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FUTEBOL
Ricardo Terxeiro, digo, Terceiro
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Caro leitor, o que você prefere: falar sobre a Copa dos
Campeões ou sobre os campeões
da Copa? Eu prefiro a segunda
opção, porque eles, sim, foram fabulosos. Aliás, falando em fabulosos, hoje vou escrever uma fábula:
Era uma vez, num país muito
belo e distante, um rei chamado
Ricardo Terxeiro, digo, Terceiro.
Ele não era o que se podia chamar de um soberano amado pelos
seus súditos. Contra sua nobre
pessoa havia acusações de desvio
de dinheiro, desmandos e abuso
de poder. Mas ele pouco se importava com isso, confiando na tradição de impunidade há longos
anos vigente nos seus domínios.
Preocupados com tal situação,
alguns conselheiros chegaram a
promover uma Comissão Palaciana de Inquérito, que descobriu
novas irregularidades, como empréstimos suspeitos e ajuda financeira a nobres que ajudavam a esconder seus atos condenáveis.
Diante das evidências levantadas, muitos davam como certa a
sua deposição.
Naqueles dias, porém, houve
uma grande batalha contra reinos de todo o mundo, e os soldados daquele país foram convocados para participar dela. O esperto monarca tratou então de chamar um velho e experimentado
general, e este reuniu os melhores
combatentes daquele tempo para
formar seu exército.
Lá estavam, por exemplo, o célebre barão Marcos, que apanhava com as mãos as pedras lançadas pelas catapultas inimigas; sir
Cafu, que participara dos mais
famosos torneios da época; lorde
Roberto Carlos, um hábil disparador do canhão; o conde Kleberson, uma arma surpresa para as
batalhas renhidas.
E que dizer, então, da infantaria, que exibia lutadores de renome, entre eles dom Rivaldo, Ronaldinho, o lanceiro que usava
seus dentes gigantes como escudo,
Ronaldo, o artilheiro do topete
exterminador, e Juninho, o pequeno gigante?
Os guerreiros marcharam para
o Oriente e lá enfrentaram oponentes temíveis: as hostes de turcos infiéis, os soldados do mandarim, os temíveis piratas do Caribe,
os cavaleiros da Távola Redonda
e, por fim, as hordas de bárbaros
com suas costeletas loiras.
Foram combates muito parelhos e verdadeiramente dignos
das grandes crônicas do passado,
mas, por fim, os guerreiros do distante reino conseguiram derrotar
todos os seus inimigos e deixaram
a terra do sol poente carregando
os louros da vitória.
Ao chegarem de volta, os vitoriosos soldados foram recebidos
em festa pelos camponeses humildes e desfilaram sobre o lombo de
cavalos pelas principais aldeias
do país. No meio dos festejos, porém, muitos notaram que Ricardo Terxeiro, digo, Terceiro, se
misturava aos guerreiros e comemorava a vitória como se tivesse
derrubado inimigos e deixado seu
sangue no campo de batalha.
Alguns homens ainda se perguntaram: "Aquele não é Ricardo, o rei injusto sobre quem pesam graves acusações?". Mas a
maioria estava tão embriagada
pelas façanhas dos guerreiros que
pouca importância dava ao fato.
E assim, Ricardo Terxeiro, digo,
Terceiro, conseguiu desviar a
atenção dos magistrados, dos
conselheiros e dos homens de bem
do país, deixando de lado as acusações contra seu governo. Todos
quiseram apertar sua mão, até os
lordes da oposição, e ele voltou a
ser considerado um soberano honesto e honrado.
Moral da história: O sucesso faz
mal para a memória.
Brasília ou Bosta?
Qual deveria ser a primeira
cidade visitada pela seleção
brasileira após a conquista da
Copa-2002? Brasília é a capital do país, mas, na verdade, a
seleção só passou por lá para
que o presidente lucrasse um
pouco com a vitória dos jogadores. E, apesar do valor de
uma Copa do Mundo, me parece um exagero que os atletas sejam condecorados como se fossem bravos expedicionários a retornar da guerra. O Rio, tirando Juninho
(que é Paulista até no apelido), não tinha jogador de nenhum de seus clubes na seleção, e a Cidade Maravilhosa
só recebeu tanta atenção por
abrigar a sede da CBF. Por isso acho que os jogadores deveriam ter ido direto para o
Jardim Irene. Não para São
Paulo, mas para o Jardim Irene. Quem quisesse se aproveitar da mídia, fosse o presidente, o governador ou a prefeita, teria que ir até a rua da
Bosta.
E-mail torero@uol.com.br
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