|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
COPA 2006
Na maior crise já criada por um presidente na seleção brasileira, Ronaldo
contra-ataca Lula, recebe fax com explicações e ganha apoio de colegas
Artilharia pesada
EDUARDO ARRUDA
PAULO COBOS
RICARDO PERRONE
SÉRGIO RANGEL
ENVIADOS ESPECIAIS A KÖNIGSTEIN
Talvez nunca tenha havido
um presidente que goste tanto
de futebol como Lula. Certeza
se tem, desde ontem, que a crise gerada por ele no time nacional é a maior já criada por um
chefe do Executivo.
A videoconferência do petista com a seleção que está concentrada na Alemanha, anteontem, fez Ronaldo disparar contra ele e dividiu jogadores e cartolas da CBF, tornando fichinha a forçada de barra do presidente Médici para a convocação de Dario em 1970.
O estopim de tudo foi a pergunta que Lula fez ao técnico
Carlos Alberto Parreira se Ronaldo, chamado de presidente
pelos companheiros de seleção,
estava gordo mesmo. O atacante, que quebrou ontem um silêncio que vinha desde domingo, contra-atacou.
"Assim como dizem que eu
estou gordo, dizem que o presidente bebe para caramba. Tanto é mentira que ele bebe para
caramba, como é mentira que
eu estou gordo", disse, em Königstein, o atacante, que no começo da gestão Lula se colocou
à disposição para participar de
campanhas do governo, como o
programa Fome Zero.
O presidente mandou um fax
se explicando para Ronaldo,
que, no meio do seu inferno astral de problemas físicos, encontrou tempo para mostrar o
mesmo descontentamento que
outros jogadores com a videoconferência, cuja realização foi
antecipada pela Folha.
"Não estava na videoconferência. Estava no quarto por
causa da febre e não participei,
mas soube pelos companheiros
que estava permanentemente
proibido qualquer pergunta ao
presidente", disse Ronaldo.
"Não sei quem proibiu."
O atacante não foi o único a
dizer que os atletas não puderam indagar o presidente. "Pena que a gente não pode fazer
pergunta para ele. Tem muita
gente que queria fazer, como o
Rosan [Luiz, o fisioterapeuta
da seleção]", disse o lateral Roberto Carlos, que defendeu o
amigo das acusações de excesso de peso. "O que o Ronaldo
tem é muito músculo."
"Não sei como foi porque
quando cheguei já tinha começado. Devem ter orientado pra
não perguntar, porque ninguém perguntou", falou Robinho, o caçula do elenco.
O chefe da delegação brasileira nega que tenha havido veto às questões dos jogadores.
"Eles não perguntaram porque não tiveram oportunidade.
Estão me dizendo aqui que o
Roberto Carlos falou. Não sei
de nenhuma orientação, não
sei de nada, quem pode responder é o Rodrigo Paiva [assessor
de imprensa]. Se o Roberto
Carlos falou que foi orientado a
não falar, ele tem que dizer
quem o orientou", disse Marco
Polo Del Nero, que também é
presidente da Federação Paulista de Futebol.
Paiva também disse que os
jogadores estavam liberados
para questionar Lula.
O incidente com a videoconferência ocorreu no momento
de maior aproximação entre a
CBF e o governo, relação que
prometia ser conturbada no
início da gestão de Lula, mas
que acabou em lua-de-mel.
O presidente se engajou na
campanha para o Brasil receber a Copa de 2014, antigo sonho e menina dos olhos de Ricardo Teixeira. E também
apoiou a Timemania, loteria
que tem como meta saldar dívidas dos clubes com o governo.
Agora o governo atua na
aprovação de uma lei para proteger clubes formadores nas
transferências de atletas.
A aproximação reverteu o
quadro que Teixeira encarou
após a Copa-98, com as CPIs
que investigaram o futebol.
Texto Anterior: Painel FC na Copa Próximo Texto: Em fax a Ronaldo, Lula tenta apagar atrito com seleção Índice
|