se abraçaram. Parreira dissera sim.
Ele telefonou para um dirigente do Corinthians, seu clube, e informou a decisão. Ao chegar em casa, após passar no apartamento de Zagallo, encontrou sua mãe, Geni, que demonstrou contrariedade. "Como mãe, ela já sofre antecipadamente", diz Parreira. (MM)


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