São Paulo, domingo, 09 de outubro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Puro sangue

Modalidade cara e elitizada, hipismo leva ao Pan do México time de adestramento com atletas oriundos de famílias humildes

MARIANA LAJOLO
DE SÃO PAULO

A equipe de adestramento que vai ao Pan de Guadalajara transformou em regra o que é exceção em um dos esportes mais caros do mundo.
Três dos quatro titulares do Brasil no México nasceram em famílias com poucos recursos e eram empregados de fazendas e haras quando começaram a montar.
Leandro Silva, 35, Rogério Clementino, 29, e Mauro Júnior, 30, dividem histórias de vida parecidas. E destinos entrelaçados pelo esporte.
Ao lado de Luiza Almeida, 20, têm a missão de conquistar em Guadalajara a vaga em Londres-2012 -campeão e vice vão aos Jogos. No Rio-2007, o Brasil ganhou o bronze.
Silva começou a montar aos oito anos, em São Paulo. Seus pais eram caseiros. Um técnico espanhol percebeu sua habilidade e decidiu incentivá-lo. Não sem antes pôr à prova sua força de vontade.
"Era um esporte muito mais elitizado, gente mais pobre não tinha oportunidade, mas o espanhol gostava do meu jeito", afirma Silva.
"Eu ficava lá trabalhando com os cavalos e, quando todo mundo ia jogar futebol, ele me dava um monte de coisas para fazer. Testava o quanto eu queria mesmo aquilo."
Certa vez, o treinador incluiu o garoto nas aulas que dava na fazenda. O nome de Silva, porém, foi vetado.
"Não queriam me deixar treinar. Mas o espanhol disse: 'Ou o Leandro treina ou ninguém treina'. Aí, me chamaram", diz o cavaleiro, pai de um casal de filhos, ambos atletas de hipismo -a filha se dedica ao adestramento, e o filho pratica saltos.
Já cavaleiro, Silva lembrou dos ensinamentos do técnico quando o então garoto Rogério Clementino lhe pediu uma chance para montar.
Eram companheiros de peladas de futebol e trabalhavam em haras vizinhos no interior de São Paulo.
"Eu nasci em Mato Grosso e perdi o pai cedo. Com 15, 16 anos, quis conhecer mais coisas da vida e ajudar minha família", afirma Clementino, que chegou ao Estado graças ao convite de um amigo.
"Eu limpava baia, era tratador. Acordava cedo, travava dos cavalos e ia ver o Leandro montar. Com o tempo, ele começou a me ensinar."
Em Pequim-2008, Clementino se tornou o primeiro cavaleiro negro do Brasil a disputar uma Olimpíada.
"Eu tento passar isso para os meninos que trabalham comigo. Se você fizer por merecer, vai ter sua chance."
Mauro Júnior tem trajetória semelhante. Foi criado em uma fazenda e teve o primeiro contato com cavalos quando o patrão do pai o deixou cuidar de alguns pôneis que chegaram à propriedade.
"Eu tinha nove anos. Fiquei superfeliz. Montava-os todos os dias, escovava, dava banho. Mas, com o tempo, acabei enjoando", afirma.
"Chegou então aquela fase em que eu só queria saber de futebol. Tinha muitos amigos, e passávamos quase o dia todo jogando", diz.
Mas logo percebeu que não teria futuro nos campos. Foi trabalhar como tratador em um haras em Boituva, na mesma região em que Silva e Clementino montavam. Naquela época, tinha 17 anos.
Começou com cavalos de salto, mas encontrou sua vocação quando passou a domá-los para o adestramento.
"Algumas pessoas que têm condição fazem isso [esporte] por hobby", afirma Silva.
"Para nós, o hipismo deu a chance de sermos profissionais, não só como atletas. Nós trabalhamos com os cavalos, que serão vendidos, ensinamos... É a nossa profissão."


Texto Anterior: Governo demora a dar vistos para Fifa
Próximo Texto: Única mulher do time fez história em 2008
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.