São Paulo, quarta-feira, 09 de junho de 2010

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JOHN CARLIN

Favoritos e nem tanto


Para aqueles que veem o futebol como um jogo que obedece à razão, só há uma aposta: Espanha

NUNCA SE pode ter certeza, já que o futebol é um esporte notoriamente engraçado, de que duas seleções nem tão favoritas, como Argentina e Inglaterra, não serão capazes de causar surpresa e chegar à final da Copa. Parece ilógico, eu sei. É o mesmo que dizer, como alguns dos mais românticos, que uma seleção africana vencerá a primeira Copa no continente, em um caso clássico de justiça poética.
É verdade que a Inglaterra não tem goleiro, que acaba de perder seu capitão e principal zagueiro e que, excetuados Steven Gerrard e Frank Lampard, cujo problema é não poderem jogar juntos, seu meio-campo é um mar dos Sargaços de mediocridade. Já o ataque só conta com o truculento, mas imensamente talentoso, Wayne Rooney.
Mas eles têm um Dunga italiano, Fabio Cappelo, um sargento-mor frio e racional que sabe transformar porcos em pérolas ou, no mínimo, ter resultados imerecidos com um futebol tedioso e mecânico.
Já a Argentina, ao contrário da Inglaterra, tem um ataque impressionante, liderado pelo magnífico Lionel Messi. Mas não tem meio-campo ou defesa, e seu técnico é o mais insensato do mundo. Maradona é o anti-Capello, o anti- -Dunga: volátil, irresponsável e absurdamente indisciplinado.
Qualquer técnico argentino com um mínimo de juízo faria todo o possível para propiciar alegria e paz de espírito a Messi.
Mas não "el Diego", que sente clara ambiguidade diante da possibilidade de dividir com Messi o pedestal das divindades argentinas. E, por isso, está tentando enlouquecer seu comandado.
Um dia, Maradona diz que Messi é o melhor do mundo. Depois, que é um fominha egoísta. Um dia, afirma que Messi será seu herdeiro como melhor jogador de futebol de todos os tempos. Depois, que Messi não gosta da Argentina e que lhe falta raça.
Ainda assim, quem sabe? Messi talvez supere tudo isso, ou Rooney talvez faça desta a sua Copa. Podem fazer com que o impensável aconteça e dar a Argentina ou Inglaterra o título mundial.
Mas, para aqueles que imaginam o futebol como um jogo que obedece à razão, só há uma aposta possível: a Espanha. Ou, se o seu raciocínio estiver colorido de nostalgia patriótica, o Brasil.


O britânico JOHN CARLIN é colunista do diário espanhol "El País" e autor de "Conquistando o Inimigo - Nelson Mandela e o Jogo que Uniu a África do Sul", livro que inspirou o filme "Invictus"

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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