São Paulo, domingo, 09 de junho de 2002

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POLÍTICA

Guerra Fria "revive" em duelos contra EUA e Rússia

Anfitriões encaram carrascos do passado

ROBERTO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A SEUL

Para quem um dia dividiu o controle do planeta, chegou a hora de conhecer um mundo onde não são muito bem-vindos.
O lugar em questão é a terra da Copa, Japão e Coréia do Sul. Aos dois, o futebol reservou um reencontro bastante especial: ambos vão ser agora anfitriões de russos e americanos, as superpotências que mais dor de cabeça lhes causaram -e ainda causam.
Na manhã de hoje, em Yokohama, o Japão vai ter pela frente a Rússia. Do outro lado do mar do Japão (ou mar do Leste, para os coreanos), vão a campo, na madrugada de amanhã, Coréia do Sul e EUA. Dois jogos que reúnem ódios de natureza diversa.
No caso coreano, o furor contra os EUA vem da população, que tenta convencer seu governo a negociar a saída das tropas americanas que estão estacionadas no país desde o final da guerra que dividiu a península, em 1953.
Para isso, nenhuma chance de protesto é desperdiçada. Amanhã, por exemplo, além do jogo da Copa em Daegu, acontecerá o funeral de um homem que morreu na quinta-feira, um ano após ter tomado um choque num cabo de alta tensão estendido pelas tropas norte-americanas.
Nesse período, organizações civis da Coréia processaram com sucesso o governo. É a forma legal que têm para atacar os EUA, já que, em casos assim, o acordo assinado entre os países determina que cidadãos coreanos têm de ser recompensados pelo governo local, que só então repassa a conta às Forças Armadas americanas.
No caso de Japão e Rússia, inimigos já no começo do século, quando guerrearam na Manchúria, há divergência entre os governos. Até hoje, 47 anos depois do fim da Segunda Guerra, os países não assinaram um tratado de paz.
Ainda não houve acordo em relação ao controle de quatro ilhas ao norte do Japão, ocupadas e não devolvidas pelos soviéticos após a guerra, em 1945. Essa disputa foi apontada como possível causa de atentados à delegação russa.
No começo do ano, dois fatores contribuíram para que as tensões entre os adversários, que vão a campo hoje, só piorassem.
Na Rússia, o Parlamento aprovou uma resolução sugerindo que o país deixe a mesa de negociações com os japoneses, de forma a mostrar que não quer mais discutir a posse das ilhas.
Nos EUA, um sul-coreano foi desclassificado em uma prova da Olimpíada de Inverno, em Salt Lake City, por supostamente ter cometido uma irregularidade, e sua medalha de ouro foi transferida para um norte-americano.
Agora, a tensão que cerca os jogos é grande. Em Daegu, se está prevista a presença de 5.000 americanos na partida, os coreanos levarão, por precaução, o mesmo número de policiais. Uma tentativa de garantir a ordem num jogo esperado desde dezembro, quando os deuses da bola aproveitaram o sorteio da Copa para revirar o túmulo da Guerra Fria.



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