São Paulo, terça-feira, 09 de março de 2004

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BASQUETE

V de vingança

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Isiah Thomas não brilhava apenas dentro das quadras, com a conquista do bicampeonato da NBA, mas fora, como presidente do sindicato dos jogadores.
A gestão do armador do Detroit Pistons, no final da década de 80, criou um subdepartamento para garantir o cumprimento dos contratos dos associados e abriu um fundo de amparo a ex-atletas.
Para bancar os benefícios, Isiah decretou um limite (abaixo do praticado pelo mercado) para a comissão dos empresários de jogadores e absorveu essa polpuda fatia de massa salarial.
Os agentes das estrelas chiaram, sobretudo David Falk, que faturava com Michael Jordan, Patrick Ewing e outros craques.
Na virada da década, saiu a lista dos eleitos para o Dream Team original, a seleção que levaria à Olimpíada de Barcelona-92 as palavras douradas da NBA. Todos os grandes clientes de Falk emplacaram a convocação. Única ausência absurda? Isiah.
 
No vestiário, enquanto o suor ainda pingava depois de outra duríssima partida contra os arqui-rivais nos playoffs de 1987, Isiah soltou a bomba racial. "Não compreendo tanta festa. Se Larry Bird fosse negro, ele seria apenas mais um jogador." A mídia fez carnaval; o adorado ala do Boston Celtics engoliu calado.
Quase dezesseis anos depois, Bird assumiu a direção do Indiana Pacers, equipe treinada por... Isiah. Tão logo o clube renovou com o ala-pivô Jermaine O'Neal, seguramente o mais talentoso jogador do elenco e sabidamente amigo pessoal do técnico, Bird selou a carta de demissão de Isiah.
 
Uma vez fechada a contratação, em 1981, o Detroit passou a temer que o jovem armador caísse ante os vícios de um longo e puxado campeonato. Por que não, pensou o clube, reproduzir a atmosfera militar da Universidade de Indiana, que revelou o calouro?
Mas Isiah, novo milionário, não desejava mais ser vigiado. Atormentou tanto os cartolas que provocou o afastamento da babá que havia lhe sido imposta: o técnico-assistente Don Chaney.
Ao longo de gloriosos 13 anos, sempre pelos Pistons, o armador disputou 1.090 jogos. Ficou fora só de uma partida por razões técnicas. O torneio 1993/94 se arrastava, e o recém-empossado treinador decidiu prestigiar os arremessos do enigmático Lindsey Hunter. O treinador? Don Chaney.
 
Em dezembro, os donos do New York Knicks, inconformados com os déficits de caixa e as más campanhas, buscaram alguém com carisma suficiente para amansar a imprensa e a torcida cricris.
Isiah topou a oferta e agiu.
Fez uma faxina no elenco, afastando os clientes de David Falk (entre eles, Dikembe Mutombo).
Demitiu toda a comissão técnica, encabeçada por Don Chaney.
E, com o time ressuscitado na tabela, espera ansioso a chance de pegar nos playoffs o Indiana de Larry Bird, de perpetuar as puxadas de tapete que marcam os porões do basquete, aqui e acolá.

Rasteira 1
O Orlando estimula Grant Hill, machucado pela enésima vez, a voltar o quanto antes. Mas para que o ala se frustre com seu jogo e acelere a aposentadoria -e o seguro pague o resto do contrato milionário.

Rasteira 2
O Washington julgou que a badalação impedia a evolução do time e deu um bico em Michael Jordan em 2003. Mas o time "libertado" ganhou só 32,8% dos jogos nesta temporada, contra 45,1% na anterior.

Rasteira 3
Karl Malone, 36.374 pontos e 14.601 rebotes pelo Utah, voltou ontem pela primeira vez a Salt Lake City. O ala-pivô virou objeto de piada nos alto-falantes do ginásio desde que se transferiu para o LA Lakers.

E-mail melk@uol.com.br


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