São Paulo, quinta-feira, 09 de janeiro de 2003

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FUTEBOL

Pontos corridos, o returno

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

É um pouco inútil discutir, agora, se vai dar certo ou não a fórmula dos pontos corridos -já está definido que vai ser assim, ótimo, então o melhor é analisar o Campeonato Brasileiro enquanto ele estiver acontecendo (e depois). Mas quem resiste a um exercício de futurologia?
Fiquei devendo uma reflexão sobre as finais -ou melhor, A Grande Final. Em 2002, o Brasil parou para ver Corinthians x Santos, torcendo para um sair da fila ou o outro conquistar a tríplice coroa.
Adoro esses momentos de sintonia, em que um interesse une pessoas muito diferentes -seja a ocasião dramática ou festiva, esportiva ou religiosa, política ou cinematográfica. São momentos de comunhão, ainda que os pontos de vista sejam diferentes.
Pois bem, em um campeonato de pontos corridos seria uma coincidência fabulosa o primeiro e o segundo melhores se enfrentarem na última rodada. Como lembra o leitor Zé Fernando, é muito mais provável que aconteçam várias "finais" simultâneas, com três ou quatro times que disputam o título jogando ao mesmo tempo, mesmo que não sejam uns contra os outros. E isso não é emocionante? A última rodada da primeira fase foi assim -a classificação se modificava à medida que saía um gol em Salvador, Brasília, Belém, Campinas... Estavam todos sintonizados na mesma expectativa, embora a atenção estivesse dividida.
"Mas o São Paulo já estava garantido em primeiro", dirão. É verdade, mas algumas coisas são inevitáveis -até no mata-mata um time pode entrar em campo com chances remotas e interesse reduzido (como o Atlético-MG após a goleada do Corinthians).
E nem sempre uma final é tão emocionante e significativa quanto essa. Se, exemplo, Grêmio e Juventude disputassem o título, duvido que a nação futebolística se empolgasse tanto. Sem nenhum desprezo pelos dois, é óbvio que o impacto deles no coração da torcida é diferente de Corinthians e Santos (especialmente esse Santos de... ah, de Léo e Renato, para virar um pouco o disco).
Ainda sobre a possibilidade de um time disparar e desmotivar os demais, fala Adenir Soares Jr., de Palhoça (SC): "Em 32 edições, o campeonato teve 32 finais diferentes. Mais equilibrado que isso é impossível". De fato, o líder só poderia relaxar depois de abrir dez pontos de vantagem a três rodadas do final, ou diferença ainda maior antes disso. E ele sempre pode perseguir recordes de vitórias, de gols marcados etc. Quanto aos demais, que tentem diminuir a diferença e garantir o segundo lugar -e ser o melhor entre todos os outros, uai. Há sempre um rival para superar...
Muitos dizem que a torcida não tem "a cultura dos pontos corridos". Pode até ser, mas não é difícil adquiri-la. Até porque o campeonato muda todo ano, e a torcida se empolga ou não em função do que acontece no campo! Outro dia em li em um "blog" (espécie de diário na internet) um comentário interessante: os analistas cansaram de dizer que o Lula mudou nisso, o PT mudou naquilo. Mas e o eleitor, mudou? Em que e por quê? Pois então: e o torcedor, mudou ou não mudou?
A gente muda o tempo todo. Agora mesmo um leitor me fez repensar sobre o argumento que eu tinha como o mais forte a favor dos pontos corridos -a justiça, o prêmio ao melhor futebol. Xi, vou ter de voltar ao assunto na semana que vem!

Comissãozinha
No meio da disputa entre os procuradores de Robinho, surgiu a informação de que o atual, Wagner Ribeiro, teria, em contrato, o direito de receber 70% da multa contratual em uma eventual negociação do jogador. Sóóóóó??

Proibido organizar
Curiosas as palavras do presidente Mustafá Contursi para desqualificar as manifestações pró-oposição: "Isso é coisa organizada". Ah, então "organização" é característica de algo que não merece respeito? Tá explicado.

Uh, /cadê/ o MP...
...Sumiu? A CPI inquiriu, apurou, constatou, relatou. E o Ministério Público, não vai pedir o indiciamento dos acusados de irregularidades mil na administração do futebol brasileiro? Bom, talvez o MP esteja agindo e eu esteja mal informada. Tomara.

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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