São Paulo, segunda-feira, 10 de março de 2008

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Cuba vislumbra queda pós-Fidel

Dirigente diz que país se contentará em Pequim com posição inferior ao 11º lugar de Atenas-2004

Segundo presidente do comitê olímpico, sistema esportivo sofre reforma, mas pensamento de líder comunista ainda é influente

ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Três semanas após a renúncia de Fidel Castro, Cuba já convive com expectativa de queda no quadro de medalhas na Olimpíada de Pequim.
Segundo José Ramón Fernández, presidente do Comitê Olímpico Cubano, o país irá se contentar com posição abaixo da obtida em Atenas-2004.
"Cuba aspira manter-se no mesmo nível dos Jogos, ou seja, entre os 12 primeiros lugares no quadro de medalhas", afirmou à Folha o dirigente.
Há quatro anos, na Grécia, a delegação caribenha ficou em 11º lugar, duas posições abaixo da obtida em Sydney-2000.
Parece muito para uma ilha de espaço exíguo -caberiam quase 77 Cubas no território brasileiro-, mas pouco para um país que se acostumou a freqüentar o pódio olímpico.
O país já foi o quarto colocado na classificação dos Jogos de Moscou-1980, posição facilitada pelo boicote de várias potências, incluindo os EUA.
No entanto, em Barcelona-1992, com todas as delegações, os cubanos terminaram em uma honrosa quinta posição.
Fernández avalia como muito boa a situação do esporte local herdada da era Fidel -o líder cubano ascendeu ao poder há quase 50 anos. No entanto, tal estrutura passa por um processo de revisão e recuperação. E agora, a ilha não tem mais Fidel como principal governante.
"Existe um desenvolvimento importante, de maneira integral, com a reestruturação de todo o sistema de esporte de alto rendimento, que foi remodelado ou está em processo de remodelação, tanto de suas entidades básicas como dos locais de treinamento", disse o presidente do comitê olímpico local.
É o caso do boxe, esporte olímpico cubano por excelência. Em Atenas, os pugilistas da ilha foram responsáveis por cinco dos nove ouros do país. Em Pequim, por várias razões, que vão de deserções a aposentadorias, passando por suspensões, nenhum dos campeões olímpicos estará no ringue.
Agora, com delegação renovada e sem vaga assegurada na China, os atletas disputarão os Pré-Olímpicos continentais, neste mês e no próximo.
Mas o boxe não é aposta única de Cuba. Com recursos limitados -o valor do orçamento do comitê não é divulgado-, o país mantém estratégia de valorizar esportes individuais que geram mais medalhas.
"Como dado adicional, posso afirmar que entre cinco esportes são repartidos 48,6% dos títulos postos em disputa na Olimpíada", disse Fernández.
O país espera medalha só em beisebol e vôlei feminino, nos esportes coletivos. Nos individuais, há possibilidades, além do boxe, em atletismo, canoagem, ciclismo, saltos ornamentais, judô, levantamento de peso, lutas e taekwondo.
E, apesar da ausência de Fidel, o ex-presidente ainda é figura de destaque no comitê.
"Sempre estará presente o pensamento de Fidel, seus ensinamentos e seu exemplo, que sem dúvida têm sido o principal artífice do desenvolvimento do esporte em nosso país", afirmou o comandante do comitê olímpico do país.


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