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Além do estádio
Aumento da favelização , infraestrutura deficiente no entorno da arena e saturação do metrô mostram que Itaquera não está pronta para o Mundial
MARIANA BASTOS
DE SÃO PAULO
As dúvidas sobre quem financiará o estádio do Corinthians para a Copa devem ser
sanadas nesta semana.
Mas a preocupação da população de Itaquera e de especialistas em urbanismo é
muito maior do que saber
quem bancará os R$ 600 milhões necessários para a
construção da nova arena.
Região ocupada por mais
de 500 mil pessoas, o bairro
da zona leste está longe de
ser um cartão-postal para o
turista que visitar hoje o local
apontado como o palco da
abertura do Mundial de 2014.
A menos de um quilômetro do estádio, há uma favela.
A avenida Jacu-Pêssego, que
será usada para levar turistas
e autoridades do aeroporto
até o Itaquerão, sofre com a
ocupação desordenada.
Em oito anos, o número de
moradias em favelas praticamente dobrou. Entre 2000 e
2008, subiu de 5.663 domicílios para 11,2 mil. Segundo
especialistas, isso pode comprometer a instalação, no
bairro, de novos empreendimentos ligados à Copa-14.
"A [avenida] Jacu-Pêssego
mostra uma ocupação intensa da pobreza, o que dificulta
novas ocupações", disse Jorge Hori, consultor de engenharia, que acompanhou a
Folha em uma visita a Itaquera na quinta passada.
"O desenvolvimento da rede hoteleira para a Copa deve
ficar limitado ao trecho entre
o aeroporto [de Guarulhos] e
a via Dutra", completou ele.
Lideranças locais exigem
do poder público uma política habitacional e de empregos que melhore as condições do bairro e, de forma
mais ampla, da zona leste.
Paira o temor de que, a
exemplo do que ocorreu em
Pequim, durante a Olimpíada-2008, e na África do Sul,
na Copa-2010, o governo só
tome medidas paliativas e
tente maquiar os problemas
durante o Mundial de 2014.
O Movimento Nossa Zona
Leste, por exemplo, quer se
reunir no fim do mês com autoridades ligadas à Copa para exigir contrapartidas.
"Não vamos aceitar que coloquem tapume para esconder
as favelas durante a Copa",
declarou padre Ticão, líder
da Nossa Zona Leste.
"Não queremos terminar a
Copa como na África do Sul.
A zona leste já tem índices sociais africanos. Queremos
uma contrapartida habitacional e a segurança de que,
após o fim das obras da Copa,
os trabalhadores não vão
morar em favelas", disse.
Outro problema é em relação à mobilidade urbana. O
terreno da futura arena está
próximo de estações de trem
e metrô, mas o transporte público sofre com a saturação.
"É um sufoco. Tem quem
pega o metrô no Tatuapé, no
sentido oposto, e vem até Itaquera para ir até o Centro
sentado", declarou o segurança Ivo Mário Júlio, 43.
A compra de novos trens
para a linha 3 do metrô é o
único projeto concreto de
melhoria do transporte público para a próxima Copa.
"Não deve resolver totalmente. Por segurança, há um
intervalo entre um trem e outro. Não dá para enfileirar
um monte deles", disse Luiz
Célio Bottura, presidente do
Instituto de Engenharia.
Para o padre Ticão, a população deve cobrar melhorias. "A bola da vez é a zona
leste. Espero que haja uma
virada em quatro anos."
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