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São Paulo, domingo, 09 de fevereiro de 2003

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Primeiros passos da gestão de Agnelo Queiroz no Ministério do Esporte espelham idéias e projetos do presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman

Superamigos

Alexandre Campbell - 18.jan.03/Folha Imagem
Carlos Arthur Nuzman (esq.), presidente do COB, e o ministro Angelo Queiroz prestigiam pugilistas no Circuito Brasil Olímpico, no Rio


JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Eles viraram unha e carne. O que um escreve, o outro assina embaixo. Foi assim, pelo menos, no primeiro mês do governo Lula. E deve continuar dessa forma nos próximos capítulos.
O ministro do Esporte, Agnelo Queiroz, 44, e o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, 60, falam exatamente a mesma língua.
Antes mesmo de Lula definir que o Ministério do Esporte ficaria com o PC do B, foi o nome de Queiroz, deputado federal reeleito pelo partido no DF, que Nuzman defendeu para a pasta.
A admiração do presidente do COB pelo político começou com a criação da Lei Piva -foi projeto do parlamentar que resultou na promulgação da lei, em julho de 2001, destinando 2% dos recursos das loterias para os esportes olímpicos e paraolímpicos.
Graças a seu empenho para aumentar os recursos para o esporte, o deputado foi duas vezes homenageado pelo COB -uma em 2000, a outra em 2001.
Agora no Ministério do Esporte, a relação se estreitou. Sua plataforma política, se não bate na maioria dos pontos com a apresentada por Lula durante a campanha eleitoral, continua a coincidir com a de Nuzman.
No último dia 28, quando o COB fez a prestação de contas do uso dos recursos da Lei Piva, em evento que contou com a presença do ministro, Queiroz endossou todas as palavras do dirigente.
E ficou emocionado ao ver Nuzman e os presidentes das confederações olímpicas referindo-se à lei como Agnelo/Piva -quando era um ""mero" deputado, ela era conhecida apenas como Piva, por causa de Pedro Piva, que ocupava uma cadeira no Senado pelo PSDB-SP e foi o responsável pela formatação final do projeto.
Na cerimônia, realizada no hotel Glória, no Rio, o ministro chegou a chorar, tendo de interromper duas vezes o discurso por não conseguir falar, ao ver a prestação de contas do COB.
Ele se referiu à aplicação dos recursos da Lei Piva como o início de uma revolução no esporte brasileiro e um exemplo de profissionalismo para todos os setores.
Dos R$ 43.173.626 que ganhou das loterias, o COB repassou R$ 19.099.601 às confederações. Usou o restante para bancar seus gastos em 2002 (R$ 11.033.747) e organizar os Jogos Sul-Americanos (R$ 10.577.230), além de ter deixado R$ 2.463.046 num fundo de reservas.
Mas, apesar de o COB ter recebido mais de R$ 43 milhões só com a Lei Piva, Nuzman insiste que os recursos são insuficientes para financiar as atividades das confederações -um estudo do COB, de maio de 2001, indicava que seriam necessários pelo menos R$ 103 milhões por ano. Nuzman e Queiroz acham, portanto, que a lei é um avanço, um primeiro passo, mas ainda não é tudo.
Justamente por isso dizem ser necessárias novas fontes de financiamento. E, mesmo tendo Lula se mostrado reticente durante a campanha à criação de uma lei de incentivo fiscal para o esporte, nos moldes da que existe para a cultura, Queiroz, com apoio do COB, diz que é favorável a ela.
Foi o que defendeu, pelo menos, em encontro com Roberto Gesta de Melo, presidente da Confederação Brasileira de Atletismo, no último dia 13 de janeiro. Cinco dias depois, quando foi acompanhar o Circuito Brasil Olímpico, no Rio, reafirmou a posição.
Na ocasião, disse que o ministério incentivaria parcerias com empresas estatais, apesar de na campanha Lula ter dito o contrário, e citou como exemplo de sucesso a relação do vôlei com o Banco do Brasil, iniciada há 11 anos, justamente quando Nuzman presidia a Confederação Brasileira de Vôlei.
Nessa linha, mesmo tendo assumido com a promessa de que usaria o esporte como instrumento de inclusão social, foi na elite que o governo começou a investir.
Na primeira entrevista coletiva de patrocínio da nova gestão da Petrobras, a estatal anunciou a criação de uma equipe de vela -de 30 atletas beneficiados passou a ajudar apenas nove de uma federação que foi a segunda que mais recursos recebeu da Lei Piva.
Queiroz também defende que recursos do bingo sejam usados para financiar o esporte -mas quer que a Caixa Econômica Federal controle o jogo, apesar de setores do PT terem se declarado contrários à idéia. A proposta tem o apoio de 25 das 27 confederações beneficiadas pela Lei Piva.
Mas é num projeto mais ambicioso que o COB conta com o ministério: o de fazer do Brasil o primeiro país da América do Sul a abrigar uma Olimpíada.
Na quarta, Nuzman, Ruy César, secretário municipal de Esporte do Rio, e Nádia Campeão, secretária municipal de Esporte de São Paulo, foram recebidos por Queiroz em audiência em Brasília.
O governo federal ficou de apoiar, independentemente de a cidade concorrente a sede dos Jogos-2012 ser Rio ou São Paulo, a candidatura brasileira.
Segundo o COB, o apoio do governo é fundamental, pois é das administrações municipal, estadual e federal que deve sair boa parte dos recursos da campanha.
E anteontem, em encontro com Thomas Bach, principal dirigente do Comitê Olímpico Internacional depois do presidente Jacques Rogge, o ministro voltou a dizer que apoio do governo para o Brasil abrigar os Jogos não vai faltar.


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