São Paulo, quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

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TÊNIS

Herdeiros


O que explica o sucesso desta nova geração, promissora, no melhor início de ano da história do tênis brasileiro?


RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

QUANDO Gustavo Kuerten deu sinais de que pararia de ganhar, a expectativa (e a pressão) passou aos outros brasileiros em ação: Flavio Saretta, Ricardo Mello, André Sá, Alexandre Simoni e Marcos Daniel.
Todos bons meninos e ótimos jogadores, mas herdeiros da obrigação de suceder o maior jogador da história recente do tênis brasileiro. Não era pouca coisa (e restava perguntar se realmente queriam ou topavam isso). Quando começaram a jogar, crianças ainda, não viam no tênis essa obrigação. Os heróis eram de outros planetas: Ivan Lendl, Boris Becker, Stefan Edberg, Mats Wilander...
Para eles, Guga era de outro planeta, uma exceção do país que jamais seria igualado por nenhum outro, muito menos por eles.
Ao mesmo tempo em que Guga deu sinais de que parava, porém, havia outro grupo de brasileiros tenistas. Mas, crianças, já nasciam para o esporte com o desejo declarado de ser o novo Guga, sem medo. Para eles, não existiam heróis de outros planetas. Estes eram meros "fregueses do Guga", um sujeito tão gente boa e tão carismático que lhes fazia o papel de irmão mais velho.
Essa nova geração não cresceu sob a pressão da mídia especializada em busca de um novo e imediato Guga. Quando na adolescência, não teve a pressão de conviver com um "fora de série" da mesma nacionalidade.
Nenhum deles cresceu para ser coadjuvante. Um ganhava do outro, que ganhava do outro, que ganhava do outro, que ganhava do um.
Isso explica a renovada geração que presenteia o leitor com o melhor início de ano de todos os tempos no tênis brasileiro. Isso explica o foco de nossos novos meninos, Thomaz Bellucci, João "Feijão" Souza, Tiago Fernandes, Thiago Monteiro e Silas Cerqueira, entre outros.
De tanto ver Guga levantar troféu pela TV a cabo ou na internet, essa geração cresceu com herói real e sonhos ambiciosos. Por talvez não saber o quão difícil era ser tenista profissional, essa geração está se aventurando com confiança mundo afora. Ninguém disse que não era para ser assim. Que assim seja.

FATO 1
Além de Guga, só Thomaz Koch e Fernando Meligeni foram mais longe que Bellucci no ranking.

FATO 2
Feijão, que recebera convite para jogar no Sauipe, obteve a vaga por méritos ao ir às semis em Santiago.

FATO 3
Tiago Fernandes, 17, sobre namoros: "O meu amor é o tênis. E minha namorada é minha raquete".

FATO 4
Thiago Monteiro, 15, fez história ao vencer a 4ª etapa seguida no circuito sul-americano. Silas Cerqueira, 14, levou uma e o vice de duas.

reandaku@uol.com.br


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