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ATLETISMO
Pam Reed, 44, recordista dos EUA em provas de 24 horas, planeja fazer prova de 800 quilômetros contra homem
Mãe de cinco corre 11 maratonas sem parar
Arquivo Pessoal
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A ultramaratonista norte-americana Pam Reed, que tem como projeto fazer uma prova de 500 milhas |
RODOLFO LUCENA
EDITOR DE INFORMÁTICA
Escondida sob o disfarce de
uma dona-de-casa comum, obrigada a interromper a entrevista
para receber o sujeito que vem
consertar a geladeira, está uma
superatleta -a primeira pessoa a
correr 300 milhas de uma tacada
só, sem descanso. Isso equivale à
soma de quase 12 maratonas, percorridas sem parar em pouco
mais de três dias. E ela quer mais:
sonha em enfrentar um homem
ultramaratonista em uma prova
de 500 milhas, pouco menos que
ir e voltar de São Paulo a Curitiba.
Trata-se de Pam Reed, uma loira bronzeada de 44 anos, pequena
e musculosa, mãe de cinco filhos
-dois de seu primeiro casamento, dois trazidos pelo atual marido
e o mais novo fruto de seu atual
casamento, com Jim. No tempo
que sobra de suas responsabilidades domésticas e de sua atuação
como empresária -é a proprietária da Maratona de Tucson, no
Arizona, EUA-, ela treina por
desertos e montanhas para superar desafios que parecem loucura
para os mortais comuns.
Já correu mais de cem maratonas e outras tantas ultramaratonas -provas mais longas que a
competição tradicional, de 42.195
metros. É dona de vários recordes
sancionados pela Associação
Norte-Americana da Ultramaratona, mas celebra como maior
conquista o fato de ser a primeira
mulher -por enquanto, a única- a ter vencido a Ultramaratona de Badwater, prova de 217 quilômetros apontada como uma
das mais difíceis dos EUA, começando no ponto mais baixo do hemisfério ocidental, no Vale da
Morte, e indo até a metade da
mais alta montanha dos Estados
Unidos continental, o monte
Whitney, na Califórnia.
Também teve derrotas frustrantes, fracassando na tentativa de
cumprir o que, para ela, seria um
trajeto menor. Mas o abandono
da prova de Leadville foi marcante e pontua esta entrevista, feita
em agosto, em que fala sobre conquistas, treinos e como passou de
uma pessoa com distúrbios alimentares -foi anoréxica por 15
anos- a uma ultramaratonista,
que prepara o livro "The Extra
Mile", que conta sua jornada.
Folha - Como foi correr 300 milhas sem parar?
Pam Reed - Aquilo foi uma coisa
completamente mental. Eu simplesmente fiz. Para você ter uma
idéia, no final de semana passado
[20-21 de agosto], participei de
uma corrida de 160 milhas em
Leadville [www.leadvilletrail
100.com], Colorado, e tive de parar depois de 80 milhas. Passei
mal do estômago. Ou seja, as coisas nem sempre funcionam.
Mas aquelas 80 horas sem parar,
acho que era um objetivo que eu
simplesmente sabia que podia
atingir. Agora, meu novo objetivo, mesmo sabendo que eu tentei
correr 100 milhas e parei na 80. é
correr 500 milhas [804 km].
Folha - 500 milhas?
Reed - É, eu quero fazer isso correndo contra um homem. Eu me
sinto melhor correndo distâncias
maiores -100 milhas, por exemplo, pode parecer engraçado, mas
não é uma distância grande o suficiente para mim. Eu não sou tão
competitiva em distância mais
curtas; quanto maior a distância,
mais competitiva eu sou.
Folha - Essa prova será uma nova
tentativa de comprovar sua tese de
que as mulheres são melhores que
os homens em distâncias maiores?
Reed - Eu acho que as mulheres
podem ser. A performance das
mulheres fica mais próxima da
dos homens em distâncias mais
longas. A diferença é menor.
Acho que quanto mais difíceis forem as condições e quanto mais
longa a prova, mais perto ficarão
as mulheres.
Folha - Já há definição de data e
local para as 500 milhas?
Reed - Não, não sabemos ainda.
Provavelmente será dentro de um
ano, mas não sabemos ainda.
Imagino que esse projeto será como a Race Across America [corrida de bicicleta], mas não como a
Volta da França, que é disputada
em etapas. Eu quero uma corrida
ponto a ponto na qual você precisa manter um ritmo, ter uma estratégia.
Folha - Como você compara suas
vitórias em Badwater?
Reed - A primeira foi muito legal, por ser a primeira e porque eu
ganhei de todo mundo por muito... O segundo lugar, o homem
que chegou em segundo chegou
cinco horas mais tarde. Aquilo foi
demais, uma experiência sensacional.
Folha - Você começou a correr
maratonas em 1988. O que a fez
passar para as ultras?
Reed - Acho que foi apenas um
processo progressivo... Naquela
época, eu não tinha nem corrido
corrido 13 milhas [meia maratona]. Então corri uma meia maratona. Daí foi uma progressão. Eu
fazia triatlos, fazia a distância
olímpica [1.500 metros de natação, 40 quilômetros de bicicleta,
dez quilômetros de corrida] e levava mais ou menos duas horas e
meia, duas e quarenta. Então eu
pensei: "Bem, acho que consigo
correr uma maratona". Então
simplesmente fui lá e corri. Deu
um clique, caiu a ficha.
Foi uma coisa de que eu realmente gostei muito. Adoro maratonas, a distância é ótima. Como
já tinha uma maratona, acabei fazendo várias outras.
Então fui ao Canadá, onde fiz
um ironman [3.800 metros de natação, 180 km de bicicleta, 42,2
km de corrida]. Isso foi em 1990, e
eu me saí muito bem -fiquei em
nono lugar no feminino, foi uma
experiência muito boa. Depois
disso, começaram as ultramaratonas. Minha primeira ultra foi
uma prova de cem quilômetros
em Elkhorn [www.elkhorn100.com], em 1990, com
meu marido -terminamos em
último lugar.
Folha - Como são seus treinos?
Reed - Eu corro três ou quatro
vezes por dia e faço minhas tarefas domésticas no meio tempo.
Por exemplo: se eu acordo às cinco, corro até as seis. Quando voltou, preparo meu filho menor para ir a escola e enquanto isso lavo
alguma roupa ou lavo os pratos.
Depois que ele vai para a escola,
faço outras coisas -agora tenho
trabalhado no meu livro ["The
Extra Mile - The Tale of an Ultrarunner", Rodale Press]. Depois
cuido do e-mail e então vou correr novamente. No total, corro
umas 15 ou 20 milhas por dia, todos os dias. Quando chega a época de alguma prova, eu tendo a
descansar um pouco. Quando eu
corri minha prova de 300 milhas,
eu tirei quatro dias de folga.
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