São Paulo, quinta-feira, 09 de março de 2006

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Lula envia carta e oferece ombro a "filho" ilustre

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

FÁBIO VICTOR
DE LONDRES

Em má fase técnica e às turras com seu clube, o Real Madrid, o atacante Ronaldo ganhou um aliado poderoso às vésperas da Copa. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou uma carta de apoio ao jogador e fez questão de mostrar pessoalmente ao técnico da seleção, Carlos Alberto Parreira, que confia no craque para a Copa.
Vaiado pela torcida do time espanhol, excluído da delegação na semana passada e criticado por gente entendida como Pelé e o ex-meia francês Platini, Ronaldo despertou a compaixão de Lula, um apaixonado por futebol.
"Um dia desses, vendo o jogo do Real Madrid, eu vi a torcida vaiar o Ronaldo. Ou seja, eu fiquei, como brasileiro, ofendido, porque acho que o Ronaldo, mesmo no dia em que não joga bem, merece um reconhecimento pelo que ele já fez pelo Real Madrid, pelo Barcelona (...) e sobretudo pelo que ele fez pelo Brasil", disse Lula, numa edição especial do programa de rádio "Café com o Presidente".
No final da tarde de ontem, a assessoria de Ronaldo informou que o atacante não havia recebido a carta ainda.
O programa só iria ao ar na semana que vem, mas a Radiobrás antecipou para ontem a veiculação depois que Lula, diante da imprensa, falou por telefone com Carlos Alberto Parreira, durante a visita a uma exposição em Londres.
Parreira, que foi à cidade acompanhar a eliminação do Real pelo Arsenal, ontem, conversava por telefone com um repórter da TV Globo que estava no local quando Lula passou ao lado. O jornalista informou que era Parreira na linha, e o presidente pediu para falar.
"Oi, querido", disse Lula. "Fiquei muito incomodado ao ver a vaia que ele levou. Aí falei: é nos momentos ruins que a gente tem de ajudar as pessoas", prosseguiu, antes da despedida. "Dê um abração nele. Tudo de bom, querido."
No rádio, o presidente disse ter tomado a iniciativa "quase que como se fosse um pai, dando conselho ao filho". Lula também revelou ter enviado carta ao presidente da Fifa, Joseph Blatter, pedindo providências para acabar com o racismo no futebol.
Parreira disse que concorda com Lula sobre o atacante. "Como ele, eu sei que Ronaldo é um patrimônio do futebol nacional, um jogador especial."
Mas apresentou condições. "É importante que Ronaldo entre em forma, que ele volte a jogar. Fiquei satisfeito que ele tenha vindo a Londres [e atuado como titular]. Ele tinha brigado, não tinha jogado a última partida", observou o técnico, confirmando assim o que o próprio atacante negara, as rusgas com sua equipe. "Houve um pequeno problema lá no Real Madrid, mas acho que a coisa agora resolveu."
Parreira contou que, embora não pense em deixar Ronaldo no banco, poderia ser forçado a isso se o técnico Lopez Caro insistisse em manter o jogador na reserva. "Isso [o retorno ao time titular] é fundamental para o Ronaldo e para a seleção. O que não podia acontecer é ele ficar até a Copa sem jogar."
O treinador disse não considerar os comentários de Lula como pressão ou algo semelhante ao célebre "pedido" de Médici para incluir Dario na Copa de 70. "Ele [Lula] nunca deu palpite no futebol, não. Como torcedor, tem todo o direito de se manifestar." Questionado sobre os conhecimentos do presidente no esporte, brincou: "De tática ele não entende. Mas ele gosta [de futebol]. Torcedor não precisa entender de tática, tem que gostar e apoiar".
Desta vez, Parreira se portou de maneira diversa do que fizera em novembro de 2003.
Na ocasião, após o presidente declarar que a equipe nacional dera "vexame contra o Peru" ao empatar em 1 a 1 em Lima pelas eliminatórias, o treinador irritou-se, disse que não analisa os ministérios brasileiros e respondeu com o recado "cada macaco no seu galho".
Ontem, ele opinou também sobre o governo Lula, destacando o baixo crescimento do PIB em 2005, de 2,3%. "Acho que o Brasil deixou de crescer o que não tinha crescido em anos anteriores, mas por outro lado vem mantendo recordes de exportação. É um trabalho bem feito, acredito que a política econômica brasileira tem sido muito bem conduzida."
Ele não revelou em quem votará em outubro, mas elogiou Lula. "Pessoalmente, gosto do presidente. Ele tem feito um esforço muito grande para projetar o Brasil no exterior, e tem conseguido. Como o técnico da seleção, ele nunca vai ter unanimidade. Nesse aspecto, somos muito parecidos."


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