São Paulo, domingo, 09 de outubro de 2005

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FUTEBOL

Conversas para não jogar fora

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Quarta-feira é o dia da semana que reservo para vagabundear pelas ruas de Belo Horizonte, para ir ao cinema, ao banco e ao supermercado.
Quando não há partidas à tarde pela Copa dos Campeões da Europa, vou à matinê assistir a um bom filme. É melhor do que ver em casa. Melhor ainda é ir com a namorada, sem esquecer da pipoca.
Na quarta-feira, às vezes vou ao banco pagar contas, retirar dinheiro e conversar fiado. Sou um dinossauro, perdido nesse mundo virtual, que ainda gosta de conversar e resolver as coisas pessoalmente, e não pela internet. Nunca usei um caixa eletrônico. Se um ladrão exigir a minha senha, não vai acreditar que não tenho.
Outro prazer que tenho na quarta-feira é ir ao supermercado. Pareço um menino empurrando um carrinho de brinquedo. Compro tudo que é essencial, supérfluo e light -não confundir com diet. Mas não consigo emagrecer porque tenho compulsão para beliscar. Diferentemente do que dizem da cesta básica, a minha conta aumenta todo mês.
Em vez de andar próximo da minha casa, na quarta-feira caminho pela cidade, principalmente pelo bairro Savassi, onde sempre encontro com o escritor Roberto Drummond, imortalizado numa estátua de bronze na praça. Aproveito para comprar jornais, olhar discretamente as fotos eróticas das capas de revistas -são sempre as mesmas mulheres- e tomar um café. Os mineiros aprenderam a fazer um café expresso quase tão bom quanto os de Paris, Roma e Buenos Aires.
Enquanto descanso durante a caminhada, converso, principalmente, sobre futebol, sobre o Cruzeiro, o Atlético e os assuntos do momento. A maioria das pessoas é contra a anulação dos 11 jogos. Discordariam também de outras soluções. Todas são ruins. A maior parte também acha que há muito mais árbitros corruptos. Se for verdade, vou fazer outra coisa, ser um andarilho.
Alguns torcedores do Cruzeiro se queixaram da diretoria, que só contratou atacantes desconhecidos para substituir o Fred, enquanto outros times trouxeram Petkovic, Nilmar, Luizão e Christian. Os Perrellas só sonham com um grande negócio.
Os torcedores do Atlético perguntam muito se o Galo vai cair. Corre grandes riscos. Um deles estava furioso com a manchete que escutou na TV: "Até o craque Rodrigo Fabri pisou na bola", referindo-se ao pênalti perdido contra o Paraná. O torcedor, com toda razão, disse que Rodrigo Fabri não é, nunca foi craque. Nem é um ótimo jogador. É o Rodrigo cai-cai. De vez em quando, acerta um bom chute.
Outro amante do futebol me deu uma boa explicação de craque. Para ele, o ótimo jogador é o que faz muito bem todas as coisas esperadas. Já o craque é o que faz isso e ainda vê o que os outros não vêem.
Torcedor não quer apenas saber de melhores momentos, de tira-teimas, de entretenimento, de escândalos, de fofocas e de torcer. Muitos torcedores querem também entender de futebol.
A quarta-feira está pequena para tantas coisas importantes e prazerosas que tenho de fazer. Preciso arrumar mais um dia de folga na semana.

Festa das crianças
Como os jogadores brasileiros que atuam no Real Madrid querem apenas brincar na comemoração dos gols, e não ofender ninguém, não deveriam ser impedidos nem reprimidos, apesar da coreografia da barata ser grotesca. A maioria das outras comemorações é divertida e criativa, principalmente quando elas são espontâneas.
Péssimas são as explícitas coreografias comerciais, como a que fez, recentemente, o Robinho. A comemoração de um gol é um momento de alegria incontida, de total descontração, e não trabalho para garoto-propaganda.

Altitude
Como o Brasil já está classificado para o Mundial da Alemanha e o jogo em La Paz é quase sempre ruim e atípico, com qualquer time, essa partida não deve servir de análise técnica nem para avaliar jogadores que ainda não têm lugares certos na Copa.
Quando joguei em La Paz, pelo Cruzeiro, o falecido massagista Nocaute Jack, que era um lutador profissional, quis provar que a altitude era apenas um problema psicológico. Logo que chegamos ao hotel, ele colocou o saco de roupas nas costas, subiu dois andares a pé e desmaiou.

E-mail
tostao.folha@uol.com.br

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