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Análise
Na Alemanha, o oba-oba é contido
SILVIA BITTENCOURT
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Tendo investido bilhões de
euros para fazer desta Copa
um show impecável, a Alemanha já vem empolgando
torcedores do mundo todo
com bolas de aço gigantes,
estádios de futebol com cobertura que muda de cor e
outras atrações. Não há nada, porém, que convença os
próprios alemães, um povo
pessimista por natureza.
Assim como no ano passado não houve oba-oba depois
que escolheram um alemão
para papa, agora a empolgação com a Copa, se comparada com o Brasil, é contida. Os
alemães mostram-se de uma
racionalidade tremenda,
mesmo frente a uma Copa do
Mundo no próprio país.
Enquanto o Brasil se preocupa com o peso e as bolhas
de Ronaldo, os jornais sérios
alemães especulam sobre as
conseqüências da eventual
visita do presidente do Irã
aos jogos, calculam a quantidade de lixo que a Copa produzirá e lamentam o fato de o
evento não ter criado o número de empregos esperado.
Os alemães vêem problema em tudo, a começar pela
comercialização do futebol,
exagerada na visão dos consumidores. Também temem
a confusão nas cidades por
onde vão passar as seleções.
Eles podem até fazer festa
na hora de receber um time,
mas, no fundo, preferem o
sossego, uma cidade limpa e
parques intactos e vazios.
Não surpreende o fato de
quase 30% dos berlinenses
afirmarem que, se pudessem, fugiriam da cidade nas
próximas quatro semanas.
A pressão em cima dos alemães para passar uma boa
imagem do país também vem
dando muita dor de cabeça,
já que a fama deles no quesito simpatia não é das melhores. Quando o logotipo da
Copa foi divulgado, dois anos
atrás, os jornais questionaram se os três rostos sorrindo e alegres, formando o número 2006 e chamando para
o slogan "tempo para fazer
amigos", realmente expressavam o espírito do povo.
Essa preocupação até levou várias instituições e empresas a enviar profissionais
-policiais, garçons, taxistas- para cursos sobre como
lidar de forma cordial com
turistas. "Organizar seminários é tipicamente alemão",
diz o psicólogo Arne Germann, da cidade de Aachen,
para quem tais cursos não levam a nada. "Eles precisam
simplesmente relaxar."
Quando o assunto é futebol,
os alemães também não relaxam e criticam o time, o técnico que vive fora do país e a
falta de ingresso para os jogos. Uma minoria ínfima crê
que o país ganhará a Copa.
Caso a seleção alemã emplaque e chegue perto da final, milhares de torcedores
até irão às ruas para festejar.
Mas certamente haverá
quem reclame dessas manifestações patrióticas. Afinal,
60 anos depois de terminada
a 2ª Guerra -o maior trauma
do país-, muitos alemães
ainda se sentem constrangidos na hora de gritar e torcer.
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