São Paulo, quarta-feira, 09 de dezembro de 2009

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TOSTÃO

O antiprofessor


Andrade não é excelente técnico ainda. Tem tudo para ser. Um grande título e um ótimo trabalho não bastam


ANDRADE não é apenas o treinador que entende a linguagem dos jogadores, como diz o chavão. Essa expressão é preconceituosa, como se o ex-atleta, sem diploma e sem um discurso professoral, não tivesse capacidade intelectual de comandar um grupo. Ainda mais se for negro.
Um grande título e um ótimo trabalho não são suficientes para se tornar, definitivamente, um grande treinador. Isso vale também para os jogadores e qualquer profissional. Só com o tempo, teremos certeza. Andrade ainda não é, mas tem tudo para ser um excelente técnico.
Andrade não tem nada a ver com os treinadores-professores. Andrade é o antiprofessor. Trabalha sem se notar. Ele acabou com outro chavão, o de que Leonardo Moura e Juan teriam que jogar ao lado de três zagueiros.
Assim como o Flamengo, quase todas as seleções que irão ao Mundial atuam com dois zagueiros e dois laterais. As exceções são Chile, Uruguai e Grécia, como mostrou Paulo Vinícius Coelho, no caderno especial da Folha, depois do sorteio dos grupos. Se Dunga quiser informações sobre a misteriosa Coreia do Norte, deveria ligar para o PVC.
Andrade não fez só mudanças táticas. Ensinou a Toró, Willians e Aírton como se joga futebol. Os três passavam todas as partidas correndo atrás dos adversários, muitas vezes, com faltas e pontapés. E ainda recebiam elogios.
Excelente marcador é o que se posiciona bem, joga em pé, não dá carrinho, antevê o lance, antecipa-se ao adversário e ainda inicia o contra-ataque com um bom passe. É o que fazia Andrade.
Dou importância, mas nem tanto, como deram, às contratações de Álvaro e Maldonado. Depois que o time mudou a maneira de marcar, a ausência de um ou dos dois, em vários jogos, como no último, não prejudicou a marcação.
Além de atuar no mesmo esquema tático, o Flamengo, como a seleção brasileira, prefere marcar mais atrás e atrair o adversário para contra-atacar com poucos passes em direção ao gol. Quase todos os times do mundo jogam assim. É o futebol globalizado, eficiente, que veremos na Copa.
Prefiro outro estilo, de marcação mais adiantada, por pressão e com muita troca de passes, como joga o Barcelona. Todos marcam muito e todos jogam muito. O futebol fica mais bonito, sem perder a eficiência. Dos times brasileiros, o Cruzeiro é o que mais tenta jogar dessa forma.
Detesto ver jogadores que, para se livrar da bola, cruzam para a área. E, às vezes, dá certo. Com exceção de algumas poucas partidas entre as melhores equipes da Europa, o futebol que se joga lá é o mesmo que se joga aqui.
O futebol evoluiu na preparação física, na velocidade, nas jogadas ensaiadas, nos lances aéreos e em várias outras situações. Nada disso impede que se jogue também com muita troca de passes, criatividade e fantasia. É isso que dá encanto ao futebol. O bolo, sem a cereja, fica feio, seco e amargo.
Não sou um sessentão saudosista, de achar que tudo no passado era melhor, nem um admirador do futebol moderno e do que se joga hoje na Europa. O futebol de que gosto não é o do passado nem o do presente. Gosto de bom futebol.


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