São Paulo, domingo, 09 de junho de 2002

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TOSTÃO

Crônica de uma goleada

Pela manhã, antes do jogo, estava sem saber o que fazer. Como com a cobertura do jogo os jornais estariam na banca logo após a partida, teria apenas 15 minutos para analisá-lo. Pensei em escrever duas crônicas. Uma com o Brasil ganhando e jogando bem, e outra ganhando e jogando mal. Depois da partida enviaria a correta. Será que teria de escrever uma terceira, com o Brasil jogando mal e perdendo ou empatando? Seria uma grande zebra.
Arranjei outra solução. Antes da partida, escrevi algumas abobrinhas, como essa que acaba de ler, e completaria no final com um pequeno comentário do jogo.
Anteontem a seleção realizou um bom treino, com os jogadores nas posições corretas e num campo de tamanho normal. Parece óbvio, mas não é. Critico muito os erros do Felipão, mas reconheço seus méritos. Um deles é motivar muito os seus jogadores, titulares e reservas. Ninguém relaxa.
O técnico evoluiu nas convocações, escalações e nos conceitos táticos. No treino, insistiu na marcação por pressão e no posicionamento de Rivaldo pela esquerda, onde ele atua melhor. Nenhuma das duas coisas aconteceu contra a seleção da Turquia.
A insistência do Felipão com os três zagueiros tem uma lógica. Um dos problemas do futebol brasileiro tem sido atuar com três zagueiros e os laterais atacando. Não dá tempo para o volante fazer a cobertura. Mas a solução não passa obrigatoriamente pelos três defensores. Pode-se alternar os avanços dos laterais. Um ataca e o outro se posiciona como um terceiro zagueiro. O time não perderia um defensor na sobra e teria mais um armador ou atacante.
A bola vai rolar. O maravilhoso estádio da ilha de Jeju não está lotado. Numa de suas belíssimas crônicas, Luís Fernando Veríssimo conta que esse é o momento de glória dos técnicos. Os jogadores estão perfilados, formando o desenho tático que ele quer. Quando o árbitro apita, eles não vão parar de correr, para o desespero dos treinadores.
O jogo começou. Ontem, escrevi que a China não era nenhum "bambala". Enganei-me. Aposto no "bambala" e ainda dou um gol de vantagem. Os jogadores brasileiros tiveram muita facilidade para mostrar todo o seu talento e habilidade. A evolução coletiva positiva foi a marcação por pressão em alguns momentos do jogo e as viradas longas de bola, que confundiam a defesa chinesa. Ricardinho entrou e mostrou sua habilidade. Ele vai melhorar a qualidade do meio-campo brasileiro.
De negativo, o posicionamento confuso do Anderson Polga, correndo por todos os lados, sem lugar certo. Não foi zagueiro nem armador.
Os chineses entraram com facilidade na defesa brasileira. Só não conseguiram fazer gols porque se atrapalharam nas finalizações.
Apesar do fraquíssimo adversário, o jogo serviu para reforçar a impressão de que, com alguns craques que temos e com as más atuações de outras seleções fortes, o Brasil vai lutar pelo título.

tostão.folha@uol.com.br



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