São Paulo, sexta-feira, 09 de setembro de 2011

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XICO SÁ

O fim da alegria triste


Há algo mudado na feição do botafoguense. E não é só pelo fato de ter dormido vice-líder


Amigo torcedor, amigo secador, e se o oceano incendiar, e se cair neve no sertão, e se o urubu cocorocar, e se o Botafogo for campeão...
Meu estimado corvo Edgar, louco pelo time da estela solitária, acordou ontem cantando essa canção do Chico e do Francis Hime. O agourento aposta no título do Fogão. Este cronista, por tabela, também faz fé na profecia corvídea.
Vi no sorriso do carioca Mauricio Stycer, com quem encontrei ontem por acaso, uma premonição de título. Alegria de botafoguense, além de ser alegria cética, alegria de canto de boca, costuma durar pouco, como reza a mística da estrela solitária. Não é o que sinto este ano. Além do time ser bom e bem treinado por Caio -Harry Potter- Jr., há algo diferente no semblante dos botafoguenses.
Eles continuam ímpares, como dizia o tio Nelson: "Ponham uma barba postiça num torcedor do Botafogo, dêem-lhe óculos escuros, raspem-lhe as impressões digitais e, ainda assim, ele será inconfundível." O que faz este tipo de alvinegro inconfundível seria a descrença na sua equipe. Não é o que vemos no momento. Há algo mudado na feição do botafoguense. E não é pelo simples fato de ter dormido vice-líder da quarta para a quinta-feira. É mais profunda a mudança.
A minha amiga Dee Moreira, a boca mais bonita do Rio, moradora do bairro homônimo do seu time, está com um sorriso em franca metamorfose. É desse contentamento diferente, desmentindo toda a mística, a que me refiro. Ela chegou, outro dia, a morder involuntariamente os lábios de mel testando essa nova espécie de alegria alvinegra. Fiquei abestalhado como um incrédulo Martim Soares Moreno babando pela índia Iracema na saga alencarina.
Repare, amigo, como andam os botafoguenses. Até parece que o Garrincha ressuscitou e está entre eles. Repare como está mais rock'n'roll o sorriso do colega Arthur Dapieve. O admirador da estrela solitária está em plena mudança de pena, como um corvo nos melhores presságios. É, meu caro, acabou a antiga história de "minha alegria é triste", como na música do rei Roberto Carlos. Conta um amigo que até um garçom botafoguense do Bar Lagoa virou o homem mais cordial e sorridente do mundo. Segundo a lenda, os garçons da casa são conhecidos pelo mau-humor permanente. Há algo mesmo de novo no balneário carioca.
Loco Abreu já havia cantando essa bola. Mas sempre com a estrela nas alturas e os pés no "chon", como no portunhol selvagem do Herrera.

xico.folha@uol.com.br

@xico


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