São Paulo, sábado, 09 de setembro de 2006

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RODRIGO BUENO

Do Chile-2004 ao Brasil-2014

DEZ anos separam o Pré-Olímpico de 2004, no Chile, do Mundial de 2014, no Brasil. E dez anos, um pouco mais ou um pouco menos, marcam a história de uma geração de jogadores em uma seleção. O grupo que o técnico Dunga reuniu e que vem obtendo resultados e elogios é recheado de nomes que fracassaram de forma precoce na luta pelo inédito ouro em Atenas.
Alex, Daniel Carvalho, Dudu Cearense, Elano, Gomes e Robinho terão idade e maturidade suficientes para representar o país na tal Copa brasileira. Assim como Kaká (que só não foi ao Chile porque o Milan não deixou), Diego (novamente bem), Nilmar (presença certa na seleção quando voltar a atuar), Edu Dracena (mais um comprado pelo futebol turco), Dagoberto (ainda uma promessa) e outros daquela turma de Ricardo Gomes. O deslize no Chile é tão passado que já brota um sentimento otimista para a Copa de 2010.
Dunga e sua renovada seleção estão no rumo certo, apontam até os que não se animaram após os 3 a 0 sobre a Argentina (Tevez foi um dos que dobraram o Brasil em 2004).
Talvez porque exista desconfiança sobre a realização da Copa-2014 no Brasil (a chance de ela não ocorrer é quase a mesma de o Rio ser sede da Olimpíada-2016), não vi exercícios de futurologia sobre como seria esse Mundial em campo para o país.
Não será só mais uma Copa, uma luta por um hexa, um hepta. Será o torneio em que o Brasil será mais cobrado a vencer. Por ser anfitrião e por não saber lidar até hoje com o Maracanazo de 1950, o país carregará, mais que o rótulo de favorito, fardo enorme. Tenho pena desde já dos atletas que tentarão "redimir" Barbosas e Bigodes, que terão a missão de afugentar o maior e talvez único fantasma que assombra o futebol nacional. "Pipocar", no Brasil, virou algo imperdoável, ainda mais em Copa e em casa. Kaká, que pinta como líder da seleção, ganhou fama de pipoqueiro por não vencer um Paulista (e olha que ele perdeu com o Milan duas Copa dos Campeões que estavam no papo). O que seria de sua imagem, aos 32 anos, se sucumbisse com o Brasil em 2014? Ronaldinho, que não esteve no Pré-Olímpico, apareceria daqui a oito anos e assumiria a responsabilidade? Tem muito chão pela frente, claro.
Mal vejo Dunga à frente da seleção em 2010. Mas os jovens que brilham agora estarão ativos em 2014. Talvez como o Ronaldo de 2006, mas convocáveis. Pode ser um cenário de terror para garotos como o Marcelo, que largou com a camisa canarinho com um belo gol na última terça, mas, assim como não confio na capacidade dos cartolas brasileiros em organizar uma Copa decente, não creio que a torcida irá tratar bem uma seleção que não conquiste o Mundial em casa. Pensei nisso ao ver o ônibus da renovada seleção alemã sair aplaudido do estádio com o terceiro lugar na Copa-06. Como a seleção brasileira vai sair do estádio em 2014? Será como a de 2004?

KAKÁ
O gol que ele fez contra a Argentina foi construído, pelas minhas contas, em nove toques em 60 m. São 6,6 m, em média, a cada toque. Não há quem o alcance em uma corrida pela vaga no time titular.

GOMES
Dida atacou e amainou o preconceito no país contra goleiros que não são brancos que vem desde 1950 com Barbosa. O novo titular pode sepultá-lo em 2014.

ELANO
"Redescoberto" contra a Argentina, foi um dos poucos a falar após a queda no Pré-Olímpico, quando indagado se o grupo não ficaria marcado pelo fracasso. "É uma palavra forte, pois temos a vida pela frente. Podemos voltar à seleção", disse ele, que comparou os 3 a 0 com o dia do nascimento da filha.

rbueno@folhasp.com.br


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