São Paulo, sexta-feira, 09 de junho de 2006

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Alemanha usa camisa e torcida

Sem Ballack e em meio a críticas, time combate pessimismo para fazer valer seu histórico na Copa

Equipe anfitriã emprega discurso cauteloso diante de rival que disputa só seu terceiro Mundial e nunca passou das oitavas-de-final


DO ENVIADO A MUNIQUE

Se o capitão e maior estrela não confia no seu próprio time, quem mais confiará? É sob o peso dessa desagradável pergunta que a Alemanha inaugura hoje a segunda Copa disputada em seu território, jogando contra a Costa Rica, a partir das 18h (13h em Brasília), no gigantesco pneu que é o Estádio de Munique, construído especialmente para o Mundial.
O capitão em questão chama-se Michael Ballack, tem 29 anos e já trocou o Bayern de Munique pelo Chelsea na próxima temporada. Nem por isso deixa de ser o principal jogador da seleção alemã, ao menos nessa entressafra de valores.
Aliás, o próprio Ballack nem estará no jogo de hoje. Sofre de dores não só na alma, pelas dúvidas sobre a equipe, mas também na panturrilha, suficientes para afastá-lo até do banco.
Ballack deu uma fieira de entrevistas aos jornais alemães, nos dias prévios ao início dos jogos, todas elas negativas. Exemplo: "Temos jogadores que estiveram em campo apenas esporadicamente com seus clubes. Não temos a gama de escolhas que tivemos na Copa de 90 ou na Eurocopa de 96 [ambas vencidas pela Alemanha]", disse ao "Handelsblatt".
Além disso, criticou a defesa: "Não podemos ter uma mentalidade ofensiva, porque nossas carências estão na defesa".
Os resultados nos amistosos foram uma gangorra, com vitórias sobre seleções eliminadas do Mundial (Luxemburgo e Colômbia, por exemplo), mas uma gangorra mais para baixo, como conseqüência da derrota por 4 a 1 para a Itália. A goleada ampliou as críticas sobre o técnico Jürgen Klinsmann, muito mais ídolo alemão em outros tempos do que Ballack no presente. O eixo das críticas é mais a geografia do que o futebol: Klinsmann mora nos EUA e não se empenha muito em ficar tempo demais na Alemanha.
As dúvidas de Ballack, as críticas ao técnico, significam que a Alemanha jogou a toalha? Impossível. Prova simbólica: no vazio Estádio de Munique, varrido por um ventinho gelado no começo da noite de ontem, hora do treino oficial dos alemães no local do jogo, uma imensa águia, símbolo do país, vigiava, da tribuna atrás de um gol, os atletas que se aqueciam.
A águia -ou mais exatamente os que empunharem as bandeiras da Alemanha- é a maior esperança da seleção, a julgar pelo que diz outro grande do futebol local, talvez o maior de todos, Franz Beckenbauer, hoje comandante da organização da Copa. "Em princípio não seríamos favoritos. Mas somos porque jogamos em casa. O público alemão pode nos levar à final", escreveu para o tablóide "Bild".
O público e o peso da camisa: a Alemanha só perde, em performance nas Copas, para o Brasil. Três vezes campeã, quatro vice, um terceiro e um quarto lugar. O jogo de hoje não parece ser problema: a Costa Rica joga sua terceira Copa e chegou no máximo às oitavas (1990).
Mesmo assim, o assistente de Klinsmann, Joachim Löw, exibe o pessimismo de Ballack: "É o primeiro jogo, e estamos nervosos. Mas fizemos a lição de casa e estamos em condições de derrotar a Costa Rica". Acrescenta com a obviedade que não raro acomete atletas, técnicos (e jornalistas): "Se mostrarmos nossa força, venceremos".
(CLÓVIS ROSSI)


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