São Paulo, segunda-feira, 10 de julho de 2006

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Itália tetracampeã

Unida pela maior crise de seu futebol, Azurra derrota França nos pênaltis após empate em 1 a 1, consagra defesa e encerra jejum de 24 anos

FÁBIO VICTOR
GUILHERME ROSEGUINI
PAULO COBOS
RICARDO PERRONE
RODRIGO BUENO

ENVIADOS ESPECIAIS A BERLIM

Em uma das finais mais dramáticas da história recente das Copas do Mundo, a Itália venceu a França por 5 a 3 nos pênaltis, ontem, em Berlim, depois de um empate em 1 a 1 no tempo normal e na prorrogação, e conquistou o tetracampeonato mundial de futebol.
O épico da conquista italiana, que encerra um jejum de 24 anos sem títulos e acontece em meio a um enorme esquema de corrupção em seu campeonato nacional, teve de ser dividido com um herói derrotado, Zinedine Zidane. O meia francês, autor do gol de seu time numa cobrança de pênalti antológica no primeiro tempo, foi expulso na segunda etapa da prorrogação por dar uma escandalosa cabeçada no peito do zagueiro italiano Materazzi. Era, como já se sabia, o último jogo da carreira de Zidane, o maior jogador que a França já produziu, líder do time campeão em 1998.
Além de Materazzi, a cabeçada que ajudou a definir o campeão atingiu por tabela, e de forma incrivelmente simbólica, o futebol técnico. E não só por ter tirado de campo aquele que era o retrato do estilo, mas porque o título da Itália coroa uma seleção cuja excelência está na defesa (sofreu só dois gols na Copa), numa edição marcada pelo baixo número de gols (a segunda menor média da história) e pela violência (recorde de cartões vermelhos e amarelos).
Até o herói do título, Materazzi, que fez de cabeça o gol da Itália e anotou seu pênalti, tem sua imagem colada à pobreza técnica, conhecido em seu país como um atleta tosco.
O tetra italiano, que se soma às conquistas de 34, 38 e 82, fez o país ultrapassar a Alemanha e encostar no Brasil em número de troféus e pôs fim a um trauma da Squadra Azzurra em jogos com mais de 90 minutos.
Nos últimos quatro Mundiais, o time fora derrotado após empatar seus jogos no tempo normal, incluindo a final de 1994 contra o Brasil. A coincidência histórica: naquela disputa, a seleção brasileira encerrou, também nos pênaltis, uma seca igual em número de anos à terminada ontem pela Itália.
Em 1990, as cobranças diretas tiraram o time na semifinal, contra a Argentina. Em 1998, a algoz dos pênaltis foi a França, nas quartas-de-final. Em 2002, a queda foi na prorrogação, contra a Coréia do Sul, nas oitavas. Agora, a vitória sobre a Alemanha na prorrogação, na semifinal, antecipou a mudança.
Após um primeiro tempo eletrizante e uma etapa final morna, o jogo foi para os 30 minutos extras. A França terminou a partida sem seus principais jogadores. Além da expulsão de Zidane, Vieira havia saído machucado, e Henry, esgotado, foi substituído na prorrogação.
Na disputa de pênaltis, Pirlo fez 1 a 0, Wiltord fez 1 a 1. Materazzi fez 2 a 1, Trezeguet desperdiçou, chutando no travessão. De Rossi fez 3 a 1, Abidal fez 3 a 2. Del Piero fez 4 a 2, Sagnol diminuiu. Até que Grosso, autor de gol decisivo no triunfo sobre a Alemanha, fez o dele e decretou os 5 a 3 do título.
Como Cafu em 2002, o zagueiro e capitão Fabio Cannavaro quebrou o protocolo e subiu no topo do púlpito para erguer a taça, enquanto os seus colegas faziam uma algazarra de alegria infantil no gramado do Estádio Olímpico.
Queiram ou não os italianos, são imagens que a história há de dividir com outra cena. Faltava pouco para tudo terminar, quando Materazzi se enroscou com Zidane na área italiana. Eles foram andando em direção ao meio-campo batendo boca. De repente, a cabeçada. O juiz não viu, mas o quarto árbitro avisou, e o meia foi expulso.
Tirou a braçadeira de capitão e caminhou para o vestiário olhando para o chão. Passou ao lado da Taça Fifa antes de entrar no túnel. Não apareceu mais em campo, e possivelmente não aparecerá mais.


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