São Paulo, terça-feira, 09 de julho de 2002

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FUTEBOL

Ricardo Terxeiro, digo, Terceiro

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Caro leitor, o que você prefere: falar sobre a Copa dos Campeões ou sobre os campeões da Copa? Eu prefiro a segunda opção, porque eles, sim, foram fabulosos. Aliás, falando em fabulosos, hoje vou escrever uma fábula:
Era uma vez, num país muito belo e distante, um rei chamado Ricardo Terxeiro, digo, Terceiro.
Ele não era o que se podia chamar de um soberano amado pelos seus súditos. Contra sua nobre pessoa havia acusações de desvio de dinheiro, desmandos e abuso de poder. Mas ele pouco se importava com isso, confiando na tradição de impunidade há longos anos vigente nos seus domínios.
Preocupados com tal situação, alguns conselheiros chegaram a promover uma Comissão Palaciana de Inquérito, que descobriu novas irregularidades, como empréstimos suspeitos e ajuda financeira a nobres que ajudavam a esconder seus atos condenáveis. Diante das evidências levantadas, muitos davam como certa a sua deposição.
Naqueles dias, porém, houve uma grande batalha contra reinos de todo o mundo, e os soldados daquele país foram convocados para participar dela. O esperto monarca tratou então de chamar um velho e experimentado general, e este reuniu os melhores combatentes daquele tempo para formar seu exército.
Lá estavam, por exemplo, o célebre barão Marcos, que apanhava com as mãos as pedras lançadas pelas catapultas inimigas; sir Cafu, que participara dos mais famosos torneios da época; lorde Roberto Carlos, um hábil disparador do canhão; o conde Kleberson, uma arma surpresa para as batalhas renhidas.
E que dizer, então, da infantaria, que exibia lutadores de renome, entre eles dom Rivaldo, Ronaldinho, o lanceiro que usava seus dentes gigantes como escudo, Ronaldo, o artilheiro do topete exterminador, e Juninho, o pequeno gigante?
Os guerreiros marcharam para o Oriente e lá enfrentaram oponentes temíveis: as hostes de turcos infiéis, os soldados do mandarim, os temíveis piratas do Caribe, os cavaleiros da Távola Redonda e, por fim, as hordas de bárbaros com suas costeletas loiras.
Foram combates muito parelhos e verdadeiramente dignos das grandes crônicas do passado, mas, por fim, os guerreiros do distante reino conseguiram derrotar todos os seus inimigos e deixaram a terra do sol poente carregando os louros da vitória.
Ao chegarem de volta, os vitoriosos soldados foram recebidos em festa pelos camponeses humildes e desfilaram sobre o lombo de cavalos pelas principais aldeias do país. No meio dos festejos, porém, muitos notaram que Ricardo Terxeiro, digo, Terceiro, se misturava aos guerreiros e comemorava a vitória como se tivesse derrubado inimigos e deixado seu sangue no campo de batalha.
Alguns homens ainda se perguntaram: "Aquele não é Ricardo, o rei injusto sobre quem pesam graves acusações?". Mas a maioria estava tão embriagada pelas façanhas dos guerreiros que pouca importância dava ao fato.
E assim, Ricardo Terxeiro, digo, Terceiro, conseguiu desviar a atenção dos magistrados, dos conselheiros e dos homens de bem do país, deixando de lado as acusações contra seu governo. Todos quiseram apertar sua mão, até os lordes da oposição, e ele voltou a ser considerado um soberano honesto e honrado.
Moral da história: O sucesso faz mal para a memória.

Brasília ou Bosta?
Qual deveria ser a primeira cidade visitada pela seleção brasileira após a conquista da Copa-2002? Brasília é a capital do país, mas, na verdade, a seleção só passou por lá para que o presidente lucrasse um pouco com a vitória dos jogadores. E, apesar do valor de uma Copa do Mundo, me parece um exagero que os atletas sejam condecorados como se fossem bravos expedicionários a retornar da guerra. O Rio, tirando Juninho (que é Paulista até no apelido), não tinha jogador de nenhum de seus clubes na seleção, e a Cidade Maravilhosa só recebeu tanta atenção por abrigar a sede da CBF. Por isso acho que os jogadores deveriam ter ido direto para o Jardim Irene. Não para São Paulo, mas para o Jardim Irene. Quem quisesse se aproveitar da mídia, fosse o presidente, o governador ou a prefeita, teria que ir até a rua da Bosta.

E-mail torero@uol.com.br



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