São Paulo, domingo, 09 de agosto de 2009 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PAULO VINICIUS COELHO O óbvio é difícil
DOIS DIAS depois de colocar a Traffic na parede e forçar o compromisso de não vender jogadores até o final do Brasileirão, o presidente do Palmeiras, Luiz Gonzaga Belluzzo, ouviu um sincero "parabéns!". Respondeu que não fez mais do que a obrigação de um presidente de clube e escutou que, apesar disso, era muito difícil comprar a briga que comprou. "É!", concordou. "O óbvio é difícil!", respondeu. Óbvio, ele também afirma, é que os clubes forcem a inversão do calendário, como a proposta apresentada por Lula à CBF na sexta. Num torneio disputado entre setembro e maio, menor será o impacto do êxodo sobre o campeonato mais nobre da temporada. Maior será a chance de o Brasileirão gerar mais dinheiro para todos. Até para quem vende jogador ou publicidade em televisão. Mas a semana, que começou com um grito de "independência ou morte", do Palmeiras, terminou com nota oficial da TV Globo, dando conta de que é contra a mudança. O argumento: "Não traz qualquer benefício aos clubes ou aos campeonatos disputados no país, além de descaracterizar a temporada brasileira, que termina nas férias de verão, como na Europa... Vai apenas adiar o problema da transferência de jogadores de julho/agosto para janeiro". Adiar não é o verbo. Dos 220 jogadores escalados como titulares na última rodada em 2008, só Thiago Silva foi embora em janeiro. Desde 2003, 60 atletas saem em média durante a Série A. O desmanche do Corinthians é o exemplo recente. O êxodo virou vício e isso explica a reação reticente do presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio, ao comentar a intenção do Palmeiras de não vender ninguém até dezembro. "Isso quem regula é o mercado. Se surgir boa proposta, vende." Ao mesmo tempo em que diz isso, Juvenal recusa propostas medíocres por jogadores como Hernanes e Miranda. "Ofertas chegam, mas em valores que não seduzem", afirma. São Paulo e Palmeiras contrariam a gestão de Cruzeiro, que vendeu Wagner e Gérson Magrão, e Internacional, que perdeu Nilmar. "O único jeito de tornar o clube viável é vender um jogador por ano", dizem Zezé Perrella, do Cruzeiro, e Fernando Carvalho, do Inter. Na terça, Belluzzo peitou a Traffic, mas também pediu debates mais profundos sobre o êxodo. O presidente do Palmeiras se debruça sobre os balanços de clubes da Inglaterra e Espanha: "São trágicos", afirma. Por que a Alemanha, dona da maior economia da Europa, não contrata a peso de ouro, enquanto Itália, Espanha, Inglaterra e Turquia fazem isso? Só os financiamentos bancários, do Real Madrid, e as suspeitas sobre a origem do dinheiro de Chelsea e Fenerbahce explicam. Lá, muitas vezes a gestão é ruim, mas a concorrência é desigual, porque baseada em dinheiro suspeito. Diminuir a fragilidade brasileira exige alinhar o interesse econômico ao esportivo, como disse Belluzzo. Em outras palavras, disputar o campeonato até o fim e, então, vender. Tanto mais cara será a venda quanto melhor o resultado esportivo. O campeonato fica melhor, o jogador vale mais, paga-se mais pelo pay-per-view e pela publicidade. Mas a nota da Globo deixa claro: o óbvio é difícil. pvc@uol.com.br Texto Anterior: A rodada: Fluminense tenta manter recuperação Próximo Texto: Brasileiro desfila artilharia genérica Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |