São Paulo, domingo, 10 de junho de 2007

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Scolari prega paz a técnicos de Israel e da Palestina

Em Jerusalém, treinador dá palestra sobre o uso do futebol para fins pacíficos, a convite do Instituto Shimon Peres

Pentacampeão vai usar rua paulistana como exemplo de convívio entre judeus e árabes e pedirá a colegas que evitem falar em guerra

RICARDO PERRONE
DO PAINEL FC

Israelenses e palestinos conhecerão a partir de amanhã um Luiz Felipe Scolari diferente daquele que ficou famoso por travar batalhas à beira do gramado ao dirigir seus times.
Convidado pelo Instituto Shimon Peres, ele dará uma palestra para treinadores de Israel e da Palestina, em Jerusalém, sobre o tema "Futebol como Instrumento de Paz".
Scolari já preparou a sua apresentação e riscou dela o linguajar bélico que tanto usou para motivar seus atletas. Em português, com um tradutor, recheará seu discurso de palavras como carinho e amizade.
Sem conhecer a fundo o conflito na região, pregará a união. E vai usar como exemplo cenas que viu na principal rua de comércio popular de São Paulo. "Vou contar a eles que vi judeus e árabes vivendo em harmonia na rua 25 de Março. Vejo que isso é possível", conta o treinador da seleção de Portugal.
Também dirá para os treinadores evitarem palavras como batalha em suas palestras ao se referir às partidas. "Não queremos que os jogos sejam batalhas. Em vez de guerra, podemos dizer que o jogo vai ser encardido. Hoje faço isso", diz.
A frase soa estranha vinda do treinador que esbravejava no confronto entre Portugal x Holanda pelas quartas-de-final da Copa da Alemanha e que já tem lugar assegurado na história dos Mundiais. Não pela beleza da partida, mas pela tensão e pelas jogadas violentas.
"Se perguntarem, vou falar do lado bonito daquele jogo. Não que só teve confusão."
Scolari conta ter passado ao longo dos anos por uma transformação. E que não fala mais em batalha aos atletas. Lembra de uma gafe cometida quando atuava no Kuait.
"Lá, me referi a uma situação [sobre um jogo], e não me deixaram fazer analogia com guerra porque eles passaram por guerra de verdade."
O episódio aconteceu entre 1989 e 1990. Na ocasião, Scolari decidiu que evitaria "guerra" e expressões similares ao falar de futebol. Diz que demorou anos para conseguir isso.
No meio do caminho, envolveu-se nas partidas quase como se estivesse no campo de batalha, brigou com colega de profissão [Vanderlei Luxemburgo], com jornalista. E, na maior conquista de sua carreira, a Copa de 2002, inspirou-se num livro com título belicoso.
Leu a "Arte da Guerra", do filósofo Sun Tsu. Retirou da obra frases para motivar os jogadores da seleção brasileira. "Hoje estou mais experiente, não preciso usar algumas alternativas que usava antes. Mas não me arrependo, eram situações para motivar os jogadores."
Admite, porém, alguns exageros: "Às vezes a gente extrapola, faz algo errado, deixa se levar por um ambiente hostil".
Não é sobre esses momentos que ele quer falar em Israel. "Vou dizer que [também no futebol] amizade e carinho podem nos levar aos objetivos."
Se levarem em conta só o Scolari da palestra, israelenses e palestinos compreenderão o rótulo de "Família Scolari" dado aos times do técnico. E não entenderão por que ele ganhou apelido de "Sargentão". "Não tenho mais saco para discutir isso", emenda ele, ao ser questionado sobre a alcunha.


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