São Paulo, sábado, 10 de junho de 2006

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COPA 2006

Na maior crise já criada por um presidente na seleção brasileira, Ronaldo contra-ataca Lula, recebe fax com explicações e ganha apoio de colegas

Artilharia pesada

EDUARDO ARRUDA
PAULO COBOS
RICARDO PERRONE
SÉRGIO RANGEL

ENVIADOS ESPECIAIS A KÖNIGSTEIN

Talvez nunca tenha havido um presidente que goste tanto de futebol como Lula. Certeza se tem, desde ontem, que a crise gerada por ele no time nacional é a maior já criada por um chefe do Executivo.
A videoconferência do petista com a seleção que está concentrada na Alemanha, anteontem, fez Ronaldo disparar contra ele e dividiu jogadores e cartolas da CBF, tornando fichinha a forçada de barra do presidente Médici para a convocação de Dario em 1970.
O estopim de tudo foi a pergunta que Lula fez ao técnico Carlos Alberto Parreira se Ronaldo, chamado de presidente pelos companheiros de seleção, estava gordo mesmo. O atacante, que quebrou ontem um silêncio que vinha desde domingo, contra-atacou.
"Assim como dizem que eu estou gordo, dizem que o presidente bebe para caramba. Tanto é mentira que ele bebe para caramba, como é mentira que eu estou gordo", disse, em Königstein, o atacante, que no começo da gestão Lula se colocou à disposição para participar de campanhas do governo, como o programa Fome Zero.
O presidente mandou um fax se explicando para Ronaldo, que, no meio do seu inferno astral de problemas físicos, encontrou tempo para mostrar o mesmo descontentamento que outros jogadores com a videoconferência, cuja realização foi antecipada pela Folha.
"Não estava na videoconferência. Estava no quarto por causa da febre e não participei, mas soube pelos companheiros que estava permanentemente proibido qualquer pergunta ao presidente", disse Ronaldo. "Não sei quem proibiu."
O atacante não foi o único a dizer que os atletas não puderam indagar o presidente. "Pena que a gente não pode fazer pergunta para ele. Tem muita gente que queria fazer, como o Rosan [Luiz, o fisioterapeuta da seleção]", disse o lateral Roberto Carlos, que defendeu o amigo das acusações de excesso de peso. "O que o Ronaldo tem é muito músculo."
"Não sei como foi porque quando cheguei já tinha começado. Devem ter orientado pra não perguntar, porque ninguém perguntou", falou Robinho, o caçula do elenco.
O chefe da delegação brasileira nega que tenha havido veto às questões dos jogadores.
"Eles não perguntaram porque não tiveram oportunidade. Estão me dizendo aqui que o Roberto Carlos falou. Não sei de nenhuma orientação, não sei de nada, quem pode responder é o Rodrigo Paiva [assessor de imprensa]. Se o Roberto Carlos falou que foi orientado a não falar, ele tem que dizer quem o orientou", disse Marco Polo Del Nero, que também é presidente da Federação Paulista de Futebol.
Paiva também disse que os jogadores estavam liberados para questionar Lula.
O incidente com a videoconferência ocorreu no momento de maior aproximação entre a CBF e o governo, relação que prometia ser conturbada no início da gestão de Lula, mas que acabou em lua-de-mel.
O presidente se engajou na campanha para o Brasil receber a Copa de 2014, antigo sonho e menina dos olhos de Ricardo Teixeira. E também apoiou a Timemania, loteria que tem como meta saldar dívidas dos clubes com o governo.
Agora o governo atua na aprovação de uma lei para proteger clubes formadores nas transferências de atletas.
A aproximação reverteu o quadro que Teixeira encarou após a Copa-98, com as CPIs que investigaram o futebol.


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