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Itália tetracampeã
Unida pela maior crise de seu futebol, Azurra derrota França nos pênaltis após empate em 1 a 1, consagra defesa e encerra jejum de 24 anos
FÁBIO VICTOR
GUILHERME ROSEGUINI
PAULO COBOS
RICARDO PERRONE
RODRIGO BUENO
ENVIADOS ESPECIAIS A BERLIM
Em uma das finais mais dramáticas da história recente das
Copas do Mundo, a Itália venceu a França por 5 a 3 nos pênaltis, ontem, em Berlim, depois de um empate em 1 a 1 no
tempo normal e na prorrogação, e conquistou o tetracampeonato mundial de futebol.
O épico da conquista italiana,
que encerra um jejum de 24
anos sem títulos e acontece em
meio a um enorme esquema de
corrupção em seu campeonato
nacional, teve de ser dividido
com um herói derrotado, Zinedine Zidane. O meia francês,
autor do gol de seu time numa
cobrança de pênalti antológica
no primeiro tempo, foi expulso
na segunda etapa da prorrogação por dar uma escandalosa
cabeçada no peito do zagueiro
italiano Materazzi. Era, como
já se sabia, o último jogo da carreira de Zidane, o maior jogador que a França já produziu, líder do time campeão em 1998.
Além de Materazzi, a cabeçada que ajudou a definir o campeão atingiu por tabela, e de
forma incrivelmente simbólica,
o futebol técnico. E não só por
ter tirado de campo aquele que
era o retrato do estilo, mas porque o título da Itália coroa uma
seleção cuja excelência está na
defesa (sofreu só dois gols na
Copa), numa edição marcada
pelo baixo número de gols (a
segunda menor média da história) e pela violência (recorde de
cartões vermelhos e amarelos).
Até o herói do título, Materazzi, que fez de cabeça o gol da
Itália e anotou seu pênalti, tem
sua imagem colada à pobreza
técnica, conhecido em seu país
como um atleta tosco.
O tetra italiano, que se soma
às conquistas de 34, 38 e 82, fez
o país ultrapassar a Alemanha e
encostar no Brasil em número
de troféus e pôs fim a um trauma da Squadra Azzurra em jogos com mais de 90 minutos.
Nos últimos quatro Mundiais, o time fora derrotado
após empatar seus jogos no
tempo normal, incluindo a final
de 1994 contra o Brasil. A coincidência histórica: naquela disputa, a seleção brasileira encerrou, também nos pênaltis, uma
seca igual em número de anos à
terminada ontem pela Itália.
Em 1990, as cobranças diretas tiraram o time na semifinal,
contra a Argentina. Em 1998, a
algoz dos pênaltis foi a França,
nas quartas-de-final. Em 2002,
a queda foi na prorrogação,
contra a Coréia do Sul, nas oitavas. Agora, a vitória sobre a Alemanha na prorrogação, na semifinal, antecipou a mudança.
Após um primeiro tempo eletrizante e uma etapa final morna, o jogo foi para os 30 minutos extras. A França terminou a
partida sem seus principais jogadores. Além da expulsão de
Zidane, Vieira havia saído machucado, e Henry, esgotado, foi
substituído na prorrogação.
Na disputa de pênaltis, Pirlo
fez 1 a 0, Wiltord fez 1 a 1. Materazzi fez 2 a 1, Trezeguet desperdiçou, chutando no travessão. De Rossi fez 3 a 1, Abidal fez
3 a 2. Del Piero fez 4 a 2, Sagnol
diminuiu. Até que Grosso, autor de gol decisivo no triunfo
sobre a Alemanha, fez o dele e
decretou os 5 a 3 do título.
Como Cafu em 2002, o zagueiro e capitão Fabio Cannavaro quebrou o protocolo e subiu no topo do púlpito para erguer a taça, enquanto os seus
colegas faziam uma algazarra
de alegria infantil no gramado
do Estádio Olímpico.
Queiram ou não os italianos,
são imagens que a história há
de dividir com outra cena. Faltava pouco para tudo terminar,
quando Materazzi se enroscou
com Zidane na área italiana.
Eles foram andando em direção ao meio-campo batendo
boca. De repente, a cabeçada. O
juiz não viu, mas o quarto árbitro avisou, e o meia foi expulso.
Tirou a braçadeira de capitão
e caminhou para o vestiário
olhando para o chão. Passou ao
lado da Taça Fifa antes de entrar no túnel. Não apareceu
mais em campo, e possivelmente não aparecerá mais.
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