São Paulo, quinta-feira, 09 de fevereiro de 2006

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AÇÃO

Dropando o inimaginável

CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA

João acordou às cinco da manhã, depois de uma noite maldormida. Quando foi para a cama, as bóias já apontavam ondas de dez pés, com intervalos de 24 segundos. Ele sabia que Waimea quebraria forte. E o plano era entrar no mar antes de ir trabalhar. Pegou o carro, a prancha (uma Willie Brothers 10'6") e se mandou para o pico, que quebrava com 20 pés sólidos, medida havaiana. João tirou a prancha do carro e ficou na areia.
Ele viu dois caras presos no shore break, sendo arrastados para o canto das pedras. Quando Waimea quebra com mais de 25 pés, o canal que dá acesso ao outside fecha e fica difícil varar, e João sabia disso. Enquanto João observava, a baía fechou duas vezes. Ele ainda ponderava aquela queda quando Maya Gabeira, filha do deputado, entrou no mar junto com Danicks Fischer. João deu as costas para o mar, pegou a prancha, recolocou-a no carro e foi trabalhar. Mas a cabeça ficou em Waimea. Precisava entrar naquele mar. Fim de tarde, expediente encerrado, João voltou.
Agora, Waimea quebrava cruelmente: 45 pés de face, séries constantes e regulares, entrando na baía de 15 em 15 minutos.
João ficou quase uma hora na areia, respirando fundo, sonhando. Por duas vezes, levantou-se para entrar no mar e desistiu.
Ficou nesse ziguezague mental, até que resolveu encarar. Chegou ao outside e, ali, ficou por alguns minutos, fugindo das séries. Logo deu de cara com um monstro de 25 pés. E ele se perguntou o que estava fazendo ali. Mas foi. Dropou. Voltou. Mais uma. Outra. Outra. E saiu. A sensação, além de alívio, era de realização. João tinha domado Waimea. E esse dia entra para a história da sua vida como um dos mais importantes e memoráveis.
A história, verídica, aconteceu no domingo passado e foi protagonizada pelo brasileiro João Oppenheim, um surfista comum, que mora no Havaí. Ele mandou um e-mail para a Redação dizendo que precisava relatar o feito. Só não imaginava que seria para tanta gente. Mas está aí, e ajuda a ilustrar o que significa surfar uma onda grande. Não é sem questionamentos, reflexões, medo ou dúvidas que homens e mulheres encaram essas paredes de água em movimento. Todo ano é assim. Surfistas temem pela própria vida, mas superam limites.
E a temporada de caça às maiores ondas do mundo vai até março. Nesta semana, um dos eventos programados para o hemisfério Norte teve luz verde. O Mavericks Surf Contest reuniu 24 atletas, entre eles os brasileiros Eraldo Gueiros, Alex Martins e Danilo Couto, e foi vencido pelo americano Grant "Twiggy" Baker. E uma penca de novos e velhos torneios já foi anunciada. Além dos conhecidos Billabong XXL, que premia o surfista que dropar a maior onda do ano, e do Eddie Aikau, que ocorre no North Shore (o período de espera acaba no dia 28), há os novatos The Nelscott Reef Tow In, no Oregon (EUA), Punta Gálea Big Challenge, em Bizkaia (ESP), e Porthleven Challange, na Inglaterra. Em comum, para serem realizados, todos precisam de ondas superiores a 20 pés.

Verão, calor, quentura e mormaço...
... castigaram os 80 bikers na prova de 400 km entre Fortaleza e Teresina, a Cerapió -semelhança com "será pior" não é coincidência. O pernambucano Edson Vieira e a norueguesa Sandra Klomp venceram. Em 2007, a prova irá do Piauí para o Ceará ("pior será").

Corrida de aventura
Com largada na madrugada de sábado em Paraibuna (SP), o Try On Adventure Meeting faz a etapa decisiva, com as 50 melhores equipes.

Mundial de surfe WQS
Rob Machado venceu a etapa de quatro estrelas em Pipeline, Havaí. A final teve ainda dois havaianos e o peruano Gabriel Villaran (4º). Já a 1ª etapa do ano no Brasil está rolando em Fernando de Noronha.


E-mail - sarli@trip.com.br

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