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FUTEBOL
Toque de bola
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO
O antropólogo Roberto
DaMatta já chamou a atenção para o aspecto "parlamentar"
do jogo de vôlei. Nesse esporte, como se sabe, as equipes enfrentam-se a partir dos limites de dois
campos opostos, separados por
uma rede, não havendo contato
físico. É como se os sextetos, com a
possibilidade de tocar um número limitado de vezes na bola, encenassem um torneio retórico: um
grupo lança seu ataque e o outro
procura defender-se e rapidamente organizar uma escaramuça para responder. Esse mecanismo se sucede num longo embate,
até que vence aquele que mais
pontos conseguir marcar.
Bem diferente é o futebol, no
qual os times avançam sobre o
terreno do adversário, o contato
físico é constante, e nem sempre é
possível fazer gols. Num campo de
grandes dimensões, ocupado por
22 jogadores, uma das maiores
dificuldades é justamente coordenar a passagem da defesa para o
ataque, ou seja, a tentativa de
chegar à meta adversária em condições de finalizar.
Há diversas maneiras de fazer
isso. Em algumas escolas européias, como a italiana, por exemplo, o passe longo -e nem sempre
certeiro- é usado com mais freqüência do que no Brasil, onde se
desenvolveu a tradição do toque
de bola. O bom toque de bola, que
para os brasileiros é sinônimo de
futebol bem jogado, exige jogadores com certas qualidades técnicas. O passe, mesmo a média e
curta distância, dependendo das
circunstâncias, não é algo tão fácil como às vezes pode parecer.
Com a intensa globalização do
futebol europeu, o uso do toque
de bola vai se tornando cada vez
mais comum no velho continente.
Quem acompanhou a vitória do
Barcelona contra o Mallorca pôde observar como o time catalão
troca passes. É algo que já se tornou uma tradição, como observou o comentarista da Sportv
Marcos Caetano, lembrando que
não por acaso o Barça tem contado com forte influência de jogadores brasileiros e holandeses.
Um dos principais traços do técnico da seleção, Carlos Alberto
Parreira, é exatamente tirar partido dessa característica de nosso
futebol. Parreira transforma o toque de bola em arma tática. Com
isso, tenta fazer com que seu time
detenha por mais tempo a bola.
É uma estratégia inteligente,
mas também perigosa. O uso abusivo do toque de bola, com o objetivo tático de retê-la, pode resultar em lentidão e perda de objetividade -como algumas seleções
colombianas já demonstraram à
exaustão. Acaba-se oferecendo ao
adversário a chance de recompor
a defesa, e o ataque torna-se mais
difícil e previsível.
Para superar esse problema,
Parreira conta com a capacidade
individual de nossos jogadores.
Não deixa de ser uma boa aposta.
É claro que a virtude, mais uma
vez, está na boa dosagem. Nem o
por vezes irritante vai-e-vem da
bola das equipes de Parreira, nem
os constantes lançamentos por cima do meio-campo de algumas
esquadras européias. É preciso saber combinar os dois expedientes
e utilizá-los de acordo com o ritmo que se quer imprimir ao jogo.
Crise
Não precisou mais do que um
fraco Paulista para mostrar que
o Corinthians está longe, mas
muito longe mesmo, de ter um
time competitivo. Perdeu a
classificação no grupo mais fácil da competição e -pior ainda- não conseguiu convencer
seus torcedores de que algum
coelho sairá daquela cartola. O
clube cometeu muitos erros e
perdeu tempo, mas ainda pode
correr atrás. O melhor a fazer é
olhar para o médio e longo prazos, o que é difícil num clube de
massas, sempre sob fogo cerrado de torcedores e críticos. O
negócio, porém, é ter calma,
traçar uma estratégia racional
com Oswaldo de Oliveira, repensar as contratações, buscar
os reforços ainda possíveis e
torcer para isso dar resultado.
Não adianta achar que um milagre vai acontecer.
E-mail mag@folhasp.com.br
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