São Paulo, terça-feira, 10 de maio de 2011

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Larri usa abraço e surfe com Bellucci

TÊNIS
Treinador aposta em carinho para tirar "nós mentais" e afirma que pupilo não é um "novo Guga"


LUISA BELCHIOR
DE MADRI

Há três anos, Larri Passos buscava um "novo Guga".
Não exatamente uma cópia do ex-número um do mundo e tricampeão de Roland Garros, mas alguém na faixa dos 16 anos com disposição para colocar novamente o Brasil entre os dez melhores jogadores no ranking da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais).
Quando começou a treinar Thomaz Bellucci, no fim do ano passado, o tenista já tinha 23 anos e altos e baixos no circuito. Larri sabia que era uma "batata quente".
Mas também que havia encontrado o que procurava havia tanto tempo.
"Dizem que sou bruxo, mas aconteceu exatamente o que eu previ no fim do ano passado. Sei que peguei uma batata quente, mas agora ela está esfriando", disse o técnico, em conversa com a Folha, logo após a derrota de Bellucci para o sérvio Novak Djokovic na semifinal do Masters 1.000 de Madri.
Para isso, foram necessárias mudanças técnicas, como a do saque do brasileiro -que passou a ser mais aberto e foi uma de suas credenciais para a grande campanha de Madri- e, principalmente, emocionais.
Enquanto Bellucci devorava um prato de massa ao seu lado, Larri revelou como foi a transformação emocional do tenista, que, acredita o técnico, o levou a peitar os top 10 e ganhar o respeito deles.
A mudança incluiu sessões familiares, abraços, aulas de surfe e golfe e conversas sobre energia.
Por trás, houve também um forte trabalho psicológico que envolveu toda a família de Bellucci. Larri fuçou a infância e a adolescência do tenista, com a ajuda da mãe do jogador, para encontrar seus pontos fracos.
"Fui jogar golfe com ele e detectei muitos pontos vulneráveis na parte mental, pequenos nós que meninos de 15, 16 anos ainda não têm, mas um de 23 sim", disse.
"A estratégia foi ser mais carinhoso, dar abraços, e também unir a família dele.
Sempre digo o quão bacana é a família dele, a mãe, a irmã, o pai, um cara que apostou nele. Para ele saber que tem uma torcida por trás dele. Hoje, tem um plano mental muito bom", completou.
De fato, o tenista mostrou sobriedade nos jogos e fora deles na semana em Madri.
Apenas na última partida, contra Djokovic, atleta sensação da temporada, e na quadra principal do torneio, o brasileiro apresentou pequenas alterações de humor.
Com a mente do pupilo no lugar, o técnico focou no que achava ser um dos pontos débeis de Bellucci: o saque.
Contrariando o próprio jogador, propôs que ele abandonasse seu estilo de sacar, batendo na bola de maneira mais plana, e abrisse a raquete, provocando um efeito com o qual o brasileiro não estava acostumado.
"Ele acreditou, e o saque aberto na direita do adversário já está virando uma marca registrada dele. Hoje, faz menos duplas faltas e está mais relaxado na quadra, mais solto, movendo mais o tronco", afirmou Larri.
Para alcançar esse relaxamento, o técnico optou por incentivar Bellucci a fazer atividades paralelas ao tênis.
"Ele ganhou uma prancha e já está surfando, o que nunca tinha feito. Acho que o jogador não pode ficar bitolado em tênis, tem que fazer coisas alternativas, falar besteira, fazer piada. Depois do treino, não falamos de tênis. Escutamos música, discutimos política, livros. Ele está mais relaxado e, com isso, mais solto na quadra."
Parecido, por tanto, com Gustavo Kuerten?
Nem tanto. Apesar de ver muita semelhança nos dois, principalmente na agressividade de jogo, na velocidade de pensamento e até em pontos fracos, como a excitação em excesso, Larri nega com veemência o rótulo de "novo Guga" a Bellucci.
"O Guga será eterno. Mas hoje olho para o Thomaz e já vejo um vencedor."

FOLHA.com
Leia a integra da entrevista com o técnico Larri Passos
www.folha.com.br/es913336


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