São Paulo, quarta-feira, 09 de junho de 2010

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XICO SÁ

Corvo abre Copa do azar


Os seguidos 0 a 0 nos ensaios do grupo unido do professor Dunga animaram nossa ave agourenta

Amigo torcedor, amigo secador, na companhia do amigo Chico Bacon, criatura do Caco Galhardo, o corvo Edgar desceu na África do Sul e já prepara os seus rituais agourentos contra os favoritos, entre eles a seleção brasileira, óbvio, seu alvo predileto.
O estrago já começou com as contusões que rondam equipes poderosas como Alemanha e Inglaterra. Sobre o time brasuca o corvo não despeja suas energias negativas nesse aspecto: torce para que o Dunga conte mesmo com o elenco original, o seu unido grupo. Nada de surpresas que possam dar brilho ao escrete.
Infiltrado ontem no churrasco e no pagode canarinho, Edgar recitou os seus mantras e começou os trabalhos, repertório de mandingas que herdou do Pai Edu e do Pai Santana, entidades místicas e catimbozeiras que prestavam serviços ao Náutico e ao Vasco da Gama, respectivamente.
Em sobrevoo rápido na concentração da Coreia do Norte, corvejou eufórico com a destemida declaração do Jong Tae-se, o Rooney asiático: "O jogo será muito difícil, mas nós podemos vencer o Brasil. Todo mundo pensa que não podemos vencer, mas temos um coração valente e muito espírito. Corações valentes fazem milagres".
Edgar não acredita na velha máxima que diz que treino é treino e jogo é jogo, frase do craque Didi. Os seguidos 0 a 0 nos ensaios do grupo unido do professor Dunga animaram sobremaneira a nossa estimada ave agourenta. "Quem não faz no treino, não faz no jogo", vaticina o sujeito.
Sábio, o corvo não mistura futebol com nacionalidade. Aprecia mesmo é a pátria em pornográficos shortinhos azuis, verdes e amarelos, como desfilam as moças nos bares e boates durante a Copa. "Não caio no conto do tio Nelson, sem essa de pátria em chuteiras", esnoba o nosso Shakespeare.
Machista, porco chauvinista, Edgar diz que o Mundial é futebol para dona de casa: "Homem que é homem aprecia mesmo é o embate da Segundona para baixo". Até o Chico Bacon, menos enfezado, se espanta com o radicalismo da agourenta ave.
Com uma agenda que inclui catimbó nas concentrações dos favoritos e rezas fortes para as zebras, hoje o corvo, no seu périplo africano, faz uma visita mística ao craque Drogba. Promete deixá-lo inteiro para o jogo contra o Brasil. "Passam Portugal e Costa do Marfim", chuta o balde.

xico.folha@uol.com.br


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