São Paulo, domingo, 09 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Tordesilhas reescrito

Nas eliminatórias, eles riram dos fiascos do Brasil. Agora, é vez de o país se divertir com a desgraça dos vizinhos. Com exceção do virtualmente classificado time de Luiz Felipe Scolari, posição adquirida depois da fácil vitória de ontem sobre a China (4 a 0), a América do Sul agoniza na Copa. Se a primeira fase fosse encerrada ontem, só o Brasil, entre as cinco equipes da região, estaria nas oitavas. Todas as outras partes do planeta representadas em campos coreanos e japoneses têm mais motivos para comemorar, incluindo eternos sacos de pancadas, como as Américas do Norte e Central e a própria Ásia. Na França-98, quando também teve cinco inscritos, a América do Sul classificou quatro equipes para as oitavas.

PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A SEUL

Com a segunda rodada da fase inicial da Copa do Mundo perto do fim, a situação da América do Sul que fala espanhol é dramática.
Uma das maiores favoritas ao título antes de a bola rolar, a Argentina precisa vencer na última jornada a Suécia, líder da chave mais equilibrada do torneio, para não depender de uma improvável combinação de resultados.
O maior rival brasileiro, que nas eliminatórias sul-americanas teve média de quase 2,5 gols por partida, só conseguiu balançar as redes uma vez em dois jogos.
O Paraguai não depende mais de suas próprias forças. Além de golear a Eslovênia em seu último jogo, necessita de uma vitória da Espanha sobre a África do Sul.
"Não existe diferença desse time para o de 1998", afirma o falastrão goleiro Chilavert, sem parecer lembrar que, na Copa francesa, sua equipe passou da primeira fase até com certa folga.
Para ir às oitavas-de-final, o Uruguai precisa vencer o Senegal por dois gols de diferença. Desde 1970 que os bicampeões mundiais não vencem um confronto por vantagem superior a um gol.
O estreante Equador, que perdeu na estréia para a Itália, já poderia estar virtualmente eliminado do Mundial nesta madrugada em caso de derrota para o México.
As quatro equipes sul-americanas que correm agora, com desespero, em busca da classificação às oitavas venceram o Brasil nas eliminatórias, sendo que, para todas, isso foi a primeira vez na história que aconteceu.
Com tantos times à beira da eliminação, a América do Sul, caso só o Brasil se classifique, terá sua menor participação no bolo dos qualificados em uma primeira fase das 15 Copas que tiveram um sistema de grupos, e não o de partidas eliminatórias, como aconteceu em 1934 e 1938.
Uma equipe entre 16 significa um participação de apenas 6,2%. Até hoje, a região, que em 1978 chegou a ter 37% dos classificados da primeira fase, nunca ficou abaixo dos 12,5% dos qualificados no arranque inicial de uma Copa.
Feita uma comparação com o que aconteceu apenas quatro anos atrás, na França, vê-se de forma cristalina o mergulho na mediocridade da América no Sul.
Nos nove jogos iniciais das equipes da região até agora na Coréia e no Japão, aconteceram quatro derrotas. Em campos franceses, em toda a primeira fase, o que significou um total de 15 partidas, a América do Sul só conheceu três derrotas, sendo que duas delas com a Colômbia, sua única representante que foi eliminada na fase de abertura da competição.

Negando fogo
Individualmente, as maiores apostas dos vizinhos brasileiros decepcionam na Ásia.
Chilavert, bem acima do peso, falhou de forma clamorosa no jogo contra a Espanha. O uruguaio Recoba, um dos jogadores mais bem pagos do planeta, não passa a bola para os companheiros e finaliza mal. O argentino Verón não é, até agora, nem sombra do atleta da Copa-98, que realizava todos os fundamentos com eficiência.
"Estou carregando comigo uma pequena lesão na perna direita", se justifica Verón, substituído nas duas partidas realizadas pela Argentina até o momento.



Texto Anterior: Negócio da China

Próximo Texto: Memória: Potências fazem da América do Sul uma referência em Copas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.