São Paulo, domingo, 09 de março de 2008

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Seleção não sabe quem lutará por vaga olímpica

Jogo único contra rivais africanas em abril vai decidir ida do país a Pequim

Times europeus ameaçam não liberar estrelas ou só fazer isso em cima da hora, o que, segundo treinador, comprometerá preparação

DA REPORTAGEM LOCAL

O vice-campeonato mundial no ano passado, na China, e a superioridade na América do Sul dão a clara percepção de que a seleção feminina de futebol está garantida em Pequim.
Mas, sob o tradicional esquecimento que o futebol feminino é condenado no país, o clima na equipe é de angústia e apreensão a pouco mais de um mês do jogo único que vai decidir se o Brasil vai ou não defender a medalha de prata conquistada na Olimpíada de Atenas, há quase quatro anos.
O técnico Jorge Barcellos ainda não sabe com quem vai poder contar no confronto diante de Gana ou Nigéria, provavelmente a segunda, que no dia 19 de abril, na China, vai indicar um time para os Jogos. O Brasil não está classificado ainda porque perdeu o último Sul-Americano para a frágil Argentina, quando não teve Marta.
É aí que a porca torce o rabo.
O confronto acontece na mesma época em que o futebol europeu, onde estão hoje quase todas as estrelas nacionais (Marta, Cristiane e Daniela Alves, por exemplo), está a pleno vapor. E seus clubes já enviaram recados à CBF dizendo que não pretendem liberar suas jogadoras ou, se o fizerem, irão se amparar em decisão da Fifa, respeitando no máximo uma semana de antecedência para o duelo decisivo do mês que vem.
"Vamos fazer de tudo para nos classificarmos, mas a preparação está comprometida", admite Barcellos, que usaria este final de semana para fazer contatos antes de anunciar a primeira convocação para o confronto decisivo, amanhã, no Rio de Janeiro.
O treinador enumera vários problemas causados pelo problema no calendário.
"Pode sobrar condição técnica, mas ninguém consegue dar padrão tático e físico para um time em só três dias", diz o treinador, que comandou a seleção no vice mundial. "Ainda existe a questão da adaptação ao fuso horário, ao clima", completa.
Ele também calcula o impacto no elenco pelo fato de estrelas chegarem em cima da hora e tomarem o lugar de novatas. "Imagine uma jogadora roer o osso por semanas e, depois, perder o lugar na hora mais importante. É difícil saber qual será a reação delas", afirma Barcellos, que diz ter ouvido das jogadoras que atuam no exterior a vontade de atuar pela seleção, mas que praticamente todas colocaram obstáculos de seus clubes a esse desejo.
Marta, Cristiane e Daniela Alves estão hoje na Suécia. A primeira, por meio de sua assessoria, diz vai estar em campo no dia 19 de abril, mas sua apresentação só vai acontecer na semana do duelo contra as africanas. Barcellos diz que ter as outras duas juntas é difícil.
"Elas atuam no mesmo clube, que terá jogos pelo Sueco. Liberar as duas é complicado", afirma o treinador, que terá um time mal preparado contra um rival que está longe de ser uma moleza. A Nigéria, por exemplo, esteve na Olimpíada de Atenas e foi eliminada nas quartas-de-final em um jogo apertado (2 a 1) pela Alemanha, atual campeã mundial.
"É uma equipe tradicional, forte e que está disputando agora a Copa da África", declara o técnico Barcellos.
As jogadoras que estão no Brasil lamentam mais uma vez as condições ruins de preparação da seleção. "Sempre deixam tudo para a última hora", afirma a zagueira Tânia Maranhão, do Saad.
Ela diz ter trocado e-mails com as colegas que estão na Europa. E que elas relataram a dificuldade de liberação. "Talvez fosse melhor montar uma base com as jogadoras que estão aqui e disputar esse jogo [de abril] com esse time. Mas, de qualquer forma, vamos, como sempre, vencer as dificuldades e conseguir a vaga", afirma a defensora. (PAULO COBOS)


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