São Paulo, domingo, 09 de outubro de 2005

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ATLETISMO

Pam Reed, 44, recordista dos EUA em provas de 24 horas, planeja fazer prova de 800 quilômetros contra homem

Mãe de cinco corre 11 maratonas sem parar

Arquivo Pessoal
A ultramaratonista norte-americana Pam Reed, que tem como projeto fazer uma prova de 500 milhas


RODOLFO LUCENA
EDITOR DE INFORMÁTICA

Escondida sob o disfarce de uma dona-de-casa comum, obrigada a interromper a entrevista para receber o sujeito que vem consertar a geladeira, está uma superatleta -a primeira pessoa a correr 300 milhas de uma tacada só, sem descanso. Isso equivale à soma de quase 12 maratonas, percorridas sem parar em pouco mais de três dias. E ela quer mais: sonha em enfrentar um homem ultramaratonista em uma prova de 500 milhas, pouco menos que ir e voltar de São Paulo a Curitiba.
Trata-se de Pam Reed, uma loira bronzeada de 44 anos, pequena e musculosa, mãe de cinco filhos -dois de seu primeiro casamento, dois trazidos pelo atual marido e o mais novo fruto de seu atual casamento, com Jim. No tempo que sobra de suas responsabilidades domésticas e de sua atuação como empresária -é a proprietária da Maratona de Tucson, no Arizona, EUA-, ela treina por desertos e montanhas para superar desafios que parecem loucura para os mortais comuns.
Já correu mais de cem maratonas e outras tantas ultramaratonas -provas mais longas que a competição tradicional, de 42.195 metros. É dona de vários recordes sancionados pela Associação Norte-Americana da Ultramaratona, mas celebra como maior conquista o fato de ser a primeira mulher -por enquanto, a única- a ter vencido a Ultramaratona de Badwater, prova de 217 quilômetros apontada como uma das mais difíceis dos EUA, começando no ponto mais baixo do hemisfério ocidental, no Vale da Morte, e indo até a metade da mais alta montanha dos Estados Unidos continental, o monte Whitney, na Califórnia.
Também teve derrotas frustrantes, fracassando na tentativa de cumprir o que, para ela, seria um trajeto menor. Mas o abandono da prova de Leadville foi marcante e pontua esta entrevista, feita em agosto, em que fala sobre conquistas, treinos e como passou de uma pessoa com distúrbios alimentares -foi anoréxica por 15 anos- a uma ultramaratonista, que prepara o livro "The Extra Mile", que conta sua jornada.

Folha - Como foi correr 300 milhas sem parar?
Pam Reed -
Aquilo foi uma coisa completamente mental. Eu simplesmente fiz. Para você ter uma idéia, no final de semana passado [20-21 de agosto], participei de uma corrida de 160 milhas em Leadville [www.leadvilletrail 100.com], Colorado, e tive de parar depois de 80 milhas. Passei mal do estômago. Ou seja, as coisas nem sempre funcionam.
Mas aquelas 80 horas sem parar, acho que era um objetivo que eu simplesmente sabia que podia atingir. Agora, meu novo objetivo, mesmo sabendo que eu tentei correr 100 milhas e parei na 80. é correr 500 milhas [804 km].

Folha - 500 milhas?
Reed -
É, eu quero fazer isso correndo contra um homem. Eu me sinto melhor correndo distâncias maiores -100 milhas, por exemplo, pode parecer engraçado, mas não é uma distância grande o suficiente para mim. Eu não sou tão competitiva em distância mais curtas; quanto maior a distância, mais competitiva eu sou.

Folha - Essa prova será uma nova tentativa de comprovar sua tese de que as mulheres são melhores que os homens em distâncias maiores?
Reed -
Eu acho que as mulheres podem ser. A performance das mulheres fica mais próxima da dos homens em distâncias mais longas. A diferença é menor. Acho que quanto mais difíceis forem as condições e quanto mais longa a prova, mais perto ficarão as mulheres.

Folha - Já há definição de data e local para as 500 milhas?
Reed -
Não, não sabemos ainda. Provavelmente será dentro de um ano, mas não sabemos ainda. Imagino que esse projeto será como a Race Across America [corrida de bicicleta], mas não como a Volta da França, que é disputada em etapas. Eu quero uma corrida ponto a ponto na qual você precisa manter um ritmo, ter uma estratégia.

Folha - Como você compara suas vitórias em Badwater?
Reed -
A primeira foi muito legal, por ser a primeira e porque eu ganhei de todo mundo por muito... O segundo lugar, o homem que chegou em segundo chegou cinco horas mais tarde. Aquilo foi demais, uma experiência sensacional.

Folha - Você começou a correr maratonas em 1988. O que a fez passar para as ultras?
Reed -
Acho que foi apenas um processo progressivo... Naquela época, eu não tinha nem corrido corrido 13 milhas [meia maratona]. Então corri uma meia maratona. Daí foi uma progressão. Eu fazia triatlos, fazia a distância olímpica [1.500 metros de natação, 40 quilômetros de bicicleta, dez quilômetros de corrida] e levava mais ou menos duas horas e meia, duas e quarenta. Então eu pensei: "Bem, acho que consigo correr uma maratona". Então simplesmente fui lá e corri. Deu um clique, caiu a ficha.
Foi uma coisa de que eu realmente gostei muito. Adoro maratonas, a distância é ótima. Como já tinha uma maratona, acabei fazendo várias outras.
Então fui ao Canadá, onde fiz um ironman [3.800 metros de natação, 180 km de bicicleta, 42,2 km de corrida]. Isso foi em 1990, e eu me saí muito bem -fiquei em nono lugar no feminino, foi uma experiência muito boa. Depois disso, começaram as ultramaratonas. Minha primeira ultra foi uma prova de cem quilômetros em Elkhorn [www.elkhorn100.com], em 1990, com meu marido -terminamos em último lugar.

Folha - Como são seus treinos?
Reed -
Eu corro três ou quatro vezes por dia e faço minhas tarefas domésticas no meio tempo. Por exemplo: se eu acordo às cinco, corro até as seis. Quando voltou, preparo meu filho menor para ir a escola e enquanto isso lavo alguma roupa ou lavo os pratos. Depois que ele vai para a escola, faço outras coisas -agora tenho trabalhado no meu livro ["The Extra Mile - The Tale of an Ultrarunner", Rodale Press]. Depois cuido do e-mail e então vou correr novamente. No total, corro umas 15 ou 20 milhas por dia, todos os dias. Quando chega a época de alguma prova, eu tendo a descansar um pouco. Quando eu corri minha prova de 300 milhas, eu tirei quatro dias de folga.

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