|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
AÇÃO
Dropando o inimaginável
CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA
João acordou às cinco da
manhã, depois de uma noite
maldormida. Quando foi para a
cama, as bóias já apontavam ondas de dez pés, com intervalos de
24 segundos. Ele sabia que Waimea quebraria forte. E o plano
era entrar no mar antes de ir trabalhar. Pegou o carro, a prancha
(uma Willie Brothers 10'6") e se
mandou para o pico, que quebrava com 20 pés sólidos, medida havaiana. João tirou a prancha do
carro e ficou na areia.
Ele viu dois caras presos no shore break, sendo arrastados para o
canto das pedras. Quando Waimea quebra com mais de 25 pés, o
canal que dá acesso ao outside fecha e fica difícil varar, e João sabia disso. Enquanto João observava, a baía fechou duas vezes. Ele
ainda ponderava aquela queda
quando Maya Gabeira, filha do
deputado, entrou no mar junto
com Danicks Fischer. João deu as
costas para o mar, pegou a prancha, recolocou-a no carro e foi
trabalhar. Mas a cabeça ficou em
Waimea. Precisava entrar naquele mar. Fim de tarde, expediente
encerrado, João voltou.
Agora, Waimea quebrava
cruelmente: 45 pés de face, séries
constantes e regulares, entrando
na baía de 15 em 15 minutos.
João ficou quase uma hora na
areia, respirando fundo, sonhando. Por duas vezes, levantou-se
para entrar no mar e desistiu.
Ficou nesse ziguezague mental,
até que resolveu encarar. Chegou
ao outside e, ali, ficou por alguns
minutos, fugindo das séries. Logo
deu de cara com um monstro de
25 pés. E ele se perguntou o que
estava fazendo ali. Mas foi. Dropou. Voltou. Mais uma. Outra.
Outra. E saiu. A sensação, além
de alívio, era de realização. João
tinha domado Waimea. E esse
dia entra para a história da sua
vida como um dos mais importantes e memoráveis.
A história, verídica, aconteceu
no domingo passado e foi protagonizada pelo brasileiro João Oppenheim, um surfista comum,
que mora no Havaí. Ele mandou
um e-mail para a Redação dizendo que precisava relatar o feito.
Só não imaginava que seria para
tanta gente. Mas está aí, e ajuda a
ilustrar o que significa surfar uma
onda grande. Não é sem questionamentos, reflexões, medo ou dúvidas que homens e mulheres encaram essas paredes de água em
movimento. Todo ano é assim.
Surfistas temem pela própria vida, mas superam limites.
E a temporada de caça às maiores ondas do mundo vai até março. Nesta semana, um dos eventos
programados para o hemisfério
Norte teve luz verde. O Mavericks
Surf Contest reuniu 24 atletas, entre eles os brasileiros Eraldo Gueiros, Alex Martins e Danilo Couto,
e foi vencido pelo americano
Grant "Twiggy" Baker. E uma
penca de novos e velhos torneios
já foi anunciada. Além dos conhecidos Billabong XXL, que premia o surfista que dropar a maior
onda do ano, e do Eddie Aikau,
que ocorre no North Shore (o período de espera acaba no dia 28),
há os novatos The Nelscott Reef
Tow In, no Oregon (EUA), Punta
Gálea Big Challenge, em Bizkaia
(ESP), e Porthleven Challange, na
Inglaterra. Em comum, para serem realizados, todos precisam de
ondas superiores a 20 pés.
Verão, calor, quentura e mormaço...
... castigaram os 80 bikers na prova de 400 km entre Fortaleza e Teresina, a Cerapió -semelhança com "será pior" não é coincidência. O
pernambucano Edson Vieira e a norueguesa Sandra Klomp venceram. Em 2007, a prova irá do Piauí para o Ceará ("pior será").
Corrida de aventura
Com largada na madrugada de sábado em Paraibuna (SP), o Try On
Adventure Meeting faz a etapa decisiva, com as 50 melhores equipes.
Mundial de surfe WQS
Rob Machado venceu a etapa de quatro estrelas em Pipeline, Havaí.
A final teve ainda dois havaianos e o peruano Gabriel Villaran (4º). Já
a 1ª etapa do ano no Brasil está rolando em Fernando de Noronha.
E-mail - sarli@trip.com.br
Texto Anterior: Saiba mais: Pilotos e Mundial ficam sem curva mais desafiadora Próximo Texto: Futebol - José Roberto Torero: Raimundo, o rei do submundo, e os juvenis Índice
|