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Lula envia carta e oferece ombro a "filho" ilustre
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
FÁBIO VICTOR
DE LONDRES
Em má fase técnica e às turras
com seu clube, o Real Madrid,
o atacante Ronaldo ganhou um
aliado poderoso às vésperas da
Copa. O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva enviou uma carta
de apoio ao jogador e fez questão de mostrar pessoalmente
ao técnico da seleção, Carlos
Alberto Parreira, que confia no
craque para a Copa.
Vaiado pela torcida do time
espanhol, excluído da delegação na semana passada e criticado por gente entendida como Pelé e o ex-meia francês
Platini, Ronaldo despertou a
compaixão de Lula, um apaixonado por futebol.
"Um dia desses, vendo o jogo
do Real Madrid, eu vi a torcida
vaiar o Ronaldo. Ou seja, eu fiquei, como brasileiro, ofendido, porque acho que o Ronaldo, mesmo no dia em que não
joga bem, merece um reconhecimento pelo que ele já fez pelo
Real Madrid, pelo Barcelona
(...) e sobretudo pelo que ele fez
pelo Brasil", disse Lula, numa
edição especial do programa de
rádio "Café com o Presidente".
No final da tarde de ontem, a
assessoria de Ronaldo informou que o atacante não havia
recebido a carta ainda.
O programa só iria ao ar na
semana que vem, mas a Radiobrás antecipou para ontem a
veiculação depois que Lula,
diante da imprensa, falou por
telefone com Carlos Alberto
Parreira, durante a visita a uma
exposição em Londres.
Parreira, que foi à cidade
acompanhar a eliminação do
Real pelo Arsenal, ontem, conversava por telefone com um
repórter da TV Globo que estava no local quando Lula passou
ao lado. O jornalista informou
que era Parreira na linha, e o
presidente pediu para falar.
"Oi, querido", disse Lula. "Fiquei muito incomodado ao ver
a vaia que ele
levou. Aí falei: é
nos momentos
ruins que a
gente tem de
ajudar as pessoas", prosseguiu, antes da
despedida. "Dê
um abração
nele. Tudo de
bom, querido."
No rádio, o
presidente disse ter tomado a
iniciativa "quase que como se
fosse um pai, dando conselho
ao filho". Lula também revelou
ter enviado carta ao presidente
da Fifa, Joseph Blatter, pedindo
providências para acabar com
o racismo no futebol.
Parreira disse que concorda
com Lula sobre o atacante.
"Como ele, eu sei que Ronaldo
é um patrimônio do futebol nacional, um jogador especial."
Mas apresentou condições.
"É importante que Ronaldo entre em forma, que ele volte a jogar. Fiquei satisfeito que ele tenha vindo a Londres [e atuado
como titular]. Ele tinha brigado, não tinha jogado a última
partida", observou o técnico,
confirmando assim o que o
próprio atacante negara, as
rusgas com sua equipe. "Houve
um pequeno problema lá no
Real Madrid, mas acho que a
coisa agora resolveu."
Parreira contou que, embora
não pense em deixar Ronaldo
no banco, poderia ser forçado a
isso se o técnico Lopez Caro insistisse em manter o jogador na
reserva. "Isso [o retorno ao time titular] é fundamental para
o Ronaldo e para a seleção. O
que não podia acontecer é ele
ficar até a Copa sem jogar."
O treinador disse não considerar os comentários de Lula
como pressão ou algo semelhante ao célebre "pedido" de
Médici para incluir Dario na
Copa de 70. "Ele [Lula] nunca
deu palpite no futebol, não. Como torcedor, tem todo o direito
de se manifestar." Questionado
sobre os conhecimentos do
presidente no esporte, brincou:
"De tática ele não entende. Mas
ele gosta [de futebol]. Torcedor
não precisa entender de tática,
tem que gostar e apoiar".
Desta vez, Parreira se portou
de maneira diversa do que fizera em novembro de 2003.
Na ocasião, após o presidente
declarar que a equipe nacional
dera "vexame contra o Peru"
ao empatar em 1 a 1 em Lima
pelas eliminatórias, o treinador
irritou-se, disse que não analisa
os ministérios brasileiros e respondeu com o recado "cada
macaco no seu galho".
Ontem, ele opinou também
sobre o governo Lula, destacando o baixo crescimento do
PIB em 2005, de 2,3%. "Acho
que o Brasil deixou de crescer o
que não tinha crescido em anos
anteriores, mas por outro lado
vem mantendo recordes de exportação. É um trabalho bem
feito, acredito que a política
econômica brasileira tem sido
muito bem conduzida."
Ele não revelou em quem votará em outubro, mas elogiou
Lula. "Pessoalmente, gosto do
presidente. Ele tem feito um esforço muito grande para projetar o Brasil no exterior, e tem
conseguido. Como o técnico da
seleção, ele nunca vai ter unanimidade. Nesse aspecto, somos
muito parecidos."
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