São Paulo, sábado, 09 de outubro de 2010 |
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RITA SIZA O exemplo da Índia
ENQUANTO OS AUSTRALIANOS se preparavam para os Jogos de Sydney, em 2000, no canal televisivo ABC passava um programa dos comediantes John Clarke e Brian Dawe, uma série de episódios satíricos em que os dois actores se transfiguravam em dirigentes do comité organizador e largavam piadas com cara muito séria para expor os bastidores de incompetência, corrupção, nepotismo, confusão, burocracia, contrassenso e absurdo por detrás daquela gigantesca empreitada. O programa tinha momentos hilariantes, como por exemplo quando eles perguntavam ao construtor encarregado do estádio olímpico por que a pista da velocidade tinha "mais ou menos cem metros", e não a medida exacta necessária para a prova. Ele respondia que era "mais ou menos a mesma coisa" e garantia que ninguém ia notar a diferença. Em Nova Déli, na Índia, onde estão a decorrer os Jogos da Commonwealth, temos assistido a uma nova versão desta comédia. Se estivessem lá, os dois cómicos australianos não teriam de trabalhar muito. Bastava-lhes ligar a câmara e deixar rolar. Eles apanhariam a turma dos saltos para a água em revolta porque a prancha de dez metros de cumprimento tinha quase 11; os atletas do arco e flecha tão enlouquecidos com os berros do público que já encaravam apontar para a bancada em vez do alvo colorido; o empresário da reciclagem a recolher milhares de bilhetes que os organizadores achavam que era lixo enquanto o pessoal continua a queixar-se de que não consegue comprar entradas; o ciclista que foi desqualificado porque insultou os juízes e se recusou a cumprimentar o rival; os nadadores forçados a abandonar a competição com diarreias e outros problemas gastrointestinais causados pela água da piscina... No último episódio digno de prémio para melhor guião de comédia, milhares de preservativos começaram a ser recolhidos das canalizações da aldeia dos atletas, que já se começavam a queixar dos entupimentos e inundações provocadas pelo excesso de profiláticos despejados nas retretes. Os responsáveis máximos da Federação da Commonwealth tomaram medidas rápidas para lidar com o problema: enviaram equipas para "pescar" os preservativos dos canos e reforçaram a oferta das máquinas que dispensam as camisinhas. Instados a comentar o assunto, reconheceram que a situação era desagradável para os atletas, mas consideraram "muito positivo" e um bom exemplo para as novas gerações que os participantes dos Jogos têm sido responsáveis e praticado "sexo seguro". Muitas vezes a realidade é bem melhor do que a ficção. Texto Anterior: COB tenta acabar com "síndrome de amarelão" do Brasil Próximo Texto: Clássico Índice | Comunicar Erros |
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