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jogos limpos?
Rebeca se complica e põe em xeque controles do Pan
Análise de laboratório detecta dois doadores em amostras da nadadora
Resultado mostra falha no controle ou fraude da atleta, que já possui pendências de doping e que, se condenada, corre risco de ser banida
ADALBERTO LEISTER FILHO
FÁBIO GRIJÓ
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
O caso de doping de Rebeca
Gusmão, 23, deu nova guinada
ontem, complicando ainda
mais a situação da brasileira,
dona de quatro medalhas no
Pan do Rio, em julho, e respingando nos controles realizados
durante os Jogos continentais.
Segundo nota da CBDA
(Confederação Brasileira de
Desportos Aquáticos), exame
de DNA feito em amostras de
urina da nadadora mostrou que
houve mais de um doador.
Na prática, houve fraude da
atleta, fraude ou falha no trabalho de coleta ou do laboratório.
Hipóteses que arrasam a imagem de "Jogos mais limpos da
história" propalada pela Odepa
(Organização Desportiva Pan-Americana) ao fim do evento.
Os exames foram realizados
pelo Ladetec, único laboratório
do país credenciado pelo Comitê Olímpico Internacional.
"Como responsável pelo antidoping do Pan digo que foram
seguidos os padrões internacionais", afirma Eduardo de
Rose, que coordenou os trabalhos no Rio e é membro da Comissão Médica da Odepa.
Foi De Rose quem requisitou, a pedido da CBDA, que as
amostras de urina de Rebeca
passassem por exame de DNA.
Os testes foram realizados
pelo laboratório Sonda, que, assim como o Ladetec, é ligado à
UFRJ (Universidade Federal
do Rio de Janeiro). Segundo parecer assinado pelos especialistas Franklin Rumjanek e Concy
Caldeira, "as amostras pertencem a doadores diferentes".
Esse resultado foi obtido em
duas das quatro unidades de
urina de Rebeca coletadas durante o Pan. A nadadora passou
por controles promovidos pela
Odepa nos dias 12, 18, 22 e 29.
A manipulação da urina configura nova acusação de doping
contra Rebeca, que já enfrenta
uma denúncia de doping em
exame promovido pela Fina
(Federação Internacional de
Natação) no dia 13 de julho.
"Existe aí um princípio de
fraude. É preciso verificar se
houve falha na coleta ou foi
fraude do atleta. Se houve intenção de burlar, é considerado
doping", diz o advogado Thomaz Mattos de Paiva, especialista em legislação antidoping.
A notícia da duplicidade de
DNA nas amostras de Rebeca
causou estranheza ao presidente da CBDA, Coaracy Nunes.
"Ninguém podia desconfiar
dela até algo concreto acontecer, como foi agora. Isso complica ainda mais a situação da
atleta", comentou o dirigente.
Na mesma nota, a CBDA comunicou que Renata Castro,
diretora médica da confederação, pediu para deixar a entidade alegando motivos pessoais.
Renata foi gerente do controle
antidoping do Pan, sendo subordinada direta a De Rose.
"Ela me procurou ontem [anteontem] à noite. Disse que estava aborrecida e sem paz. Pediu o afastamento e falou que
iria viajar", conta Coaracy.
Renata acompanharia a análise da amostra B do exame de
Rebeca pedido pela Fina. O teste inicial detectou alto índice
de testosterona, hormônio com
efeito anabolizante na musculatura. A análise também constatou que a substância possuía
origem exógena (não foi produzida pelo corpo humano). "Ainda estamos estudando um outro nome", disse Gisliene Hesse, empresária de Rebeca.
Ontem, os advogados Breno
Tannuri e André Ribeiro se
pronunciaram pela primeira
vez, pedindo colaboração da
imprensa para a atleta conseguir escapar de condenação.
"Entendemos que o caso é
complexo e envolve interesses
esportivos e privados de grandes instituições e companhias.
A única possibilidade de a atleta reverter esse caso será com a
ajuda da mídia brasileira."
A atleta decidiu não falar do
caso até que seus advogados fechem uma linha de defesa.
Rebeca também responde a
outra suspeita de doping, em
teste realizado em maio de
2006. Esse caso está na Corte
de Arbitragem do Esporte, em
Lausanne (Suíça), e deve ser
julgado até o final do ano.
Caso seja condenada em
duas dessas pendências, Rebeca será banida do esporte. A nadadora também pode perder as
quatro medalhas (dois ouros,
uma prata e um bronze) conquistadas no Pan, além de ter
seus resultados anulados.
Com isso, a classificação da
equipe brasileira no revezamento 4 x 100 m livre para a
Olimpíada de Pequim, em
2008, também seria afetada.
De Rose afirmou ontem que
ainda iria finalizar o relatório
sobre o no Pan. O informe será
enviado à Odepa, cujo Comitê
Executivo irá se pronunciar a
respeito na semana que vem.
Teriam ocorrido mais três
casos de doping no Pan, não oficializados: do brasileiro Fabrício Mafra (levantamento de peso), do colombiano Libardo Niño (ciclismo) e do nicaragüense
Pedro Wilder (beisebol).
A destituição das medalhas
de Rebeca e Mafra não alteraria
o terceiro lugar do Brasil no
Pan, atrás de EUA e Cuba.
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