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FUTEBOL
Folha teve acesso à versão que foi apresentada pelo ministro a FHC
Esclareça as suas dúvidas
sobre o projeto da lei Pelé
MARCELO DAMATO
da Reportagem Local
As declarações do presidente da
Fifa, João Havelange, e a repercussão do caso mostraram que ainda
persistem dúvidas sobre o alcance
do projeto de lei elaborado pelo
ministro dos Esportes, Edson
Arantes do Nascimento, o Pelé.
Até Havelange admitiu que não leu
o projeto antes de criticá-lo.
Mas a Folha teve acesso ao texto,
numa versão quase igual à que foi
apresentada ao presidente Fernando Henrique Cardoso.
Leia a seguir as principais questões sobre o projeto de lei e veja o
que aconteceria caso o projeto seja
aprovado do jeito que está:
Os clubes vão ser obrigados a virar empresa no Brasil?
Não. O projeto de lei Pelé mantém o texto da Lei Zico, criando a
opção da transformação do clube,
ou no seu departamento de futebol
profissional, em empresa. Clubes
de outros esportes podem também
ser empresas, como já acontece no
basquete e vôlei.
O projeto prevê que os clubes
vão perder a isenção fiscal?
Apenas os que possuem categoria profissional de futebol. Os clubes que tiverem profissionalismo
em outros esportes ou apenas
amadorismo não serão atingidos.
O projeto prevê vantagem para
os clubes que virarem empresa?
Sim. O texto diz que os clubes
que adotarem esse caminho terão
direito a uma tributação especial,
mais simples (menor número de
impostos a pagar) e menos onerosa (menos dinheiro pago a título
de imposto). Mas isso acontece
apenas no caso em que os investidores externos tenham controle
sobre a nova empresa.
A forma dessa tributação especial ainda não está definida. O secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, é contra essa solução. Assessores de Pelé já discutem
uma alternativa.
A CBF e as federações vão perder
poder?
Sim, mas pouco. A perda está
concentrada apenas na independência dos tribunais esportivos.
Os clubes vão poder formar ligas
sem permissão da CBF?
Formalmente sim, na prática,
não. Pelo projeto, é possível
criá-las, mas dificilmente elas terão sucesso esportivo e comercial
se a Fifa não reconhecê-las. E a lei
não pode obrigar a Fifa a reconhecê-las.
A CBF vai tratar apenas da seleção e perder ingerência no Campeonato Brasileiro?
Não. O poder da CBF vai depender muito mais da composição de
forças do que da lei. Associações
fortes de clubes, como o Clube dos
13, já tiram parte do poder da CBF.
O projeto prevê a criação de liga
de árbitros?
Não. Permite a criação de empresas de arbitragem, que venderiam serviços a federações e ligas.
Essas empresas de juízes vão administrar a arbitragem?
Depende das federações e ligas.
Se quiserem, podem delegar esse
poder a elas. Também podem contratar os serviços delas, ou simplesmente ignorá-las.
O que muda no futebol com essas empresas?
Mudam as relações de trabalho
entre federações e juízes. Hoje, eles
são contratados um a um e podem
requerer o reconhecimento do
vínculo empregatício com a federação, já que cumprem horário e
se subordinam a elas. Para evitar
esses processos, as federações
obrigam os clubes a pagá-los.
Pelo projeto, seriam as empresas
que seriam contratadas, como
prestadoras de serviço, e acabaria
o problema trabalhista.
O projeto acaba com o passe no
futebol?
Sim, dois anos após a lei entrar
em vigor. Até lá, fica valendo a Resolução do Passe, baixada em outubro pelo Ministério dos Esportes
e não aplicada até hoje pela CBF,
que a considera ilegal.
A composição do tribunais esportivos proposta pelo projeto é
novidade no Brasil?
Não. A Lei Zico, aprovada em
1993, já determina isso. O projeto
Pelé é quase uma cópia da Lei Zico.
As federações de futebol se recusam a aplicar a lei, argumentando
que é preciso primeiro reformar o
Código Brasileiro Disciplinar do
Futebol. Mas em outros esportes,
como no handebol, isso já foi feito.
O projeto desfaz essa polêmica e
determina aplicação imediata.
A independência dos tribunais
esportivos é novidade do Brasil?
Não. Isso já está em vigor desde a
Lei Zico. Mesmo no futebol, algumas federações dizem respeitar essa independência, como é o caso
de São Paulo.
O Estado vai interferir na Justiça
esportiva?
Não. O projeto só estabelece a
composição dos tribunais e separa
o "executivo" do "judiciário" no
esporte. O governo não terá assento nos tribunais. Os auditores serão indicados pela Ordem dos Advogados do Brasil, atletas, clubes,
federação e árbitros.
Os dirigentes de clubes poderão
ser responsabilizados por má administração dos clubes?
Sim. A lei estabelece isso, Eles terão responsabilidade penal, cível e
fiscal pelos atos que cometerem na
direção dos clubes.
O Ministério Público vai passar a
fiscalizar federações e clubes?
Sim. Isso hoje só acontece se é
descoberto um problema nos balanços. O projeto prevê uma fiscalização permanente, como acontece como entidades beneficentes.
O projeto de lei está pronto para
ser apresentado ao Congresso?
Não. A versão que está com a Casa Civil é a terceira e deve surgir
mais uma. Os advogados da Presidência da República analisam se
existe alguma afronta à Constituição. E ainda não está definido que
incentivo os clubes terão para virar empresa.
Mas as mudanças devem ser
muito pequenas em relação ao texto enviado por Pelé.
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