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Assédio sexual decola no esporte e obriga COI a agir
Estudo mostra que denúncias de abuso ocorrem com mais freqüência na elite e em relações entre técnicos e atletas
Comitê exorta seus 203 países filiados a desenvolver uma política para reprimir coações e criar código de conduta para profissionais
GUILHERME ROSEGUINI
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Desde a época em que era
atleta profissional de nado sincronizado, Margo Mountjoy
ouvia queixas de colegas de
equipe que sofreram assédio
sexual em práticas esportivas.
Nunca deu muita atenção. Mas
acabou no papel de vítima. "Era
um técnico que queria algo em
troca de um lugar que estava
me oferecendo no time principal", contou ela à Folha.
Desde então, prometeu abraçar a causa até obter uma ação
efetiva dos dirigentes contra
uma prática pouco combatida
na comunidade esportiva.
Margo conseguiu.
Hoje integrante da Comissão
Médica do Comitê Olímpico
Internacional, ela coordenou
um estudo que acaba de ser divulgado pelo órgão mais influente do esporte.
O resultado: casos de assédio
e abuso sexual são cada dia
mais comuns, prejudicam a
carreira dos atletas e precisam
ser coibidos por dirigentes.
A médica e ex-nadadora comandou um grupo de 18 pesquisadores, que incluiu psicólogos, psiquiatras, sociólogos e
até investigadores de polícia
habituados em atender competidores vítimas de abusos.
Foram analisados dados enviados pelos 203 países filiados
ao COI. Estatísticas não foram
divulgadas. Margo, todavia, revela que é possível entender
como os casos acontecem.
"A maioria das queixas ocorrem no esporte de elite, em especial na relação de pessoas
com hierarquia diferente, como entre técnicos e atletas ou
entre esportistas mais velhos e
novatos. Não existem países
que escapem desse quadro."
O Brasil já registrou casos de
esportistas que revelaram abusos de seus treinadores.
A pesquisa também aponta
que homens são mais denunciados como protagonistas de
ações de abuso do que mulheres. E traz importante sentença
sobre a relação da exposição do
corpo e os relatos de assédio.
A idéia de que em esportes
no qual atletas usam pouca
roupa existe maior possibilidade de abuso sexual é rebatida.
"Isso é mito. O que diagnosticamos são locais nos quais é
mais fácil ocorrer o assédio."
Vestiários, viagens, casa ou
carro de técnicos e festas regadas a bebida alcoólica são os lugares apontados como mais
propícios para coações.
O COI informou que seus
países filiados vão precisar desenvolver ações preventivas
contra o abuso sexual. Cada nação terá de estabelecer um código de conduta para regular a
relação entre técnicos e atletas.
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