São Paulo, quinta-feira, 09 de dezembro de 2010

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Futeleaks

Telegramas diplomáticos dos EUA, revelados pelo WikiLeaks, mostram que governos de Irã, Mianmar e Jordânia usam futebol como ferramenta política

RODRIGO MATTOS
DE SÃO PAULO

Visto como pé-frio pela população, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, teria suas chances de reeleição abaladas por uma derrota da seleção de futebol.
A conclusão é de um telegrama de diplomatas norte- -americanos enviado às vésperas do pleito iraniano, em junho de 2009. O documento foi revelado pelo site WikiLeaks (wikileaks.ch/).
Correspondências exibem a influência política do futebol em países como o próprio Irã, Mianmar e Jordânia.
No caso iraniano, Ahmadinejad tem larga interferência na seleção: demite e contrata técnicos, vai a jogos, anula suspensões de atletas. Por isso, os resultados da equipe são associados ao político, segundo os americanos.
Era o caso da eleição presidencial. Dois dias antes, o Irã enfrentaria os Emirados Árabes Unidos, na capital Teerã. Uma derrota eliminaria a equipe do Mundial-2010.
"Contatos dizem que o governo iraniano se preocupa que a inquietude do público com uma derrota do "Team Meli" [apelido da seleção] pode incendiar as crescentes demonstrações de volatilidade política que paralisaram Teerã nas últimas noites", falam os diplomatas.
A presença de Ahmadinejad no jogo é discutida no telegrama. Na análise dos EUA, ele não iria porque tem a fama de pé-frio, conquistada após a seleção perder um jogo no último minuto, logo após sua entrada no estádio.
O serviço secreto iraniano investiga até os jogadores.
Mianmar é outro país em que o governo usou o futebol como ferramenta política.
Em junho de 2009, os diplomatas norte-americanos relatam que o ditador Than Shwe pensou em fazer uma oferta de US$ 1 bilhão para comprar o Manchester United, a pedido de seu neto. Mas desistiu porque isso poderia prejudicar sua imagem.
Um ano antes, Mianmar fora atingido por um ciclone que matou 80 mil pessoas.
Em vez de comprar o time inglês, o ditador criou uma liga de times de futebol, obrigando homens de negócios a fundar equipes. O campeonato era visto como uma forma de distrair a população.
Na Jordânia, em 2009, os diplomatas se mostraram preocupados com a violência entre os times Faisali, de tribos do leste do país, e Wahdat, de origem palestina.
Os torcedores do Faisali gritaram ofensas à rainha Rania, casada com o rei Abdullah II, por sua origem palestina. A partida foi suspensa e a equipe, multada.
Ao fazerem longos relatos sobre futebol, os diplomatas deixam claro não saber qual o grau da extensão de sua influência na política. Mas podem lamentar resultados.
Inimigo político dos EUA, o Irã ganhou o jogo dos Emirados Árabes, e Ahmadinejad foi reeleito por ampla maioria. Após três dias, empatou com a Coreia do Sul e ficou fora da Copa do Mundo.


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