São Paulo, sábado, 10 de fevereiro de 2007

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Assédio sexual decola no esporte e obriga COI a agir

Estudo mostra que denúncias de abuso ocorrem com mais freqüência na elite e em relações entre técnicos e atletas

Comitê exorta seus 203 países filiados a desenvolver uma política para reprimir coações e criar código de conduta para profissionais

GUILHERME ROSEGUINI
MARIANA LAJOLO

DA REPORTAGEM LOCAL Desde a época em que era atleta profissional de nado sincronizado, Margo Mountjoy ouvia queixas de colegas de equipe que sofreram assédio sexual em práticas esportivas. Nunca deu muita atenção. Mas acabou no papel de vítima. "Era um técnico que queria algo em troca de um lugar que estava me oferecendo no time principal", contou ela à Folha.
Desde então, prometeu abraçar a causa até obter uma ação efetiva dos dirigentes contra uma prática pouco combatida na comunidade esportiva.
Margo conseguiu.
Hoje integrante da Comissão Médica do Comitê Olímpico Internacional, ela coordenou um estudo que acaba de ser divulgado pelo órgão mais influente do esporte.
O resultado: casos de assédio e abuso sexual são cada dia mais comuns, prejudicam a carreira dos atletas e precisam ser coibidos por dirigentes.
A médica e ex-nadadora comandou um grupo de 18 pesquisadores, que incluiu psicólogos, psiquiatras, sociólogos e até investigadores de polícia habituados em atender competidores vítimas de abusos.
Foram analisados dados enviados pelos 203 países filiados ao COI. Estatísticas não foram divulgadas. Margo, todavia, revela que é possível entender como os casos acontecem.
"A maioria das queixas ocorrem no esporte de elite, em especial na relação de pessoas com hierarquia diferente, como entre técnicos e atletas ou entre esportistas mais velhos e novatos. Não existem países que escapem desse quadro."
O Brasil já registrou casos de esportistas que revelaram abusos de seus treinadores.
A pesquisa também aponta que homens são mais denunciados como protagonistas de ações de abuso do que mulheres. E traz importante sentença sobre a relação da exposição do corpo e os relatos de assédio.
A idéia de que em esportes no qual atletas usam pouca roupa existe maior possibilidade de abuso sexual é rebatida.
"Isso é mito. O que diagnosticamos são locais nos quais é mais fácil ocorrer o assédio."
Vestiários, viagens, casa ou carro de técnicos e festas regadas a bebida alcoólica são os lugares apontados como mais propícios para coações.
O COI informou que seus países filiados vão precisar desenvolver ações preventivas contra o abuso sexual. Cada nação terá de estabelecer um código de conduta para regular a relação entre técnicos e atletas.


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