São Paulo, terça-feira, 09 de julho de 2002

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BASQUETE

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MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Ele tem 19 anos e deve assinar um contrato que vai lhe render US$ 6,7 milhões até 2005. Mas completou um trimestre sem participar de uma partida oficial. Seu time, o Denver, ainda não tem técnico. Ele não sabe, portanto, como vai jogar. Ora, não sabe nem onde vai morar. Não sabe uma palavra de inglês. E, não podemos culpá-lo, o ala-pivô Nenê também não sabe quando poderá se afastar da NBA e se juntar à seleção brasileira.
Ele é o melhor armador do basquete nacional. Aos 25 anos, atingiu a maturidade em quadra. Combina velocidade, drible e visão de jogo. Um Mundial pode não ser o palco ideal para experiências. Mas os próprios colegas de esporte não hesitavam em apontá-lo como o novo titular. Na semana passada, contudo, Valtinho abortou o futuro. Alegou misteriosos problemas "físicos e pessoais" e pediu dispensa.
Há tempos, ele é considerado o mais versátil jogador do país. Infiltra bem, chuta bem, passa bem, vai bem nos rebotes. Porém, cansado de levar calote dos patrões ao final de todo mês, resolveu ampliar os horizontes profissionais. Nesta semana, embarca para os EUA. Marcelinho, 27, trocará os treinos da seleção por um torneio de verão em Salt Lake City, pela chance de mostrar sua habilidade para os "olheiros" do basquete norte-americano e europeu.
Assim, sem os três principais titulares, sem a espinha dorsal força-cérebro-talento, o Brasil engata em Uberlândia (MG) a rotina de treinamentos para o Mundial.
Não param aí os problemas da comissão técnica para o torneio, que começa em 29 de agosto em Indianápolis e é fundamental para a seleção retomar o seu espaço na elite da bola laranja.
O próprio treinador se apresentou com alguns dias de atraso. É que, até a quinta-feira passada, quando renovou por R$ 50 mil mensais com o Vasco, Hélio Rubens estava simplesmente à procura de emprego.
Boa parte dos selecionados passa pelo mesmo apuro.
Leandrinho, por exemplo, não tem a menor idéia de onde jogará depois do Mundial. A grande revelação do primeiro semestre, o armador de 19 anos viu a equipe do Bauru se dissolver enquanto a cidade ainda festejava a conquista do inédito título nacional. É isso mesmo: hoje, no basquete, os patrocinadores abandonam até o campeão brasileiro.
Vanderlei, companheiro de Leandrinho no Bauru e na seleção, parece ter acertado com o Ajax, de Goiás. Dizem que pode ser o mesmo destino de Rogério, ex-Vasco. Demétrius, Helinho, Michel, Sandro Varejão, enfim, vai longe a lista dos convocados que precisam conciliar os treinos em Uberlândia com a negociação de novos contratos.
Um deles, o pivô Luís Fernando, 24, estuda tomar a mesma atitude de Marcelinho: abandonar os treinos para arriscar a sorte na pré-temporada norte-americana.
Leitores otimistas relevam as tristes coincidências dessa largada. Lembram o futebol, que saiu desacreditado e se arrumou em plena Copa do Mundo. E Hélio Rubens, indagam, não tem o mesmo carisma, a mesma ascendência sobre o grupo, o mesmo cartel de vitórias, não tem até o mesmo bigode do Felipão? Ok, a superação faz mesmo parte da história do basquete nacional. Mas Scolari tinha o lastro dos Ronaldos, de Rivaldo. A serviço de Hélio Rubens nos EUA, só o "R" de raça.

Seleção 1
A comissão técnica teve o mérito de sepultar a tradição de convocar dezenas de jogadores à beira de uma competição importante. Desta vez, a lista já nasceu enxuta, com 17 atletas (cinco serão cortados antes do embarque). E a atitude de Valtinho e a desafortunada contusão de Estevam podem resolver as únicas injustiças da relação: as ausências de Arnaldinho (Araraquara) e Janjão (Ajax).

Seleção 2
O Brasil vai medir forças três vezes contra a seleção de Cuba, que não se classificou para o Mundial. O primeiro confronto é neste domingo em Uberlândia, com transmissão da Bandeirantes. Os outros dois, terça e quinta em Goiás, serão exibidos pela Sportv.

Seleção 3
Ainda que transparente, preocupa o papel ativo da Universo, parceira de equipes do Nacional, no esquema de treinos da seleção.

E-mail melk@uol.com.br



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