São Paulo, sábado, 09 de agosto de 2008

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JUDÔ

"Volta às origens" prejudica Derly

Federação planeja na Olimpíada coibir estilo muito defensivo, adotado pelo brasileiro

BRASIL
Meio-leve entra no tatame. Horário: eliminatórias, 1h, e final, 7h de amanhã

DO ENVIADO A PEQUIM

Em Pequim, o judô voltará às origens. E o brasileiro mais prejudicado com isso é o bicampeão mundial dos meio-leves, João Derly, que estréia nos Jogos na madrugada de amanhã.
Apesar de saber aplicar técnicas clássicas, o gaúcho tem como característica o estilo de luta praticado no Leste Europeu, freqüentemente definido no meio do judô como "briga de gatos". Ele se notabiliza por uma defesa forte, com o corpo encolhido para baixar o centro de gravidade, cabeça abaixada, esquivas e ataques nas pernas.
É justamente isso que a FIJ (Federação Internacional de Judô) quer coibir nos Jogos.
"Não temos nada contra outras modalidades, como a luta olímpica. Mas queremos preservar o espírito do judô. Não houve mudança nas regras, ainda. Mas aplicaremos a regra mais estritamente a tudo que concerne ao judô negativo", diz o espanhol Juan Barcos, diretor de arbitragem da FIJ.
Depois de Pequim, a entidade deverá alterar formalmente as regras nesse sentido. Golpes aplicados sem prévia troca de pegadas na parte superior do quimono não valerão pontos e há a possibilidade da extinção do koka, de menor pontuação, consignado quando um judoca faz o rival cair sentado.
Barcos define o judô negativo como: judoca excessivamente defensivo, com posição muito baixa, fugindo do kumikata (troca de pegadas) e sempre agarrando as calças do quimono de seu oponente.
Indagado sobre o porquê da nova orientação, ele cita a competição em que o Brasil obteve seu melhor resultado (três ouros e um bronze).
"Talvez, pouco a pouco, tenham sido permitidas coisas demais. É só lembrar o Mundial do Rio, que teve combates que não eram reais confrontos de judô, que eram combates de luta. Isso não é nosso esporte. E nossa obrigação é manter a pureza desse esporte", diz ele, enfatizando que a técnica do judô deve se sobrepor à defesa.
Para Barcos, a orientação não irá comprometer a crescente internacionalização do judô. "Isso não é bom para os japoneses, mas para os bons judocas. E há bons judocas no mundo inteiro. O Brasil é um exemplo: não tem judocas que vencem somente pela força."
Na equipe brasileira, a orientação aos juízes gerou dúvidas. Luis Shinohara, treinador do time masculino, acredita que só com as primeiras lutas, que começariam na madrugada de hoje, as equipes terão uma noção mais precisa de quão rigorosa será a arbitragem.
"O que interfere na verdade é essa regra", diz ele, apontando um documento ilustrado com fotos e distribuído pela FIJ aos árbitros e às equipes.
"Ela pune quem bloquear o ataque rival segurando na calça. E também não pode pegar a calça para fazer o ataque, o que todo mundo fez até esta competição", afirma Shinohara, que lembra que, além de Derly, o meio-pesado e também campeão mundial Luciano Corrêa usa essa tática.
(LUÍS FERRARI)



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