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STOP & GO
O novo Senna
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
Do final dos 80 até maio de
94, a mídia internacional, notadamente a brasileira e a européia, lidou com um dos maiores fenômenos de comunicação
produzidos pelo esporte.
Senna, o semideus das pistas e
do marketing, que com suas falas enigmáticas e visões do paraíso, sem falar nas gracinhas
sob medida para jornal nacional, movimentava batalhões.
A F-1, o esporte, apenas detalhes. Senna era a notícia. Suas
palavras, reproduzidas com
exatidão doentia e interpretadas à exaustão. Afinal, uma
vírgula, uma respiração mais
longa, qualquer coisa poderia
ter significado.
Sua morte não poderia ter
provocado nada diferente do
que se viu. Maciça, intensiva,
exagerada, masturbatória guerra do golfo de um homem só.
Toda a desgraça do mundo
condensada em uma única vida. Ou morte. Tanto faz.
Desde então, vivemos de funerais. E de frustradas tentativas
de fabricar heróis. Alguns legítimos, a maioria de consumo
fácil, descartável.
Pintou até um Ronaldinho,
que não brilha, é lustrado. E
que pode até provocar histeria,
mas não deixa marcas. Cuja
resposta padrão se resume a
sorrisos e um complacente "é
verdade", conveniente para
perguntas bobas que quase
sempre já oferecem a réplica.
No dia 8 de junho, porém, algo surgiu. Um magricela cabeludo, que a maioria nunca ouviu falar, simplesmente ganhou. E ganhou bem, diariamente, apagando o ontem para
gerar a expectativa de amanhã.
Que pode até ter perdido ontem. Mas que será notícia amanhã, depois de amanhã e até o
assunto esgotar. O que não deve
acontecer até junho do ano que
vem -na melhor das hipóteses.
Gustavo Kuerten já ocupa a
vaga de Senna. Não se sabe por
quanto tempo, mas ele está lá.
Tomara que eles recomponham o tal tema da vitória.
Pois, pelo andar da carruagem,
vai cansar de tocar.
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