São Paulo, quinta-feira, 10 de junho de 2010

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PAULO VINICIUS COELHO

O peso da idade


Os craques estão indo embora mais cedo. O Brasil ainda é o berço, mas não é mais a escola


O BRASIL TEM o time mais velho desta Copa do Mundo. O grupo inteiro possui média de 29 anos. Entre as seleções campeãs mundiais, a mais idosa até hoje é a Itália de 2006: 29,5.
A seleção de Dunga é mais jovem do que outras campeãs do mundo se forem considerados só os titulares. Nesse caso, os 28,8 anos do Brasil-2010 perdem para os 29,0 da Itália-2006 e para os 30,4 do Brasil-1962. Mesmo assim, Dunga dirigirá o terceiro campeão mais idoso, se chegar lá.
O peso da idade já foi maior, e a seleção não vai deixar de levantar a taça por um preconceito etário. Os campeões mais jovens, como titulares, eram da Argentina, em 1978: 25,2 anos. O grupo inteiro vencedor com menos idade era o Brasil-1970: 24,7.
Nos tempos recentes, a experiência pesa mais. Três dos últimos quatro campeões do mundo tinham média superior a 28 anos em seu time titular. Quanto mais desgaste têm os jovens astros da temporada europeia, mais importância tem a experiência. Essa é uma das interpretações possíveis.
Só que o Brasil tem também a sua seleção mais velha em comparação com todas as suas 18 participações em Copas. Dunga convocou o que julgava haver de melhor, e o país só reclamou das ausências de Neymar, 18 anos, Paulo Henrique Ganso, 20, e Ronaldinho Gaúcho, 30. Diga a verdade: não há mesmo muito mais talento jovem além dos dois adolescentes citados.
A drástica conclusão é que o Brasil está revelando menos. Não fosse isso, a busca por experiência faria Dunga levar um grupo mais recheado de jogadores que disputaram Copas passadas. Mas, na África, só há cinco seleções com mais estreantes em Mundiais do que o Brasil, que tem 14.
Em 1987, ano da estreia de Dunga na seleção, a revista "France Football" fez uma capa com foto do lateral Josimar e com uma pergunta aflitiva: "Qual é o seu futuro, Brasil?". A reportagem questionava se o país ainda era um celeiro de craques.
Como, sete anos mais tarde, o Brasil iniciou uma série de três Copas em que foi finalista, a aflição perdeu o sentido. Diferentemente daquele tempo, os craques que brotam cá vão embora mais cedo. O Brasil ainda é o berço, mas já não é a escola. Talvez por isso a seleção de hoje seja mais alta, mais forte, mais velha. Talvez por isso ela dê a impressão de ser a mais europeia das seleções brasileiras.

pvc@uol.com.br


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