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RODRIGO BUENO
Do Chile-2004 ao Brasil-2014
DEZ anos separam o Pré-Olímpico de 2004, no Chile, do
Mundial de 2014, no Brasil. E
dez anos, um pouco mais ou um
pouco menos, marcam a história de
uma geração de jogadores em uma
seleção. O grupo que o técnico Dunga reuniu e que vem obtendo resultados e elogios é recheado de nomes
que fracassaram de forma precoce
na luta pelo inédito ouro em Atenas.
Alex, Daniel Carvalho, Dudu Cearense, Elano, Gomes e Robinho terão idade e maturidade suficientes
para representar o país na tal Copa
brasileira. Assim como Kaká (que só
não foi ao Chile porque o Milan não
deixou), Diego (novamente bem),
Nilmar (presença certa na seleção
quando voltar a atuar), Edu Dracena
(mais um comprado pelo futebol
turco), Dagoberto (ainda uma promessa) e outros daquela turma de
Ricardo Gomes. O deslize no Chile é
tão passado que já brota um sentimento otimista para a Copa de 2010.
Dunga e sua renovada seleção estão no rumo certo, apontam até os
que não se animaram após os 3 a 0
sobre a Argentina (Tevez foi um dos
que dobraram o Brasil em 2004).
Talvez porque exista desconfiança
sobre a realização da Copa-2014 no
Brasil (a chance de ela não ocorrer é
quase a mesma de o Rio ser sede da
Olimpíada-2016), não vi exercícios
de futurologia sobre como seria esse
Mundial em campo para o país.
Não será só mais uma Copa, uma
luta por um hexa, um hepta. Será o
torneio em que o Brasil será mais cobrado a vencer. Por ser anfitrião e
por não saber lidar até hoje com o
Maracanazo de 1950, o país carregará, mais que o rótulo de favorito, fardo enorme. Tenho pena desde já dos
atletas que tentarão "redimir" Barbosas e Bigodes, que terão a missão
de afugentar o maior e talvez único
fantasma que assombra o futebol
nacional. "Pipocar", no Brasil, virou
algo imperdoável, ainda mais em
Copa e em casa. Kaká, que pinta como líder da seleção, ganhou fama de
pipoqueiro por não vencer um Paulista (e olha que ele perdeu com o
Milan duas Copa dos Campeões que
estavam no papo). O que seria de sua
imagem, aos 32 anos, se sucumbisse
com o Brasil em 2014? Ronaldinho,
que não esteve no Pré-Olímpico,
apareceria daqui a oito anos e assumiria a responsabilidade?
Tem muito chão pela frente, claro.
Mal vejo Dunga à frente da seleção
em 2010. Mas os jovens que brilham
agora estarão ativos em 2014. Talvez
como o Ronaldo de 2006, mas convocáveis. Pode ser um cenário de
terror para garotos como o Marcelo,
que largou com a camisa canarinho
com um belo gol na última terça,
mas, assim como não confio na capacidade dos cartolas brasileiros em
organizar uma Copa decente, não
creio que a torcida irá tratar bem
uma seleção que não conquiste o
Mundial em casa. Pensei nisso ao
ver o ônibus da renovada seleção
alemã sair aplaudido do estádio com
o terceiro lugar na Copa-06. Como a
seleção brasileira vai sair do estádio
em 2014? Será como a de 2004?
KAKÁ
O gol que ele fez contra a Argentina foi construído, pelas minhas
contas, em nove toques em 60 m.
São 6,6 m, em média, a cada toque.
Não há quem o alcance em uma
corrida pela vaga no time titular.
GOMES
Dida atacou e amainou o preconceito no país contra goleiros que
não são brancos que vem desde
1950 com Barbosa. O novo titular
pode sepultá-lo em 2014.
ELANO
"Redescoberto" contra a Argentina, foi um dos poucos a falar após
a queda no Pré-Olímpico, quando
indagado se o grupo não ficaria
marcado pelo fracasso. "É uma palavra forte, pois temos a vida pela
frente. Podemos voltar à seleção",
disse ele, que comparou os 3 a 0
com o dia do nascimento da filha.
rbueno@folhasp.com.br
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