São Paulo, sexta-feira, 09 de novembro de 2007

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jogos limpos?

Rebeca se complica e põe em xeque controles do Pan

Análise de laboratório detecta dois doadores em amostras da nadadora

Resultado mostra falha no controle ou fraude da atleta, que já possui pendências de doping e que, se condenada, corre risco de ser banida


ADALBERTO LEISTER FILHO
FÁBIO GRIJÓ
MARIANA LAJOLO

DA REPORTAGEM LOCAL

O caso de doping de Rebeca Gusmão, 23, deu nova guinada ontem, complicando ainda mais a situação da brasileira, dona de quatro medalhas no Pan do Rio, em julho, e respingando nos controles realizados durante os Jogos continentais.
Segundo nota da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), exame de DNA feito em amostras de urina da nadadora mostrou que houve mais de um doador.
Na prática, houve fraude da atleta, fraude ou falha no trabalho de coleta ou do laboratório. Hipóteses que arrasam a imagem de "Jogos mais limpos da história" propalada pela Odepa (Organização Desportiva Pan-Americana) ao fim do evento.
Os exames foram realizados pelo Ladetec, único laboratório do país credenciado pelo Comitê Olímpico Internacional.
"Como responsável pelo antidoping do Pan digo que foram seguidos os padrões internacionais", afirma Eduardo de Rose, que coordenou os trabalhos no Rio e é membro da Comissão Médica da Odepa.
Foi De Rose quem requisitou, a pedido da CBDA, que as amostras de urina de Rebeca passassem por exame de DNA.
Os testes foram realizados pelo laboratório Sonda, que, assim como o Ladetec, é ligado à UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Segundo parecer assinado pelos especialistas Franklin Rumjanek e Concy Caldeira, "as amostras pertencem a doadores diferentes".
Esse resultado foi obtido em duas das quatro unidades de urina de Rebeca coletadas durante o Pan. A nadadora passou por controles promovidos pela Odepa nos dias 12, 18, 22 e 29.
A manipulação da urina configura nova acusação de doping contra Rebeca, que já enfrenta uma denúncia de doping em exame promovido pela Fina (Federação Internacional de Natação) no dia 13 de julho.
"Existe aí um princípio de fraude. É preciso verificar se houve falha na coleta ou foi fraude do atleta. Se houve intenção de burlar, é considerado doping", diz o advogado Thomaz Mattos de Paiva, especialista em legislação antidoping.
A notícia da duplicidade de DNA nas amostras de Rebeca causou estranheza ao presidente da CBDA, Coaracy Nunes.
"Ninguém podia desconfiar dela até algo concreto acontecer, como foi agora. Isso complica ainda mais a situação da atleta", comentou o dirigente.
Na mesma nota, a CBDA comunicou que Renata Castro, diretora médica da confederação, pediu para deixar a entidade alegando motivos pessoais. Renata foi gerente do controle antidoping do Pan, sendo subordinada direta a De Rose.
"Ela me procurou ontem [anteontem] à noite. Disse que estava aborrecida e sem paz. Pediu o afastamento e falou que iria viajar", conta Coaracy.
Renata acompanharia a análise da amostra B do exame de Rebeca pedido pela Fina. O teste inicial detectou alto índice de testosterona, hormônio com efeito anabolizante na musculatura. A análise também constatou que a substância possuía origem exógena (não foi produzida pelo corpo humano). "Ainda estamos estudando um outro nome", disse Gisliene Hesse, empresária de Rebeca.
Ontem, os advogados Breno Tannuri e André Ribeiro se pronunciaram pela primeira vez, pedindo colaboração da imprensa para a atleta conseguir escapar de condenação.
"Entendemos que o caso é complexo e envolve interesses esportivos e privados de grandes instituições e companhias. A única possibilidade de a atleta reverter esse caso será com a ajuda da mídia brasileira."
A atleta decidiu não falar do caso até que seus advogados fechem uma linha de defesa.
Rebeca também responde a outra suspeita de doping, em teste realizado em maio de 2006. Esse caso está na Corte de Arbitragem do Esporte, em Lausanne (Suíça), e deve ser julgado até o final do ano.
Caso seja condenada em duas dessas pendências, Rebeca será banida do esporte. A nadadora também pode perder as quatro medalhas (dois ouros, uma prata e um bronze) conquistadas no Pan, além de ter seus resultados anulados.
Com isso, a classificação da equipe brasileira no revezamento 4 x 100 m livre para a Olimpíada de Pequim, em 2008, também seria afetada.
De Rose afirmou ontem que ainda iria finalizar o relatório sobre o no Pan. O informe será enviado à Odepa, cujo Comitê Executivo irá se pronunciar a respeito na semana que vem.
Teriam ocorrido mais três casos de doping no Pan, não oficializados: do brasileiro Fabrício Mafra (levantamento de peso), do colombiano Libardo Niño (ciclismo) e do nicaragüense Pedro Wilder (beisebol).
A destituição das medalhas de Rebeca e Mafra não alteraria o terceiro lugar do Brasil no Pan, atrás de EUA e Cuba.


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