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FUTEBOL
Conversas para não jogar fora
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Quarta-feira é o dia da semana que reservo para vagabundear pelas ruas de Belo Horizonte, para ir ao cinema, ao
banco e ao supermercado.
Quando não há partidas à tarde pela Copa dos Campeões da
Europa, vou à matinê assistir a
um bom filme. É melhor do que
ver em casa. Melhor ainda é ir
com a namorada, sem esquecer
da pipoca.
Na quarta-feira, às vezes vou ao
banco pagar contas, retirar dinheiro e conversar fiado. Sou um
dinossauro, perdido nesse mundo
virtual, que ainda gosta de conversar e resolver as coisas pessoalmente, e não pela internet. Nunca
usei um caixa eletrônico. Se um
ladrão exigir a minha senha, não
vai acreditar que não tenho.
Outro prazer que tenho na
quarta-feira é ir ao supermercado. Pareço um menino empurrando um carrinho de brinquedo.
Compro tudo que é essencial, supérfluo e light -não confundir
com diet. Mas não consigo emagrecer porque tenho compulsão
para beliscar. Diferentemente do
que dizem da cesta básica, a minha conta aumenta todo mês.
Em vez de andar próximo da
minha casa, na quarta-feira caminho pela cidade, principalmente pelo bairro Savassi, onde
sempre encontro com o escritor
Roberto Drummond, imortalizado numa estátua de bronze na
praça. Aproveito para comprar
jornais, olhar discretamente as
fotos eróticas das capas de revistas -são sempre as mesmas mulheres- e tomar um café. Os mineiros aprenderam a fazer um café expresso quase tão bom quanto
os de Paris, Roma e Buenos Aires.
Enquanto descanso durante a
caminhada, converso, principalmente, sobre futebol, sobre o Cruzeiro, o Atlético e os assuntos do
momento. A maioria das pessoas
é contra a anulação dos 11 jogos.
Discordariam também de outras
soluções. Todas são ruins. A
maior parte também acha que há
muito mais árbitros corruptos. Se
for verdade, vou fazer outra coisa,
ser um andarilho.
Alguns torcedores do Cruzeiro
se queixaram da diretoria, que só
contratou atacantes desconhecidos para substituir o Fred, enquanto outros times trouxeram
Petkovic, Nilmar, Luizão e Christian. Os Perrellas só sonham com
um grande negócio.
Os torcedores do Atlético perguntam muito se o Galo vai cair.
Corre grandes riscos. Um deles estava furioso com a manchete que
escutou na TV: "Até o craque Rodrigo Fabri pisou na bola", referindo-se ao pênalti perdido contra o Paraná. O torcedor, com toda razão, disse que Rodrigo Fabri
não é, nunca foi craque. Nem é
um ótimo jogador. É o Rodrigo
cai-cai. De vez em quando, acerta
um bom chute.
Outro amante do futebol me
deu uma boa explicação de craque. Para ele, o ótimo jogador é o
que faz muito bem todas as coisas
esperadas. Já o craque é o que faz
isso e ainda vê o que os outros não
vêem.
Torcedor não quer apenas saber
de melhores momentos, de tira-teimas, de entretenimento, de escândalos, de fofocas e de torcer.
Muitos torcedores querem também entender de futebol.
A quarta-feira está pequena para tantas coisas importantes e
prazerosas que tenho de fazer.
Preciso arrumar mais um dia de
folga na semana.
Festa das crianças
Como os jogadores brasileiros
que atuam no Real Madrid querem apenas brincar na comemoração dos gols, e não ofender ninguém, não deveriam ser impedidos nem reprimidos, apesar da
coreografia da barata ser grotesca. A maioria das outras comemorações é divertida e criativa,
principalmente quando elas são
espontâneas.
Péssimas são as explícitas coreografias comerciais, como a que
fez, recentemente, o Robinho. A
comemoração de um gol é um
momento de alegria incontida, de
total descontração, e não trabalho para garoto-propaganda.
Altitude
Como o Brasil já está classificado para o Mundial da Alemanha
e o jogo em La Paz é quase sempre
ruim e atípico, com qualquer time, essa partida não deve servir
de análise técnica nem para avaliar jogadores que ainda não têm
lugares certos na Copa.
Quando joguei em La Paz, pelo
Cruzeiro, o falecido massagista
Nocaute Jack, que era um lutador
profissional, quis provar que a altitude era apenas um problema
psicológico. Logo que chegamos
ao hotel, ele colocou o saco de
roupas nas costas, subiu dois andares a pé e desmaiou.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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