São Paulo, terça-feira, 09 de setembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JOSÉ ROBERTO TORERO

O nome dela era Renata


Ela era como a seleção brasileira de futebol, às vezes despertando sonhos, às vezes me fazendo sofrer tanto

EU TINHA 13 anos. Ela sentava algumas carteiras à minha frente. Era a menina mais linda que eu já tinha visto. Quando sorria, era como se o sol brilhasse no meio da classe. Eu passava horas olhando para seu rabo de cavalo, sem dúvida o culpado por muitas das notas vermelhas que tirei naquele ano.
Algumas vezes, quando ela me dava um bom dia mais simpático, eu pensava: "Ela me ama, ela me ama...". Outras, como quando ela ria de algum tropeção que eu dava na aula de educação física, eu dizia para mim: "Ela me despreza, ela me despreza...". Com a seleção é mais ou menos a mesma coisa. Se ela faz um bom jogo, como o de domingo, temos certeza de que nosso amor é correspondido e de que seremos felizes para sempre. Porém, se ela perde para a Argentina, como nas semifinais da Olimpíada, sabemos que ela é uma infiel, uma desprezível, que só nos trará tristeza e lágrimas.
Hoje, terça, após uma bela vitória no fim de semana, estamos em namoro com a seleção. Gostaríamos de andar de mãos dadas com ela pela praia com o pôr-do-sol ao fundo.
O Brasil ganhou bem. E fora de casa, o que estava sendo um tanto raro.
Jogou sem medo, colocou os atacantes que queríamos ver em campo, e os gols surgiram. É claro que tudo poderia ser diferente se Suazo não tivesse perdido aquele gol aos 13min. A equipe poderia ter ficado nervosa, teria que partir para cima, não teria contra-ataques para explorar, e hoje estaríamos chamando a seleção de ingrata, fútil, maldita.
Mas não foi o que aconteceu. O que aconteceu é que a defesa portou-se bem (com exceção de Kléber), os volantes foram eficientes (principalmente Josué), Diego armou com inteligência, e os três atacantes saíram-se a contento.
Robinho foi rápido, movimentou-se bem e surpreendeu a defesa. Luis Fabiano fez dois gols e deu o passe para o terceiro, números que falam melhor que letras.
Já Ronaldinho Gaúcho, se não foi genial, pelo menos não foi mal. Esforçou-se, lutou, cobrou bem a falta que deu origem ao primeiro gol e saiu chateado de campo, o que é sinal de que quer jogar. Mas Dunga tomou a decisão certa ao substituí-lo por Juan (que poderia ter começado como titular). Naquele instante, Ronaldinho realmente era o pior homem do ataque. Aliás, com a volta de Kaká, o mais lógico seria que ele fosse para a reserva, e não Diego, que é o único com características de armador no time.
Contando com o jogador do Milan, eu deixaria Robinho pela esquerda (no lugar de Ronaldinho, e onde melhor jogava pelo Santos), Kaká pela direita e Luis Fabiano pelo meio do ataque. Diego ficaria à frente de dois volantes. Mas é claro que, se Ronaldinho voltar à sua melhor forma, o que me parece muito possível, há que se pensar noutro desenho.
Amanhã teremos novo teste, desta vez contra a Bolívia, que é a última colocada nas eliminatórias. Ela tem cinco derrotas em sete jogos e a pior defesa, com 20 gols sofridos.
Mesmo assim, há que esperar para ver se a seleção, como Renata, vai sorrir para nós ou rir de nós. O mais provável é que sorria, mas as meninas, e o futebol, são imprevisíveis.

torero@uol.com.br



Texto Anterior: Vôlei: As decepções e o adeus
Próximo Texto: Massa vê erro em manobra de Hamilton
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.