São Paulo, domingo, 10 de janeiro de 2010

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Aos 90 anos, Monte Azul engatinha no futebol

Time da cidade de 19 mil habitantes chega pela 1ª vez à elite do Paulista

Equipe, que hoje é bancada por empresários locais, surgiu do tédio e da falta de opção de seus moradores nas tardes de domingo

LUCAS REIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Se toda a população de Monte Azul Paulista (400 km de São Paulo) for a Ribeirão Preto no próximo domingo para ver o time da cidade abrir o Campeonato Paulista contra o Corinthians, o estádio Santa Cruz ficará apenas "meio" lotado.
Noventa anos após sua fundação, o Atlético Monte Azul, atual campeão e dono da melhor campanha da história da Série A-2 do Estadual, apresenta-se para a elite do futebol. E diz que tem muito a mostrar.
Pela primeira vez na divisão mais nobre do futebol paulista, o Monte Azul -ou Atlético, como preferem os monteazulenses-, fica na menor cidade entre todas as que possuem clube em uma das quatro divisões do Estadual: 19.741 habitantes.
Aliás, quase tudo que se refere ao Atlético é módico.
A começar por seu estádio, por exemplo: acaba de ser ampliado de 12 mil para 15.200 lugares. Quase toda a população da cidade cabe nele. Sua infraestrutura também foi melhorada. Mas jogos, por enquanto, somente de dia, já que o Estádio do Atlético Monte Azul (esse é o nome oficial da arena) não tem iluminação.
Neste Paulista, a equipe só não irá atuar em casa contra Corinthians e Palmeiras -planeja arrecadar R$ 700 mil com as bilheterias em Ribeirão Preto, a 97 km de distância.
"A gente tem que ser sincero. O primeiro pensamento é não cair [para a A-2]. Não queremos cair. Precisamos mostrar a todos quem é o Atlético Monte Azul", disse o presidente do clube, Ricardo Cester Arroyo, 42, cujos avós fundaram o clube. Atualmente, a família também aparece no cenário político da cidade: seu pai é prefeito.
Sua origem pouco ambiciosa ajuda a explicar o fato de o time ter demorado 90 anos para "surgir de vez" para o futebol.
"A intensão do Atlético nunca foi chegar ao Paulistão, mas apenas disputar campeonatos de interior", disse Arroyo. O processo de profissionalização do clube, explica, começou somente nos anos 90. O time passou a disputar a quarta divisão do Paulista. Apenas nesta década chegou à Série A-3 -e conseguiu o acesso no ano passado.
Mas, se os números e sua história não retratam grandeza ou tradição, o que se vê no Atlético é uma gestão bem-sucedida.
Segundo o dirigente, o clube não tem uma única dívida. "Como a cidade é muito pequena, todas as gerações de presidentes sempre foram de pessoas sérias, conhecidas. Temos o respaldo da cidade, dos moradores", declarou Arroyo.
A estreita relação com o município e seus torcedores/habitantes vem desde sua fundação e é fundamental para seu progresso. Entediados, sem opções de entretenimento aos domingos, os moradores de Monte Azul Paulista se juntaram e fundaram o clube.
Mais do que uma diversão, a cidade abraçou o Atlético.
Quem sustenta o Monte Azul são empresários locais: uma fábrica de bombas submersas e uma indústria de laranjas -a citricultura é o carro-forte do município- são os principais patrocinadores do clube.
O dinheiro também vem de outras fontes. Todos os meses, os dirigentes apelam a um grupo de oito pessoas formado por empresários, fazendeiros, produtores de laranja e industriais, todos entusiastas do time. Para manter todos os colaboradores a par da situação do clube, uma reunião é feita semanalmente com ao menos uma pessoa de cada setor do município que esteja envolvida com o time.
"A cidade respira o time, todos se envolvem e todos ajudam. É uma união bonita", afirmou o prefeito, Cláudio José Patrício Arroyo (PMDB), que, garante, pouco colabora com o time. "O apoio que a prefeitura dá é muito pequeno, já que o Tribunal de Contas vê com restrição esse tipo de ajuda. No máximo, transporte e, às vezes, alimentação", declarou.
Arroyo, o cartola, diz que a cidade ficará feliz com uma "honrosa" 16ª posição -são 20 times. E espera o apoio da torcida. "Temos 19 mil habitantes. Nossa média de público é de 3.000 torcedores. Ou seja, 15% da população está dentro do estádio, em média, a cada jogo."


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