São Paulo, sexta-feira, 09 de janeiro de 2009

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XICO SÁ

O amor que fica


Amor à camisa virou coisa de museu; hoje, como os jovens, o tempo é de "ficar", não de ter amor sincero ao time do peito

AMIGO TORCEDOR , amigo secador, o troca-troca de clubes prossegue e as declarações de amor eterno ao novo time são cada vez mais românticas e sinceras, como me sopra aqui o velho Casca, enferrujado pelo ceticismo e pela irônica maldade na praia do Pina. Você diria pela milésima vez, corado de paixão e nostalgia, que o amor à camisa é coisa de museu. Outro leitor, nada passadista, defenderia outra tese: sintoma da nova era, meu chapa, não adianta espernear contra o presente. E assim seguiria o debate, no papo furado do boteco, única dialética do esclarecimento cientificamente comprovada.
O velho Casca, carcomido pela maresia, não sossega, lembra imediatamente o episódio Carlinhos Bala, que trocou nesta semana o Sport pelo Náutico. "O cara fez a maior gréia com timbus, espezinhou, feriu os brios da torcida e agora posa de alvirrubro desde pirraia, desde criancinha", recorda o malaco, torcedor do Santa Cruz e domador de tubarões de Pernambuco. E assim passamos em revista a "traição" de Ronaldo com o Fla, lembramos o Viola imitando porco palmeirense, as promessas de amor de Carlos Alberto ao chegar ao Vasco... É, amigo, como dizem os menos nostálgicos, é o profissionalismo.
Mas bom mesmo é quando os boleiros chegam às novas casas alegando acreditar no "projeto" do clube. Claro, não foi por dinheiro, o que motivou foi o tal do "projeto", seja que diabo signifique esse negócio.
Ter recusado promessa milionária das Arábias também cai muito bem na novíssima etiqueta. Foi o caso do discurso do Paulo Baier ao chegar no Sport. No ano passado, Caio Júnior virou herói no Flamengo ao recusar os mesmos petrodólares. Muita gente aplaudia a rara atitude, inclusive este cronista. Moral cruel da fábula: acabou o ano enxotado pela massa rubronegra. Em alguns times, o que conta é a história. Para quem chega ao Santos, por exemplo, baixa o orgulho de jogar no time de Edson Arantes do Nascimento. Assim como quem aporta em General Severiano recorre ao Bota de Garrincha.
É muita onda, amigo, e não adianta espernear contra o presente. Assim como os jovens, é tempo de "ficar", e não de ter amor sincero aos clubes do peito. Uma temporada com um título chinfrim já é a glória.
Por essas e por outras é que o velho Casca, pescador das antigas de Brasília Teimosa, chuta o balde de ostras e sapeca, ranzinza: "Todo torcedor é um otário". Menos, velho Casca, menos, mais uma, seu garçom, faz favor, mais uma para amansar o bravo homem dos mares. "Todo beijo no escudo é tão falso quanto um carinho de Judas", completa ele, orgulhoso da sua tirada bíblica.

Começou bem
O ano ludopédico promete. Não poderia ter começado de forma mais nobre 2009, grasna o corvo Edgar, histérico com a derrota do soberbo Manchester para o franciscano -se é que existe inglês humilde- Derby County. Esses diabos vermelhos não passam de capetinhas de narizes arrebitados. Em Nossa Senhora do Ó, histórica vitória da seleção de Ipojuca no Santa Cruz: 1 a 0. Deus tomara, mas como bradava Kátia, ceguinha parente do Rei, "não está sendo fácil".

xico.folha@uol.com.br


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