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Alemanha usa camisa e torcida
Sem Ballack e em meio a críticas, time combate pessimismo para fazer valer seu histórico na Copa
Equipe anfitriã emprega discurso cauteloso diante
de rival que disputa só seu terceiro Mundial e nunca passou das oitavas-de-final
DO ENVIADO A MUNIQUE
Se o capitão e maior estrela
não confia no seu próprio time,
quem mais confiará? É sob o
peso dessa desagradável pergunta que a Alemanha inaugura hoje a segunda Copa disputada em seu território, jogando
contra a Costa Rica, a partir das
18h (13h em Brasília), no gigantesco pneu que é o Estádio de
Munique, construído especialmente para o Mundial.
O capitão em questão chama-se Michael Ballack, tem 29 anos
e já trocou o Bayern de Munique pelo Chelsea na próxima
temporada. Nem por isso deixa
de ser o principal jogador da seleção alemã, ao menos nessa
entressafra de valores.
Aliás, o próprio Ballack nem
estará no jogo de hoje. Sofre de
dores não só na alma, pelas dúvidas sobre a equipe, mas também na panturrilha, suficientes
para afastá-lo até do banco.
Ballack deu uma fieira de entrevistas aos jornais alemães,
nos dias prévios ao início dos
jogos, todas elas negativas.
Exemplo: "Temos jogadores
que estiveram em campo apenas esporadicamente com seus
clubes. Não temos a gama de
escolhas que tivemos na Copa
de 90 ou na Eurocopa de 96
[ambas vencidas pela Alemanha]", disse ao "Handelsblatt".
Além disso, criticou a defesa:
"Não podemos ter uma mentalidade ofensiva, porque nossas
carências estão na defesa".
Os resultados nos amistosos
foram uma gangorra, com vitórias sobre seleções eliminadas
do Mundial (Luxemburgo e Colômbia, por exemplo), mas uma
gangorra mais para baixo, como conseqüência da derrota
por 4 a 1 para a Itália. A goleada
ampliou as críticas sobre o técnico Jürgen Klinsmann, muito
mais ídolo alemão em outros
tempos do que Ballack no presente. O eixo das críticas é mais
a geografia do que o futebol:
Klinsmann mora nos EUA e
não se empenha muito em ficar
tempo demais na Alemanha.
As dúvidas de Ballack, as críticas ao técnico, significam que
a Alemanha jogou a toalha? Impossível. Prova simbólica: no
vazio Estádio de Munique, varrido por um ventinho gelado no
começo da noite de ontem, hora do treino oficial dos alemães
no local do jogo, uma imensa
águia, símbolo do país, vigiava,
da tribuna atrás de um gol, os
atletas que se aqueciam.
A águia -ou mais exatamente os que empunharem as bandeiras da Alemanha- é a maior
esperança da seleção, a julgar
pelo que diz outro grande do futebol local, talvez o maior de todos, Franz Beckenbauer, hoje
comandante da organização da
Copa. "Em princípio não seríamos favoritos. Mas somos porque jogamos em casa. O público
alemão pode nos levar à final",
escreveu para o tablóide "Bild".
O público e o peso da camisa:
a Alemanha só perde, em performance nas Copas, para o
Brasil. Três vezes campeã, quatro vice, um terceiro e um quarto lugar. O jogo de hoje não parece ser problema: a Costa Rica
joga sua terceira Copa e chegou
no máximo às oitavas (1990).
Mesmo assim, o assistente de
Klinsmann, Joachim Löw, exibe o pessimismo de Ballack: "É
o primeiro jogo, e estamos nervosos. Mas fizemos a lição de
casa e estamos em condições de
derrotar a Costa Rica". Acrescenta com a obviedade que não
raro acomete atletas, técnicos
(e jornalistas): "Se mostrarmos
nossa força, venceremos".
(CLÓVIS ROSSI)
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