São Paulo, domingo, 09 de janeiro de 2011

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Além do estádio

Aumento da favelização , infraestrutura deficiente no entorno da arena e saturação do metrô mostram que Itaquera não está pronta para o Mundial

MARIANA BASTOS
DE SÃO PAULO

As dúvidas sobre quem financiará o estádio do Corinthians para a Copa devem ser sanadas nesta semana.
Mas a preocupação da população de Itaquera e de especialistas em urbanismo é muito maior do que saber quem bancará os R$ 600 milhões necessários para a construção da nova arena.
Região ocupada por mais de 500 mil pessoas, o bairro da zona leste está longe de ser um cartão-postal para o turista que visitar hoje o local apontado como o palco da abertura do Mundial de 2014.
A menos de um quilômetro do estádio, há uma favela. A avenida Jacu-Pêssego, que será usada para levar turistas e autoridades do aeroporto até o Itaquerão, sofre com a ocupação desordenada.
Em oito anos, o número de moradias em favelas praticamente dobrou. Entre 2000 e 2008, subiu de 5.663 domicílios para 11,2 mil. Segundo especialistas, isso pode comprometer a instalação, no bairro, de novos empreendimentos ligados à Copa-14.
"A [avenida] Jacu-Pêssego mostra uma ocupação intensa da pobreza, o que dificulta novas ocupações", disse Jorge Hori, consultor de engenharia, que acompanhou a Folha em uma visita a Itaquera na quinta passada.
"O desenvolvimento da rede hoteleira para a Copa deve ficar limitado ao trecho entre o aeroporto [de Guarulhos] e a via Dutra", completou ele.
Lideranças locais exigem do poder público uma política habitacional e de empregos que melhore as condições do bairro e, de forma mais ampla, da zona leste.
Paira o temor de que, a exemplo do que ocorreu em Pequim, durante a Olimpíada-2008, e na África do Sul, na Copa-2010, o governo só tome medidas paliativas e tente maquiar os problemas durante o Mundial de 2014.
O Movimento Nossa Zona Leste, por exemplo, quer se reunir no fim do mês com autoridades ligadas à Copa para exigir contrapartidas.
"Não vamos aceitar que coloquem tapume para esconder as favelas durante a Copa", declarou padre Ticão, líder da Nossa Zona Leste.
"Não queremos terminar a Copa como na África do Sul. A zona leste já tem índices sociais africanos. Queremos uma contrapartida habitacional e a segurança de que, após o fim das obras da Copa, os trabalhadores não vão morar em favelas", disse.
Outro problema é em relação à mobilidade urbana. O terreno da futura arena está próximo de estações de trem e metrô, mas o transporte público sofre com a saturação.
"É um sufoco. Tem quem pega o metrô no Tatuapé, no sentido oposto, e vem até Itaquera para ir até o Centro sentado", declarou o segurança Ivo Mário Júlio, 43.
A compra de novos trens para a linha 3 do metrô é o único projeto concreto de melhoria do transporte público para a próxima Copa.
"Não deve resolver totalmente. Por segurança, há um intervalo entre um trem e outro. Não dá para enfileirar um monte deles", disse Luiz Célio Bottura, presidente do Instituto de Engenharia.
Para o padre Ticão, a população deve cobrar melhorias. "A bola da vez é a zona leste. Espero que haja uma virada em quatro anos."


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