São Paulo, quarta-feira, 09 de junho de 2010

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TOSTÃO

Como sabe? Sabendo


O Brasil tem reservas com características diferentes, mas não possui uma variação tática

CONTRA A TANZÂNIA, Ramires entrou no segundo tempo e fez o que faz bem, que é, com suas pernas finas e movimentos rápidos, aparecer de surpresa na área rival para fazer gols e confundir os zagueiros. Se jogasse mais adiantado, como um meia, isso não aconteceria, já que seria muito mais marcado.
Mas não se entusiasme. O jogo contra a Tanzânia não serve de parâmetro. Como armador, Ramires é confuso, erra muitos passes e perde, com frequência, a bola. Perde e recupera. Ele é rápido, antecipa-se e desarma bem.
Depois que Felipe Melo entrou na seleção, melhorou a saída de bola da defesa, menos nos dois amistosos. Mas ele dá o passe e fica. Não tem velocidade, mobilidade nem habilidade para avançar.
Como o Brasil costuma marcar atrás para contra-atacar, como fez em seus melhores momentos nos últimos anos, Felipe Melo e Gilberto Silva são eficientes. Mas isso é pouco.
Se o Brasil avançar a marcação, principalmente ante times mais fracos, poderá precisar de armadores mais leves, como Ramires, Daniel Alves e Josué.
Todos os reservas que entram, mesmo com características diferentes, atuam nas posições dos titulares. Não há uma variação tática. Uma seria jogar com dois meias (Robinho e Kaká) e dois atacantes (Luis Fabiano e Nilmar). Outra seria atuar com um meia (Kaká) e três na frente (Luis Fabiano, pelo centro, e Robinho e Nilmar, pelos lados). Nas duas situações, sairia Elano ou um dos dois volantes.
A dúvida é se Dunga terá sensibilidade e flexibilidade para mudar o time na hora certa, seja colocando um jogador da mesma posição com características diferentes, como tem feito, seja alterando o esquema tático, o que nunca faz.
É uma ilusão excessivamente operatória achar que, para ser um ótimo técnico, basta ter muitos conhecimentos técnicos e táticos, dar bons treinos e ser um eficiente comandante. Tudo isso é essencial, mas o grande treinador é o que sabe também observar e, na hora certa, sair da mesmice, utilizando a intuição (conhecimentos inconscientes), como fazia Felipão. Técnico de talento também improvisa.
Em todas as atividades, existe um saber que antecede o raciocínio lógico. Como a pessoa sabe? Sabendo. Sabe, porém não sabe que sabe. Faz e depois analisa por que fez. "As coisas não têm explicação, têm existência." (Fernando Pessoa)
Muitas vezes, o significado é posterior ao fato.


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